quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Vanilla Sky

Quem vê apenas o rosto de Tom Cruise na capa do filme, ou apenas lê o nada sugestivo título, corre o risco de deixar de ver um excelente filme. Eu mesmo só o assisti depois de ouvir efusivas recomendações para me mostrarem o que eu estava perdendo.

Sobre o roteiro: É um daqueles filmes que fica muito complicado falar sobre ele sem ser spoiler, mas apesar de ter um roteiro algo surpreendente, é marcante pelas idéias que traz. Claro que esse "traz" é algo questionável se tomarmos por relevante a informação de que esse filme, sob muitos aspectos, pode ser chamado de remake do filme espanhol Abre los ojos, sendo que este último inclusive traz Penélope Cruz interpretando a mesma personagem do filme do céu de baunilha. Não vi a versão europeia, e não pretendo fazer comparações.

A história mostra um playboy ricaço, mulherengo e extravagante, que se apaixona por uma mulher, sem perceber (ou sem se importar) que sua melhor amiga (com quem faz um sexozinho de vez em quando) está apaixonada por ele. Com isso, numa atitude desesperada, ela atira o carro que dirige (com ele) de uma ponte, morrendo no local e deixando-o gravemente ferido e desfigurado. Com isso, sua vida muda radicalmente. Esse é o mote para várias reflexões possíveis e diferentes temas expostos que são ideais para virar tema de um bate-papo com outras pessoas que também já viram o filme. Não é um filme parecido com Fight Club, mas nesse sentido, me lembra bastante deste.

O que este filme tem de especial? Acho que os homens entenderão. Sabe aquela sensação de quando uma garota te leva pro cinema pra assistir Twilight?! Acho que muitos homens tiveram a mesma sensação ao ir assistir Vanilla Sky. Com a diferença que depois de sair do cinema, os homens acharam o filme muito mais interessante do que as mulheres. Claro que eu estou generalizando aqui, e reconheço que isso é um erro, mas quero dizer que um dos grandes trunfos do filme foi atrair o público explorando o rosto de Tom Cruise, e trouxe uma história muito mais complexa do que as menininhas fúteis de cabeça vazia costumam apreciar. É um filme carregado de filosofia, de antropologia, de muita intelectualidade.

O elenco estelar traz algumas das melhores atuações dos protagonistas. Não me lembro de ver uma personagem de Cameron Diaz mais convincente. Ver Kurt Russel como um psiquiatra, sem uma arma, sem dar um tiro, um soco, etc, é algo que não se vê todo dia. E ver que ele se sai muito bem é ainda mais surpreendente. Diria que deve ser seu melhor filme e sua melhor atuação, talvez comparável apenas com sua atuação em Death Proof. Penélope Cruz é uma boa atriz, mas não vejo sua atuação como algo memorável. Não que seja ruim, pelo contrário. Apenas não chama a atenção em comparação com seus colegas de cena. E claro, Tom Cruise não é um dos maiores atores de sua geração só pelo seu sucesso com as mulheres, é também absurdamente convincente com seus personagens. Tem uma certa ironia no fato de ele ser mais conhecido por uma série que considero como os mais fracos filmes com ele que já vi: Mission Impossible. Direção e fotografia também são dignas de nota. Trilha sonora muito bem escolhida também, com muito do bom e velho Roquenrou. Enfim, um filme recheado de bons motivos para ser assistido.

Quando e com quem assistir a este filme? Recomendo o filme para pessoas inteligentes, com senso crítico e que gostam de assistir o filme e ficar divagando depois sobre os temas e teorias expostos na tela. Praticamente não há nada violento no filme, e apenas uma ou outra cena de sexo, mas nada lá muito picante. Enfim, um filme pra quem tem bom gosto. Nem todos vão entendê-lo, nem todos irão apreciá-lo, mas é uma obra de arte.

Ficha técnica

Elenco: Tom Cruise - David Aames
Penélope Cruz - Sofia
Cameron Diaz - Julie
Kurt Russel - Dr. Curtis
Jason Lee - Brian
Direção: Cameron Crowe
Produção: Cameron Crowe, Tom Cruise e Paula Wagner
Roteiro: Cameron Crowe (adaptado de Alejandro Almenébar) e Mateo Gil
Trilha sonora: Nancy Wilson
2001 - EUA - 136 minutos - Drama