terça-feira, 31 de maio de 2011

Grindhouse - Planet Terror & Death Proof

Grindhouse é um projeto dos diretores Robert Rodriguez e Quentin Tarantino. Foi feito como um tributo aos filmes de terror trash dos anos 70, e como tal, reúne vários elementos típicos desse período, desde as imagens granuladas e cheias de riscos, os riscos na tela, as cores fortes, até as características dos roteiros, efeitos especiais baratos, e toda a tosqueira genuína dos maiores clássicos do "Cinema em casa". Só que tudo feito com toda a qualidade que esses dois sabem usar. São dois filmes, Planet Terror e Grindhouse. Entre eles, são exibidos trailers de filmes fictícios, que originalmente não deveriam existir. Mas um deles, Machete, fez tanto sucesso que acabou sendo feito (e eu o comentarei aqui também). Infelizmente, fora dos EUA os dois filmes foram lançados separadamente, o que acabou por comprometer um pouco o conceito, e algum desavisado poderia assistir aos filmes como se fossem um trabalho sério, e não uma homenagem, feito pra ser assim. Mas enfim, os comentários.


Em Planet Terror, a idéia é prestar um tributo aos filmes de mortos-vivos, criaturas canibais, e outras coisas do gênero. O importante aqui não é o roteiro, não são lições de moral baratas, foilosofia, ou nada disso: É só violência gratuita, e entretenimento regado a muito humor negro. E o melhor filme de Robert Rodriguez.

Sobre o roteiro: Definitivamente bobo, cheio de furos e despretensioso. Isso não é uma crítica, é um elogio, porque o objetivo é justamente citar o que caracterizava o gênero "terror" na década de 70. O filme é carregado de elementos desse período, temperados com características de Rodriguez. Então temos sangue, criaturas mutantes mortos-vivos que se alimentam de carne humana, um atirador que nunca erra, sangue, um restaurante beira-de-estrada quase vazio, uma estrada, muito sangue, mulheres sexys (pra não dizer outra coisa), um grupo de sobreviventes reduzido, que se tornará ainda mais reduzido no decorrer do filme, muito sangue, uma metralhadora de grosso calibre usada como prótese de perna, e antes que eu me esqueça, toneladas de sangue. Mas garanto que é um filme muito divertido. Destaque para a cena de quando El Wray recebe permssão para usar armas, para o molho de churrasco de J.T., e atenção especial para a mais tosca cena já imaginada por alguém, na participação especial de Quentin Tarantino como ator. Essa cena vai ser lembrada por muito tempo como um clássico.

O que esse filme tem de especial? Tem um Robert Rodriguez completamente sem freios. Tudo que veio a mente dele foi parar no filme, sem censuras, sem reserva, sem pensar em limites. Então, temos aqui um circo do absurdo. Aliás, absurdo é a melhor palavra para definir esse filme. Fora isso, embora seja redundante dizer, mas o clima de cinema B trash foi captado com perfeição, com direito até a um frame pedindo desculpas por um rolo no meio da trama, numa cena bem sugestiva. O filme nos transporta facilmente para a época, e contextualizando a obra, vira coisa de gênio. TOP.


Ficha técnica


Elenco: Rose McGowan - Cherry Darling
Fred Rodriguez - El Wray
Josh Brolin - Dr. William Block
Marley Shelton - Dra. Dakota Block
Jeff Fahey - J. T. Hague
Michael Biehn - Xerife Hague
Bruce Willis - Lt. Muldoon
Fergie - Tammy Visan
Quentin Tarantino - Soldado
Direção: Robert Rodriguez
Produção: Robert Rodriguez, Quentin Tarantino & Elizabeth Avellan
Roteiro: Robert Rodriguez
Trilha sonora: Graeme Revell
2007 - EUA - 106 minutos - Terror

Já em Death Proof (À prova de morte), o elemento "sobrenatural" não está presente, e é substituído por um psicopata. O resto continua aqui.

Sobre o roteiro: O dublê Stuntman Mike (sim, esse é o seu nome) tem um carro que pode cair do abismo, ser atropelado por um trem, esmagado por uma carreta, que supostamente o deixaria intacto, por ser "à prova de morte". E seu carro é usado como uma arma para matar jovens e belas garotas. Aqui, o tributo é prestado aos filmes com um assassino cruel e, principalmente, sem motivos. Também vários elementos estão aqui como homenagem ao cine trash. Cidadezinha do sul dos EUA, bar beira-de-estrada, estrada, garotas bonitas, provocantes e ingênuas (mas não no sentido sexual), vítimas clássicas desse tipo de vilão. Mas nem tudo é tão fácil para quem quer matar por diversão, e nem todas as garotas são tão fáceis de se matar. O filme tem um roteiro assustadoramente simples, perfeito para realçar as características da obra, ao invés da obra como um todo. Funcionou bem demais.

O que esse filme tem de especial? O grande trunfo de Death Proof é conseguir usar toneladas de clichês para criar algo original. O que se segue no fim do filme é totalmente inesperado se estivermos acompanhando a história tão previsível. Além de, é claro, também nos transportar para a era de ouro do cinema do lixo. Destaque para a cena onde a dublê na vida real Zöe Bell fica pra fora do carro em movimento, para os diálogos de Stuntman Mike no bar, e, claro, para as porradas da última cena. Pérola, clássico.


Ficha técnica


Elenco: Kurt Russel - Stuntman Mike
Sydney Tamiia Poitier - DJ Jungle Julia
Rosario Dawson - Abernathy
Vanessa Ferlito - Arlene / Butterfly
Rose McGowan - Pam
Tracie Thoms - Kim
Mary Elizabeth Winstead - Lee Montgomery
Zöe Bell - Zöe Bell
Direção: Quentin Tarantino
Produção: Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Elizabeth Avellan & Erica Steinberg
Roteiro: Quentin Tarantino
Trilha sonora: Robert Rodriguez
2007 - EUA - 114 minutos - Terror

E, nesse caso especial, deixarei essa seção para o fim, por servir para ambos.

Quando e com quem assistir a esses filmes? Quando quiser puro entretenimento com filmes de "terrir", mas que foram feitos para serem exatamente o que são, sem pretensão nenhuma. É pura diversão, mas um humor politicamente incorreto, já que envolve praticamente só violência gratuita e absurdamente exagerada. É basicamente o que esses diretores sempre fizeram, mas aqui é exagero puro, pelo simples exagero. Eu recomendo muito.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Little Miss Sunshine (Pequena Miss Sunshine)

Quando vi esse filme pela 1ª vez, assisti fazendo outras coisas, desconcentrado, e acabei achando meio bobo, não vi motivo para o filme ser tão badalado. Então, conversando com o Mundin, da minha banda, resolvi assistir ao filme de novo. E aí sim pude perceber muitos outros elementos que eu deixei passar da outra vez. O filme realmente merece a badalação.

Sobre o roteiro: Mais uma vez, essa não é a principal atração do filme. E justamente por ter ficado muito preso ao roteiro é que eu não consegui perceber outras coisas no filme. É a história de uma menina que quer participar de um concurso, o "Pequena Miss Sunshine", só que pra chegar lá, a família "se mete em altas confusões", como diria o narrador da Sessão da Tarde. Então, vou pular essa parte.

O que esse filme tem de especial? O filme é ótimo por causa dos elementos que os personagens carregam. Começando pela menininha, Olive, que não tem exatamente o perfil de uma Miss: usa um óculos enorme, é gordinha e desajeitada. Seu irmão Dwayne é um adolescente revoltado que tem vergonha de sua família, e, pra piorar as coisas, está fazendo um voto de silêncio até atingir seu objetivo de entrar para a força aérea. A mãe espera sinceridade de todos da família, mas esconde seu vício em cigarros. O avô é um velho tarado que foi expulso de um asilo por uso de drogas. O mais pitoresco é seu pai, que tenta vender um programa de auto-ajuda para quem quer ser um vencedor, mas é um autêntico perdedor. E o mais interessante é seu tio, que acredita ser um brilhante acadêmico que tentou suicídio após uma série de eventos desencadeados por uma desilusão amorosa por outro homem. Ele é responsável por alguns dos mais interessantes diálogos reflexivos do filme. Aliás, o filme é recheado de elementos que desafiam a legitimidade do modo de vida americano, exposto como disponível para qualquer um, mas na realidade está lá apenas para ser buscado, e nunca atingido. O filme aborda bem também a questão "O que é um vencedor?", tanto levantada pelo chefe da família. Enfim, o filme explora o tempo todo as misérias dos personagens, e como eles lidam com isso. E o faz de forma genial.
Destaque também para algumas cenas em particular, como a cena da lanchonete, a cena do hospital, a cena de quando Dwayne faz um exame de vista dentro do carro, e, é claro, a cena da apresentação de Olive no concurso. Filmão!

Quando e com quem assistir a esse filme? Ninguém pra censurar nada, mas nem todos vão entender as nuances do filme. Eu, por exemplo, precisei assistir de novo pra pegar outras coisas. Então, vejam prestando atenção, e não só como entretenimento.

Ficha técnica


Elenco: Abigail Breslin – Olive
Greg Kinnear – Richard
Toni Collette – Sheryl
Alan Arkin – Avô
Steve Carell – Frank
Paul Dano – Dwayne
Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Produção: Albert Berger, David T. Friendly, Peter Saraf, Marc Turtletaub & Ron Yerxa
Roteiro: Michael Arndt
Trilha sonora: Mychael Danna e Devotchka
2006 - EUA - 103 minutos - Comédia dramática

Hancock

Um filmaço?! Não. Uma porcaria?! Também não. Fui assistir a este filme com uma expectativa muito baixa, pois vi a crítica pegando pesadíssimo com ele. E não estou falando de uma crítica formal, é da crítica boca-a-boca mesmo, todo mundo me falava que era o pior filme do Will Smith, e tudo mais. E devo confessar que, talvez por isso, me surpreendi positivamente. Mas realmente o filme tem suas mazelas.

Sobre o roteiro: Esse é o maior problema do filme. A premissa é muito interessante e abre horizontes interessantes: Um super-herói antipático e odiado pelo povo. Por si só, já não é a invenção da roda, mas é original. E vem a idéia de um cidadão comum agir como um "relações públicas" e atuar como um consultor para tentar melhorar a imagem dele. Até aí uma boa idéia, capaz de gerar boas piadas, que vem se segurando legal. Mas o que já estava mantendo o filme bom até mais ou menos a sua metade, começa a ganhar elementos de utilidade questionável no roteiro. A relação de Hancock com a personagem de Charlize Theron era dispensável, mas ainda assim não arruinou o roteiro. O que o fez foi o final. Não era só desnecessário, como também era ruim. Transformaram um filme que já era de comédia, de ação, de ficção científica, em drama água-com-açucar, bobo. Aí a credibilidade do filme se foi. Não é o fim do mundo, já vi coisa pior, (como por exemplo, Knowing, que seria excelente se não tivesse um dos piores finais da história do cinema), mas ainda assim, é frustrante. Tudo bem, Will Smith tem crédito pra gastar, a maioria absoluta dos seus filmes é muito boa. E pra ser sincero, mesmo aqui ele não tem culpa (talvez só de ter aceito participar do filme), o pesar vai todo pra conta dos roteiristas.

O que esse filme tem de especial? Como eu disse antes, ele tem um tema algo criativo, que sustenta situações realmente cômicas, como a cena do trem, e principalmente a cena da chegada do Hancock na prisão (ri alto com essa cena). Só que o roteiro interfere negativamente no potencial do filme. Fica aquela sensação de que o filme poderia ser bem melhor. O filme era despretensioso, e falha ao tentar ser mais que isso.
Nada a reclamar, mas também nada a destacar das atuações de Smith, Theron, e Jason Bateman. Apenas fazem o que tem que fazer, sem merecer nem Oscar, nem Framboesa de Ouro. Já o roteiro talvez merecesse a Framboesa...

Quando e com quem ver esse filme? Não me lembro de nada nesse filme digno de potencialmente censurar alguma categoria. Acho que é o típico filme pra ver em família: Bobo, depretencioso, engraçadinho, e com uma liçãozinha de moral no final. Mas lembrem-se dessa palavra: despretensioso.

Ficha técnica


Elenco: Will Smith - John Hancock
Charlize Theron - Mary Embrey
Jason Bateman - Ray Embrey
Jae Head - Aaron Embrey
Direção: Peter Berg
Produção: Akiva Goldsman, James Lassiter, Michael Mann & Will Smith
Roteiro: Vince Gilligan & Vincent Ngo
Trilha sonora: John Powell
2008 - EUA - 92 minutos - Comédia

Il buono, il brutto, il cattivo (Três homens em conflito)

Um raro caso de um título em português que não traduz o original, mas se mantém adequado ao filme. Nunca antes havia assistido nenhum western legítimo, embora já tenha assistido a inúmeras paródias, como Back to the future III (provavelmente a melhor sátira) e Wild Wild West. Decidi então começar no gênero com o filme que é considerado como o clássico definitivo do gênero. Não vou compará-lo com seus congêneres, mas como um filme convencional.

Sobre o roteiro: Quando vi a sinopse, tive uma impressão do filme que, felizmente, não foi correspondida. Embora provavelmente se trate de um clichê, a idéia de colocar três homens interessados no mesmo objetivo justifica plenamente o título brasileiro. A história é bem traçada, embora eu deva fazer aqui uma observação: Existe um formato de fazer um filme durar uma certa média de tempo, algo em torno de duas horas, no máximo. E pra isso, se o filme estiver curto, se enche linguiça. Se estiver longo, livram-se das partes dispensáveis. E este filme, durando algo mais que três horas, foge deste padrão com o qual eu fui acostumado. Quando isso acontece, fica a expectativa de que a história seja longa, mas o caso aqui é que a narrativa é lenta. Talvez faça parte do gênero, talvez seja estilo de época, ou possa talvez ter várias explicações. Mas, como já me adaptei a uma narrativa mais ágil, tive a sensação que o filme poderia emagrecer bastante sem deixar suas características perdidas. Por exemplo, leva uma hora para que saibamos da caixa de moedas enterrada, o que num filme Hollywoodiano, levaria algo em torno de 10 a 20 minutos. Mais uma vez, não que seja um problema, apenas é diferente do que estou acostumado. Existe um clima de guerra civil atuando como pano de fundo, o que pode ter contribuído para que o filme teha recebido um pouco mais de atenção do público norte-americano, mas fica como deveria ficar: em segundo plano. Não diria que o roteiro é a grande atração do filme, embora seja interessante. É bacana conhecer o golpe aplicado por Tuco (o feio) e "Blondie" (o bom, cujo nome não é citado em nenhum momento no filme), para receber recompensas, e a completa crueldade de "Angel Eyes" (o mau), um típico psicopata, que me lembrou muito o personagem de Javier Bardem em No country for old men, provavelmente inspirado no personagem de Lee van Cleef. Como creio que seja um filme que merece muito ser assistido, vou parar de falar sobre o roteiro mantendo elogios.

O que esse filme tem de especial? Embora muito clichês estejam presentes no filme, como a pontaria sempre certeira, os atiradores que estão mirando a meia-hora erram o tiro e no reflexo, o protagonista acerta em cheio, entre outras pérolas, mas muita coisa merece elogios. Cito aqui uma cena que passaria despercebida pra quase todo mundo, mas achei notória: Para obter uma informação de Tuco, Angel Eyes o tortura. Mas para obter informação parecida do loirinho, ele só pergunta, e se segue um diálogo interessante que quebra clichês: o mau reconhece que o bom é inteligente o bastante para saber que passar a informação não é garantia de que será poupado, e sabe que só está vivo enquanto não revelar essa informação, e que tortura não será eficiente. É uma situação que até hoje é recorrente, e Hollywood continua querendo empurrar uma situação que não se repetiria fora do cinema.
Outros destaques: Não tem mocinho no filme. Quer dizer, tem o vilão, claramente identificado como o mau, mas o bom não é assim tão bom. Ele sacaneia com seu parceiro, o feio, praticamente de graça, por duas vezes. Não é o perfil de mocinho bonzinho que se espera num filme. Há que se ressaltar também um tom de humor negro que o filme adquire, que eu gostei bastante. Os planos também são inteligentes, e principalmente convincentes.
Da parte técnica, é também notória a fotografia, as cores, o enquadramento, a aproximação das câmeras, e a forma como a edição gera tensão, principalmente na derradeira cena do "duelo de três", que parece durar uma semana, mantendo a expectativa e os nervos agitados para ver o que vai acontecer. Entre várias outras coisas legais. É um filme muito divertido, apesar das suas três horas de duração, incomuns para filmes que não tem tanta densidade.
E não poderia deixar de citar: Uma excepcional trilha sonora, com uma fantástica música tema, um clássico inesquecível que se mantém firme até hoje, sendo talvez até mais famosa que o próprio filme. Recomendado!

Quando e com quem ver esse filme? Típico do seu estilo, o filme é um festival de mortes gratuitas e um enorme desperdício de vidas humanas o tempo todo. Mas fora isso, nada demais no filme. A violência fica mais subentendida do que explícita. Não sei se estou com meu conceito de violência alterado por ter visto recentemente Machete e Planet Terror (que serão comentados em breve), mas não se verá crânios explodindo, ou vísceras arrancadas, nada do tipo. Só um tiro e um corpo caindo. o que para os padrões atuais, não é nada demais. Eu não censuraria ninguém, mas enfim, estejam avisados. E, por favor, contextualizem os mais desavisados do que se trata o filme.

Ficha técnica


Elenco: Clint Eastwood - Blondie (O bom)
Lee van Cleef - Angel Eyes (O mau)
Eli Wallach - Tuco (o feio)
Direção: Sergio Leone
Produção:  Alberto Grimaldi
Roteiro: Sergio Leone & Luciano Vincenzoni
Trilha sonora: Ennio Morricone
1966 - Itália / Espanha - 177 minutos - Western

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Splice

Guardem bem essa imagem e esse nome, pra não assistirem esse filme nem por engano. Ruim de doer.

Sobre o roteiro: Um casal de cientistas geneticistas que resolve misturar uma já bizarra formade vida sintética e cheia de modificações no DNA, com DNA humano. Não vai dar pra falar do filme sem ser spoiler, mas nesse caso, não vale a pena preservar a surpresa. Como eu adverti anteriormente, não vejam o filme. Mas se teimarem em ver, pelo menos não vejam esse texto.
Pra começar, a cientista faz essa experiência quase que como uma brincadeira. E ao ser questionada sobre o problema ético que essa brincadeira causaria, responde com algo do tipo "não tem problema, qualquer coisa a gente descarta o projeto". Aqui já vai um fator tosco: Toda hora que aparece um problema ético para lidarem (a cada 3 minutos de filme), os cientistas tem que falar "mas isso não é certo... A ética profissional está sendo violada, e blá blá blá". Algo para evidenciar o que já é óbvio, pra deixar bem claro que eles simplesmente não se importam.
Mas tudo bem. Aí a coisa vai crescendo, e a cada cena é exposto pelo menos um motivo mais do que suficiente para cancelar a experiência e se livrar da criatura, mas os cientistas estão muito apegados com a superproblemátca cobaia. E se esquecem toda hora que ela é uma cobaia. Não dá... eles são cientistas respeitados (no cenário do filme), não chegaram em tal posição sem matar um monte de cobaias. O filme nos convence de que, simultaneamente, ambos passam de frios e racionais a emotivos passionais. Assumem riscos absurdos para manter os planos. Aliás, que planos?! Não tem plano nenhum! A criatura simplesmente vai crescendo (e muito rápido) e passa a ser criada quase como se fosse filha deles. E eles seguem arriscando tudo para continuar cuidando da criatura (que num certo momento até ganha um nome próprio - Dren, um desnecessário anagrama para Nerd) a troco de nada. De vez em quando bate uma crise de consciência em um dos dois, mas nada de desistir, senão a história perde o sentido.
A história vai seguindo e as coisas seguem piorando. Dren vai aprendendo a se comportar como um ser humano, se veste como tal, e tudo mais, e aí o filme passa a ter a pretensão de querer explorar teorias filosóficas e antropológicas e colocar todas essas teorias para por à prova. A cobaia vira adulta e começa a desenvolver características que supostamente são inatas do ser humano. Sente necessidade de conseguir um macho reprodutor, e como o único que conhece é o cientista interpretado pelo canastrão Adrien Brody, e então, "instintivamente", sente necessidade de eliminar a concorrente, a cientista Elsa (Sarah Polley). E ao tentar fazer isso, em retaliação, tem a ponta do rabo (capaz de projetar uma lâmina) amputada. O cientista discorda do método, eles brigam e ele fica só com Dren.
Aqui chegamos no anticlímax do filme, o momento máximo de como essa história pode ser patética: Dren seduz o cientista então eles transam. É isso mesmo, não tô de sacanagem. Aí eu rí alto quando isso aconteceu, porque é o cúmulo do quão patético isso pode ser. A história segue, mas já não faz mais sentido continuar com a saga dos problemas éticos e da tosqueira trash na qual o filme se aprofunda em tentar ser. Quem conseguiu se sentir interessado em ver o filme baseado no que leram aqui, boa sorte. Mas preparem-se para um final que faz tudo isso se tornar insignificante perto do desfecho da história. Isso sem nem falar na experiência paralela (que deveria ser a única) que dá errado de forma quase cômica com o banho de sangue que cai sobre a comunidade científica, e no fato de que eles conseguem fazer todas as proezas até aqui relatadas (com exceção desta última) em sigilo absoluto. E virtualmente sem objetivo que seja proporcional ao que fazem.

O que esse filme tem de especial? Efeitos especiais até razoáveis. Criaturas convincentes em termos de realismo.
Vou defender aqui uma teoria que tenho pra arte de forma geral, que vou explicar através de exemplos. Quando o compositor John Cage compôs 4:33 (pra quem não sabe, é uma música que consiste em 4 minutos e 33 segundos de silêncio), essa não foi a primeira obra dele. E quando Kazimir Malevich pintou "Quadro negro sobre fundo branco", também não foi sua primeira tela. Ambos já tinham uma reputação que os credenciava a tentar fazer algo inusitado. Quentin Tarantino e Robert Rodriguez já eram famosos quando fizeram Grindhouse, ou From Dusk Till Dawn. Então, fizeram algo trash, mas com a intenção de ser trash, como um tributo. Então, se o cara quer fazer algo bizarro que desafie o espectador, não o faça no início da carreira, ou antes de atingir um status de incontestável. Ou então, vai ter seu trabalho encarado como se fosse sério. E levar esse filme a sério, não rola.

Quando e com quem assistir esse filme? Vou falar de novo, o filme não vale nem o entretenimento, nem os sustos, nem... nada. Não merece existir. Mas se insistirem, é um filme de terror recheado de cenas violentas, perversões morais e até uma bizarra cena de sexo homem & monstra. Com isso em mente, verifique com quem dá pra assistir.

Ficha técnica:


Elenco: Adrien Brody - Clive Nicoli
Sarah Polley - Elsa Kast
Delphine Chanéac - Dren
Direção: Vincenzo Natali
Produção: Steve Hoban & Guillermo del Toro
Roteiro: Vincenzo Natali & Antoinette Terry Bryant
Trilha sonora: Cyrille Aufort
2009 - EUA - 104 minutos - Ficção científica / Terror

quinta-feira, 19 de maio de 2011

No country for old man (Onde os fracos não tem vez)

Alguém aí assistiu Fargo? É impossível não relacionar este filme a ele. No country for old men está para Fargo exatamente como Snatch! está para Lock, stock, and two smoking barrels. Dois filmes dos mesmos diretores, os irmãos Ethan e Joel Coen. Um filmaço mesmo. Um raro caso de filme que realmente mereceu seus Oscar de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante.

Sobre o roteiro: Baseado num romance homônimo, o filme traz um western contemporâneo de um sujeito relativamente comum que um dia vê sua vida e seu futuro mudarem completamente ao encontrar acidentalmete uma mala com U$2.000.000, mala essa encontrada em um cenário um tanto quanto peculiar. E então, um completo psicopata vai em seu encalço para pegar essa grana. Só que muita coisa genial acontece no meio disso tudo, mas não quero ficar estragando surpresas pra melhorar a sinopse. É um daqueles filmes no estilo que eu gosto: O roteiro é o principal atrativo. Não é um roteiro pra fazer um filme, é um filme pra contar um roteiro. Então vou simplesmente dizer que o roteiro é primoroso e excelente, e partir para o próximo tópico.

O que esse filme tem de especial? O Iron Maiden gravou 15 discos usando a mesma fórmula para compor. E sairam 15 álbuns recheados de sucessos. Então, qual é o mal de se usar sempre a mesma receita de bolo, se o bolo sempre sair gostoso? O que os irmãos Coen fizeram aqui é tão parecido com Fargo que vou fazer aqui um paralelo com alguns dos elementos que eles reaproveitaram.
Fargo x No country...
Um dos bandidos é um psicopata total - O principal bandido é ainda mais psicótico.
A investigação é feita por uma improvável policial mulher e grávida - A investigação é feita por um improvável policial velho e pensando em pedir demissão.
Uma mala de dinheiro é o objeto da disputa - Uma mala de dinheiro é o objeto da disputa.
O protagonista não está exatamente sendo "certinho", só quer levar vantagem numa situação - O protagonista   só quer se aproveitar de uma excelente oportunidade que lhe surgiu, mas assumindo um enorme risco.
A trama se passa numa pequena cidade do interior - A trama se passa em pequenas cidades do Texas (que por definição já é interior)
Alguns dos demais elementos se revelados, seriam classificados como spoiler, o que não é meu objetivo, mas assistindo os filmes isso será percebido. Porém, ainda assim, alguns detalhes importantes são originais aqui, e fazem com que este seja um filmão por méritos próprios. Tem tudo para se tornar um clássico. Está na lista de filmes que merecem ser vistos mais de uma vez.
Na parte mais técnica, a direção é ótima, a fotografia salta aos olhos mesmo de quem não costuma dar atenção a esse tipo de elemento (como eu), mas sobretudo se destaca a atuação do elenco. Javier Bardem faz um excelente vilão, merecendo com louvor seu Oscar, Tommy Lee Jones manda bem com um papel de xerife que é a sua cara, e Josh Brolin conquista nossa simpatia como protagonista. Até o sempre canastrão Woody Harrelson se saiu bem.

Quando e com quem ver esse filme? Nem todo mundo reage bem ao ver uma cena de uma pessoa sendo morta com um tiro de ar comprimido na testa que explode com a pressão, o que não é uma das coisas mais violentas do filme. Esses diretores estão no mesmo caminho no qual Quentin Tarantino já está longe. No mais, é um filme fácil de acompanhar.

Ficha técnica:


Elenco: Josh Brolin - Llewelyn Moss
Javier Barden - Anton Chigurh
Tommy Lee Jones - Ed Tom
Woody Harrelson - Carson Wells
Kelly McDonald - Carla Jean Moss
Direção: Joel & Ethan Coen
Produção: Joel Coen, Ethan Coen & Scott Rudin
Roteiro: Ethan & Joel Coen, baseado no livro de Cormac McCarthy
Trilha sonora: Carter Burwell
2007 - EUA - 122 minutos - Policial

terça-feira, 17 de maio de 2011

End of days (Fim dos dias)

Um filme que eu não deveria ter gostado, mas eu gostei. É bobo, tem consideráveis furos de roteiro, e até cenas dignas de filmes de "terrir", mas ainda tem um saldo positivo.

Sobre o roteiro: De volta ao maniqueismo. O bem é puro e humilde, o mal é sombrio e devastador. Preto e Branco, tudo bem separado. E, no meio, um Schwarzenegger cinza, convencido pelo bem, e tentado pelo mal. A fórmula é a mais besta que existe, mas nesse filme ela ainda funciona, talvez porque pegaram o que mais sintetiza essa pureza de lados: Céu e inferno. E então temos uma profecia do Messias do mal, o legítimo filho do capeta, e a saga de possibilidades que visam impedir o cumprimento dessa profecia. Daí se seguem coisas patéticas típicas de filmes que querem fazer sua história ser convincente, mas se utilizam de mecanismos que são inverossímeis por outro lado. E temos várias daquelas cenas onde as coisas poderiam ser resolvidas facilmente, mas o vilão prefere ficar fazendo um discurso antes de concluir seu objetivo, só pra dar tempo do herói aparecer e estragar tudo. Mas a gente tem que dar um voto de confiança e continuar assistindo, já que não se desiste de ver um filme na metade (tá, se desiste sim, mas só em casos muito extremos, como Brüno, porque é muito nojento, Veronica Guerin, porque transformar uma jornalista em paladina da justiça não dá, entre outras tragédias das telonas). Então, com um pouco de condescendência e boa vontade, continuamos vendo o filme (o que não é nenhum sacrifício sobrehumano). Então, um final muito previsível, mas ainda assim feito de forma interessante.

O que esse filme tem de especial? O filme traz alguma teologia de boteco, mas até útil para pequenas reflexões religiosas. Os efeitos especiais são muito legais, e até a atuação merece algum crédito. Gabriel Byrne faz um "cramunhão" convincente e respeitável, e Schwarzenegger alterna momentos de grande atuação (o que convenhamos, nunca foi o grande ponto positivo dele - salvo por Terminator 2) com momentos bem canastrões, como na cena em que revê sua família (aquilo foi lamentável). Creio ser o melhor filme dessa sua fase na carreira, já que não vimos ele fazer algo bom desde Eraser (que já é o começo da fase negra), até voltar a ser Schwarzenegger de verdade em T3.
Mas creio que o ponto forte do filme sejam mesmo as cenas de ação, bem comuns dos filmes do governador da California. São intensas, e conseguem criar o clima de tensão de alto nível que se espera. Não é um grande filme, mas é algo que creio valer a pena assistir.

Quando e com quem assistir esse filme? Evitem religiosos xiitas, e pessoas que se incomodarão com o tema, que por si só já é meio pesado, e com fortes cenas de violência, como uma pessoa pegando fogo, mutilações, e muito chumbo. E assistam sem grandes expectativas. Vão se preparando apenas para mais um filme do austríaco-americano, que melhora as coisas.

Ficha técnica:


Elenco: Arnold Schwarzenegger - Jericho Cane
Gabriel Byrne - Diabo
Robin Tunney - Christine York
Kevin Pollack - Chicago
Direção: Peter Hyams
Produção: Armyan Bernstein, Bill Borden & Thomas Bliss
Roteiro: Andrew W. Marlowe
Trilha sonora: John Debney
1999 - EUA - 121 minutos - Ação / Ficção religiosa (existe isso?)