sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fargo (Fargo - Uma comédia de erros)

Acho que é meio redundante falar que um filme que ganhou o Oscar de melhor roteiro original, tem um roteiro muito original. Mas... tem mesmo. Nem todos os filmes que ganham esse prêmio têm um roteiro de fato tão criativo. Pelo menos, não é todo ano que se vê um filme tão criativo ser laureado com tal distinção.

Sobre o roteiro: Bom... não posso ficar falando muito sobre o que acontece, pois estragaria a surpresa, o que seria um crime se tratando deste filme. Então vou falar sobre ele como se estivesse conversando com mais duas pessoas: uma que já viu, e outra que não o viu, mas está participando da conversa (via de regra, já é mais ou menos pensando nisso que costumo escrever, mas sabendo disso pode ficar mais fácil me entender).
Quando o filme começa dizendo que era baseado em fatos reais, de imediato eu questionei isso, e fui meio que assistindo e procurando um buraco na história, algo que não poderia ser suposto ou contado por alguém que realmente poderia testemunhar os fatos depois de ocorridos. Com efeito, uma ou outra cena realmente exigem boa vontade de aceitar os fatos conforme são expostos, mas de um modo geral, realmente houve uma preocupação dos roteiristas de criar uma história que poderia ter sido contada pelos sobreviventes e pelas pessoas que poderiam testemunhar, e o restante poderia ser suposto, ou teorizado. Enfim, soa fantasioso, mas não inverossímil.
A premissa também é interessantíssima -  um homem precisando de dinheiro contrata dois bandidos para simular o seqüestro de sua própria esposa para que seu sogro pague o resgate (de forma que ele fique com uma parte do resgate, o que resolveria seu problema), mas as coisas vão saindo cada vez mais do controle de qualquer um - e por si só já garante grandes possibilidades, que os irmãos Coen aproveitam muito bem.

O que esse filme tem de especial? Tem muitos filmes dos mesmos diretores que já estão na minha lista de filmes pra ver tem muito tempo, como por exemplo The Ladykillers, The Big Lebowski, O Brother, Where Art Thou? e Intolerable Cruelty. Mas devo me confessar decepcionado com o único filme deles que eu já tinha visto antes, Burn After Reading, que, apesar de um filme até legalzinho, dava pra ter sido bem melhor, tanto pela premissa quanto pelo elenco. Mas Fargo lhes garante o voto de confiança pra que eu dê moral pra eles de novo e queira ver o restante da filmografia.
Voltando ao filme, as atuações são muito boas, com destaque para o sueco Peter Stormare, para o sempre carismático e excêntrico Steve Buscemi, e para a vencedora do Oscar (por este filme) Frances McDormand, que apesar de trabalhar muito bem, não é a melhor atriz em cena, eu acho. A direção também merece destaque. A fotografia foi bem trabalhada, a edição é legal, tem umas tomadas inusitadas, como a cena que a câmera vai acompanhando o asfalto, entre algumas outras. Um filmão em todos os aspectos.


Quando e com quem ver esse filme? Tem umas duas cenas que, apesar de não mostrarem nada, deixam bem claro que se trata do bom e velho in-out-in-out (como diria Alex em The Clockwork Orange). Tem um personagem que leva um tiro na boca (e sobrevive) e uma cena em que uma pessoa vai sendo colocada aos pedaços numa máquina de triturar, entre outras cenas bem violentas. Com isso em mente, avalie se o filme serve pra você e com quem ele não vai ser pesado demais. Quanto ao roteiro, é ótimo para quem, como eu, aprecia um ótimo humor-negro. Esse filme é um achado. Me surpreende que eu nunca tinha ouvido falar nele até agora.


Ficha técnica:


Elenco: William H. Macy - Jerry Lundegaard
Frances McDormand - Marge Gunderson
Steve Buscemi: - Carl Showalter
Peter Stormare - Gaear Grimsrud
Harve Presnell - Wade Gustafson
Direção: Joel e Ethan Coen
Produção: Ethan Coen & Joel Coen
Roteiro: Joel Coen & Ethan Coen
Trilha sonora: Carter Burwell
1996 - EUA - 96 minutos - Policial

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Bound (Ligadas pelo desejo)

O único motivo pelo qual eu vi esse filme é que a direção, produção e o roteiro são dos irmãos Wachowski. Reza a lenda que o filme só foi feito como um test-drive dos dois para ver se eles tinham capacidade de tirar o projeto The Matrix do papel, pois a Warner estava interessadíssima, mas desconfiada da capacidade dos dois. E Bound prova por A + B que esses caras tem muito talento.

Sobre o roteiro: O enredo conta a história de duas lésbicas amantes que planejam roubar o dinheiro do marido de uma delas (que obviamente não desconfia de nada), que é um mafioso aspirante a um papel mais importante na máfia. E daí surge a premissa para mais um daqueles filmes de golpe, se é que existe tal gênero. O legal desse tipo de filme é que basta ter uma boa idéia para garantir um bom resultado. Não depende de milhões de dólares de orçamento, de atuações brilhantes... só de boas conexões e de uma história bem escrita e que as coisas sejam plausíveis, verossímeis, e façam sentido. Então, por mais que a fórmula seja sacada, ela quase sempre gera um filmaço. Vide Ocean's 11, Midnight sun, e Snatch!, entre vários outros.

O que esse filme tem de especial? Acho que o mais óbvio chamariz do filme são as lésbicas. Me perdoem as leitoras do blog (se hoverem... nenhuma mulher comentou no blog até hoje...), mas isso é um atrativo muito grande para o público masculino. Mas não é isso que o filme tem de melhor. O roteiro é realmente o grande destaque. Não vou ficar fazendo revelações estraga-surpresas, mas recomendo amplamente que assistam o filme pra verem por si mesmos. As atuações também são muito boas e muito, muito convincentes, em especial Joe Pantoliano, que volta a trabalhar com os Wachowski em The Matrix, no papel de Cypher, o traidor.

Quando e com quem ver esse filme? Vejam com quem não vai se importar em ver umas cenas não tão moderadas de violência, e principalmente com quem não vai se importar de ver uma cena com duas mulheres se pegando. Mas se pegando mesmo. E veja se gostar de filmes de ação.

Ficha técnica:


Elenco: Gina Gershon - Corky
Jennifer Tilly - Violet
Joe Pantoliano - Caesar
Direção: Larry e Andy Wachowski
Produção: Stuart Boros & Andrew Lazar
Roteiro: Andy Wachowski & Larry Wachowski
Trilha sonora: Don Davis
1996 - EUA - 108 minutos - Ação

segunda-feira, 25 de abril de 2011

De pernas pro ar

Já tem muito tempo que o cinema nacional vem evoluindo a passos largos. Considero os dois "Tropa de elite" na minha listinha dos melhores filmes que já vi. Daqui também saíram os excelentes "O Auto da Compadecida", "O homem que copiava" e "O Redentor", entre outros. Hoje dá pra ter orgulho de muita coisa que se vê nas telonas e que podemos chamar de "nosso". Nessa onda, surge "De pernas pro ar"... e nos mostra que mesmo um time que está ganhando tudo na temporada pode sofrer uma goleada vexatória no meio do caminho, e nos fazer ter vergonha do cinema nacional de novo...

Sobre o roteiro: A idéia é até razoável, mas dá o pressuposto necessário pra muita coisa bacana acontecer, mas não acontece nada. A história mostra a vida de uma mulher no estilo workaholic que só existe no cinema (não que só existam workaholic's no cinema, mas do jeito que são apresentados, sim), e que, através de um acaso de preguiça dos roteiristas, se vê com a vida pessoal em ruínas e envolvida com uma dona de sex shop. Só que as conexões e justificativas do roteiro são trágicas e patéticas. Então, se deserola uma comédia com a mesma dose de humor do programa que Ingrid Guimarães tinha nos domingos à noite, cujo nome não me lembro agora, e que costuma ser a base dos programas humorísticos da Globo. A sensação é a mesma. Nem o Bruno Garcia, que se destaca no cenário "global", consegue se sobressair com seu papel de coadjuvante do coadjuvante.
Filme bobo. Se a idéia que o filme transmite é de mostrar transgressões a valores irracionais de puritanismo de uma sociedade hipócrita, o que o filme faz é justamente o contrário, e colabora para um puritanismo ainda mais exacerbado, visto que estes valores que pensamos que o filme daria mais uma marteladinha pra derrubar, recebem é mais um pouco de cimento pra se solidificarem ainda mais. E temos assim, mais uma comédia sem sal, com moralismo careta disfarçado de liberdade sexual. No maior padrão Globo, com o enredo previsível de sempre.

O que esse filme tem de especial? Bom... dessa vez eu vou ter que pular essa seção. Sério, não tem nada de especial.

Quando e com quem ver esse filme? O ideal mesmo é não ver esse filme. Mas, se insistiram bastante, foi muito recomendado pela massa de senso comum, assista sem nenhuma expectativa, que talvez consiga esboçar um sorriso de canto de boca duas ou três vezes ao longo do filme. Quanto a companhia: Se estiver com alguém que tenha gostado de "Se eu fosse você", vai gostar deste também, pois é o mesmo humor. Mas se concordar comigo quando digo que o tipo de filme que uma pessoa gosta diz muito sobre ela, vai concordar que não é a melhor companhia do mundo... Se puder evitar o filme, evite e veja outro.

Ficha técnica: 


Elenco: Ingrid Guimarães - Alice
Maria Paula - Marcela
Denise Weinberg - Marion
Bruno Garcia - João
Direção: Roberto Santucci
Produção: Mariza Leão
Trilha sonora: Fabio Mondego
Roteiro: Paulo Cursino & Marcelo Saback
2010 - Brasil - 97 minutos - Comédia




The Cable Guy (O Pentelho)

A expectativa gerada era enorme. Jim Carrey cobrou $20.000.000 pra fazer o filme, maior cachê já cobrado em Hollywood até então. Então tinha que ser um filme de igual grandeza. Não é. Mas a crítica massacrou e destruiu a reputação do filme. O que fez com que eu esperasse até agora para finalmente me interessar em assistir. Realmente não é grande coisa, mas a crítica foi exagerada. Não é nenhuma porcaria.

Sobre o roteiro: Uma idéia legal. Mas não o suficiente para segurar um filme inteiro. Daria um bom curta, uma crônica do Luís Fernando Veríssimo, ou até mesmo um interessante personagem numa trama maior. Mas fica a sensação de um coadjuvante tentando ser protagonista, e não temos nem protagonista, nem coadjuvante. O que em tese poderia ser legal, algo fora dos padrões. mas ele ficou foi desajustado mesmo. Pra quem não sabe, Jim Carrey faz um instalador de TV à cabo. Ao ouvir uma proposta para instalar canais ilimitados em troca de um pequeno suborno, opta por fazer isso apenas por amizade. E tenta assim se tornar um amigo. Um amigo chato, excêntrico e inconveniente. Mas aqui o ótimo Jim passa da conta. Aparentemente ainda em busca de afirmação de seu espaço, peca pelo excesso de caras e bocas. Sua marca registrada porém não é nem de longe sua melhor qualidade (aliás, eu sequer vejo graça nisso - sou fã dele é pelas atuações mesmo, sobretudo em dramas). E Ben Stiller (ainda mais desesperado por afirmação até hoje) recebe como primeira chance na direção aos 20 e poucos anos um projeto muito maior que seu talento. O resultado é um filme fraco. Cheio de pontos fortes, boas cenas, boas piadas e até citações legais a outros filmes. Mas no conjunto da obra, é fraco. As próprias conexões (ou a falta delas) revelam esse problema. Mas... se retirarmos toda a expectativa do elenco e da grana que o filme envolve, até passa por uma comédia legalzinha. Diverte, entretem. Forçando a barra, até traz alguma reflexão sobre as pessoas invisíveis que cruzam nossas vidas todos os dias e nós as ignoramos. Mas o filme não é tão ambicioso quanto o projeto, e, com justiça, foi um fracasso (se analisarmos a expectativa gerada).

O que esse filme tem de especial? O elenco é muito bom, e trabalha até bem. O problema, como disse, é o diretor, que estava só começando, e não é bom até hoje. Ben Stiller até faz bons filmes, mas não é bom comediante. O que parece contraditório e paradoxal, mas ele não me convence. Destaco também uma premissa original. E algumas citações, como a última cena na antena, já tinham me lembrado GoldenEye na hora, mesmo antes disso ser dito. E tem umas previsões do futuro naquela fala do personagem de Jim Carrey em pé na antena, em que todas são realidades comuns hoje. É muito raro algum filme falar sobre coisas que teremos no futuro e acertar. Esse merece o crédito. Só não previram o prejuízo que o filme ia causar...

Quando e com quem ver esse filme? O filme foi feito pra ser uma comédia fácil, estilão Ace Ventura. Acabou se revelando um filme mais inteligente que isso, mas meio que por acidente, pois isso não foi constante no filme. Então, pessoas mais exigentes podem não gostar, mas dá pro gasto. Não vejo contra-indicações. Não tem cenas fortes e só tem uma cena em que as pessoas estão jogando um jogo de adivinhação de palavras eróticas que podem deixar alguém constrangido na frente de pais mega-conservadores (como os meus, rs), o que é justamente a intenção do personagem com seu rival no momento, diga-se de passagem.

Ficha técnica:


Elenco: Matthew Broderick - Steven Kovacs
Jim Carrey - Instalador de TV à cabo
Leslie Mann - Robin Harris
Ben Stiller - Sam Sweet / Stan Sweet
Jack Black - Rick
Direção: Ben Stiller
Produção: Judd Apatow
Roteiro: Judd Apatow, Lou Holtz Jr. & Ben Stiller
Trilha sonora: John Ottman
1996 - EUA - 96 minutos - Comédia

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Blood Diamond (Diamante de sangue)

O filme é muito político, então vou falar abertamente de opiniões políticas neste post. Vou ser agressivo e pegar pesado, e qualquer discussão que o leitor queira começar será muito bem-vinda.

Sobre o roteiro: Este filme joga na cara algo que todo mundo devia saber, se fosse interessante para as grandes corporações divulgar ou deixar saber. Nos países subdesenvolvidos, o caos, a guerra, a violência e a completa ausência de humanidade são instaurados e mantidos apenas para suportar um sistema de consumismo desenfreado demandado por malditos ricaços inconseqüentes que acham que só porque têm dinheiro, podem comprar o que quiserem com ele, e só é da conta deles como eles gastam seu dinheiro. Errado! Nesta história, temos um vislumbre do que acontece há anos e anos na África, no Oriente Médio, no Sul da Ásia, e em menor escala, até mesmo aqui no Brasil.
O filme mostra a história de um mercenário ambicioso, um pescador humilde, e uma jornalista idealista (o que deve ser ficção, nunca vi jornalista idealista de verdade, mas enfim...) envolvidos um na vida do outro, numa relação de dependência mútua para atingirem seus objetivos, respectivamente: usar um precioso diamante como passaporte para fora dessa vida pra sempre, resgatar sua família e proporcionar a ela uma vida melhor, e denunciar as atrocidades que o comércio dos diamantes causam para a sociedade dos países produtores. Só que no meio do caos total, onde vidas humanas não valem absolutamente nada, conseguir o que querem parece impossível.

O que esse filme tem de especial? Os 3 atores do cartaz aí em cima atuam muito bem, o filme é bem feito, cenas de ação que realmente prendem totalmente a atenção, suspense bem elaborado, e tudo mais, mas o verdadeiro destaque do filme não é técnico, mas ideológico. A reflexão que o filme nos convida a fazer é muito, muito ampla. E eu vou tentar explanar alguns dos principais pontos abordados e denunciados.
Escassez: Diamantes só são caros porque são raros. E são ainda mais caros porque as grandes empresas do ramo o tornam ainda mais raro do que ele realmente é. Por isso guardam estoques de diamantes escondidos para manter os preços altos. Suspendem a produção para manter os preços altos. Queimam diamantes para manter os preços altos. Fecham minas recém-descobertas ricas em diamantes Oferta e procura. Tudo para manter o produto escasso. Tudo. E essa insanidade não está restrita a diamantes. O mesmo é feito com petróleo, com ouro, com tudo que existe de valor. Não nos esqueçamos do importante episódio da história do Brasil de quando no acordo de Taubaté o governo comprou café dos latifundiários para estocar e deixar estragar, só para manter os preços altos. É uma idéia que funciona. Mas é doentia demais para ser tolerada. Recomendo aqui que assistam aos documentários da série Zeitgeist, principalmente ao Zeitgeist: Addendum, onde essas e outras idéias são mais debatidas.
Financiamento de guerras civis: Cruelmente simples. Venda armas para os rebeldes. Deixe os rebeldes aterrorizarem o governo. Depois, venda armas para o governo também. Deixe o governo ver como você os ajudou a controlar os rebeldes. E aproveite da generosidade do governo permitindo que você explore os recursos naturais e serviços públicos da população, enquanto você se prepara para repetir o ciclo. Se você tiver uma mente tão perversa e psicótica a ponto de ver uma boa idéia nesse esquema, por favor, se mate antes. Mas isso acontece o tempo todo. Recomendo aqui assistir ao Lord of War, com Nicholas Cage.
Jornalismo: Até onde uma matéria vale a pena? Apesar do filme trazer uma jornalista engajada, e tudo mais, todos sabemos que esse perfil é tão raro que quase não se conhece a existência. Basta lembrar da famosa foto de um urubu esperando uma criança morrer de fome para devorá-la, e enquanto isso, o bonitão do fotógrafo só tirando a foto para ganhar seu Pulitzer, e ganhou. O sacana deixou de salvar uma vida pra ganhar um prêmio de jornalismo. Sei que generalizar é um erro, mas vou precisar que outro jornalista faça algo muito bom pra sociedade pra que eu respeite a categoria de novo. O que acontece nessas guerras, como recentemente vemos na Líbia, no Egito, no mundo árabe em geral, não é muito diferente, eles estão lá atrapalhando quem quer ajudar, só pra conseguir um furo de reportagem.
O filme tem outros pontos muito interessantes e dramáticos também para serem analisados e discutidos, mas o post já está ficando muito grande. Destaque especial para uma das primeiras cenas: "Manga curta ou manga longa?!" Crueldade insana.

Quando e com quem ver esse filme? O filme não poupa o espectador de muita violência, crueldade, atrocidade, etc. Mas nesse caso os frescos de plantão devem ser fortes para assistir as cenas mais pesadas e refletirem: Devo comprar o diamante que minha mulher quer, mesmo sabendo que ele custou a mão de uma pessoa? Ou ainda mais além, o que a maioria esmagadora das pessoas que assistiram ao filme jamais refletirão: Vale a pena gastar gasolina pra ir pra balada toda noite, mesmo sabendo que ela foi feita com petróleo que custa milhares de vidas no Oriente Médio? E mais: Devo comprar todo tipo de supérfluo Made in China por um valor que certamente não corresponde ao custo real, mesmo sabendo que pra pagar tão barato pelo produto, ele provavelmente foi feito por crianças em condições de escravidão, ganhando por mês o que eu gasto numa noitada num bar? E essa reflexão tem que ser estimulada em todo mundo, pra que não mais suportemos esse sistema cruel e absurdo de consumismo que impera hoje. Precisamos assumir as conseqüências do nosso modo de vida.

Ficha técnica:


Elenco: Leonardo DiCaprio - Danny Archer
Djimon Hounsou - Solomon Vandy
Jennifer Connelly - Maddy Bowen
Direção: Edward Zwick
Produção: Marshall Herskovitz, Graham King, Paula Weinstein & Edward Zwick
Roteiro: Charles Leavitt & C. Gaby Mitchell
Trilha sonora: James Newton Howard
2006 - EUA - 138 minutos - Drama / Ação

terça-feira, 19 de abril de 2011

Dirty Work (Vingança sob encomenda)

Por muito tempo eu dizia que esse era o melhor filme de comédia que já assisti. Também é uma pena que seja tão lado B. O elenco desconhecido não ajuda muito, apesar de ótimos atores. Filme dificílimo de encontrar, mas vale muito a pena.

Sobre o roteiro: O ponto forte do filme. É a história de dois caras que, desde criança, nunca levavam desaforo pra casa. Sempre que alguém os intimidavam, agrediam, ou lhes perturbavam de alguma forma, eles se vingavam, sempre de uma forma muito criativa, inusitada e engraçada. Mas depois de adultos, tentando de tudo para levantar uma grana para conseguirem salvar o pai de Sam McKenna, encontram nesse "talento" a sua profissão, e abrem uma empresa de vingança sob encomenda. E o negócio começa a prosperar e tomar grandes proporções. Por si só, a idéia já garante a premissa para um ótimo roteiro, mas poderia ser desperdiçado com idéias ruins, mas definitivamente isso não acontece. O filme é pra rir alto, dar aquelas gargalhadas histéricas. Bastante imprevisível também, exceto por um ou outro clichê aqui e alí. Imperdível!

O que esse filme tem de especial? O mais interessante é que o filme não inspira nenhuma confiança, parece mais um filme de Sessão da Tarde, mas é excelente. O elenco, embora desconhecido, trabalha muito bem. Destaque para o personagem de Chevy Chase, único ator mais famoso, que faz um médico com sérios problemas com apostas. Tem algumas pontinhas de participação especial, como Adam Sandler, John Goodman, e Rebecca Romijn (a Mística, da franquia X-men). Mas o filme é recheado de piadas bem-sacadas e o legítimo humor pastelão. TOP.

Quando e com quem ver esse filme? Algumas piadas sexuais, insinuações de violência, entre outras coisas politicamente incorretas, podem barrar crianças e pessoas muito conservadoras. Fora isso, é um filme fácil de assistir e para riso solto.

Ficha técnica


Elenco: Norm McDonald - Mitch Weaver
Artie Lange - Sam McKenna
Jack Warden - "Pops" McKenna
Traylor Howard - Kathy
Chevy Chase - Dr. Farthing
Christopher McDonald - Travis Cole
Direção: Bob Saget
Produção: Robert Simonds
Trilha sonora: Richard Gibbs
1998 - EUA / Canadá - 81 minutos - Comédia

Hearts in Atlantis (Lembranças de um verão)

Costumo ficar indeciso em indicar qual é o filme mais emocionante que já assisti. Normalmente, não me decido entre este e Meet Joe Black. O que ambos tem em comum? Anthony Hopkins. E eu só assisti este filme por causa dele. Que grata surpresa!

Sobre o roteiro: Mais uma vez, o roteiro é baseado num livro do Stephen King. E mais uma vez, temos aqui: Sobrenatural, comportamento humano, tragédia, etc. A fórmula de King é a mesma, mas sempre dá certo. É como uma receita de bolo, que sempre termina em um ótimo bolo, ou como as músicas do Iron Maiden: Riff de introdução, verso, refrão, verso, refrão, solo, refrão, Riff de introdução. E 15 discos seguiram quase que exclusivamente a essa receita, e 15 discos excelentes foram lançados por eles. Então, King pode continuar do jeito que tá, que tá ótimo.
Mas vale citar que esta história foge um pouquinho dos padrões. O suspense, no estilo terror, praticamente não existe. O foco maior é no drama. As relações pessoais são o principal destaque do filme, principalmente a relação entre o menino Bobby Garfield e seu vizinho / inquilino Ted Brautigan. É curioso citar que o contexto do filme envolve a Guerra fria, e o protagonista é interpretado por Anton Yelchin, que nasceu na URSS. E justamente por causa desta guerra é que Brautigan é perseguido. O roteiro é interessantíssimo, com um personagem telepata, uma mãe que faz de tudo que acredita ser necessário para criar seu filho, um idiota valentão adolescente, bullying, agentes secretos, preconceito, filosofia, conspiração, o filme é recheado de elementos que enriquecem a obra.

O que esse filme tem de especial? Nunca chorei por causa de um filme, mas esse foi o filme que chegou mais perto até hoje. A atuação de Anthony Hopkins é impressionante. Enquanto filmava Hannibal, considerado por muitos como o vilão mais atroz da história do cinema, filmou o personagem mais "bondoso" (na falta de uma palavra melhor) que eu já o vi fazer. E ambos foram feitos com a mais completa genialidade. Por essas e outras, sou fãzaço desse velhinho galês. Anton Yelchin também surpreende, mesmo sendo um garoto (tinha cerca de 12 anos na época), faz uma interpretação digna de um Oscar. Vou sempre lembrar de Bobby Garfield quando ouvir falar deste ator. Enfim, um filme pra assistir e ficar com um nó na garganta. Só não entendo porque esse filme é tão pouco falado...

Quando e com quem ver esse filme? Com todo mundo. Vejam e recomendem pra todo mundo, porque é um filme muito bonito.

Ficha técnica:


Elenco: Anton Yelchin - Robert Garfield (novo)
Anthony Hopkins - Ted Brautigan
David Morse - Robert Garfield (adulto)
Mika Booren - Carol Gerber / Molly
Hope Davis - Liz Garfield
Direção: Scott Hicks
Produção: Kerry Heysen
Roteiro: Stephen King (autor do livro)
Trilha sonora: Mychael Danna
2001 - EUA / Austrália - 101 minutos - Drama

sábado, 16 de abril de 2011

Apollo 13

Um bom filme que não deveria existir.

Não é atoa que o filme fez tanto sucesso nos EUA. Os 3 astronautas foram transformados em heróis nacionais, bem ao estilo americano. E o grande feito deles foi... sobreviver. Obama ganhou um Nobel só por ser o primeiro presidente negro dos EUA, então, para os padrões estadosunidenses, tá ótimo. Mas pra qualquer um com um pouco mais de senso crítico, tudo isso é muito forçado.

Sobre o roteiro: Como o filme é baseado em fatos (supostamente) reais, a história já é conhecida. Uma espaçonave é lançada em uma missão à Lua, mas acontece um acidente no módulo que torna a volta pra casa uma tarefa dramática. Dramática demais. De fato tão dramática, que fica patética. E aí, vira aquela coisa: Os EUA (e supostamente o mundo inteiro) parados na expectativa de ver o desfecho, todo mundo que pode fazer algo à respeito se empenha como se nada mais importasse para trazer os "heróis" de volta, e todos o valores americanos são exacerbados a níveis deprimentes. Coisa digna de Superman, só que tentam nos convencer de que foi exatamente assim. Aí é tenso.

O que esse filme tem de especial? Ao se tratar de um tema tão politicamente explorado, o filme tinha que soar o mais convincente possível. À depender do elenco, o filme conseguiria. Todo mundo trabalha muito bem, e a gente realmente tem a sensação de desespero, tensão e apreensão que eles têm. Só que pra se convencer desse roteiro tão recheado de hipocrisia e nacionalismo doentio, é necessário querer. E por isso, tanto sucesso nos EUA, onde os cidadãos adoram exaltar seus ícones. Mas eu não nasci lá.
Os efeitos especiais também são ótimos, revolucionários para a época.

Quando e com quem ver esse filme? Com quem não tem senso crítico, ou com americanos e seus simpatizantes (acho que são sinônimos, mas enfim...). É um grande filme, só que insistir que as coisas aconteceram daquele jeito é barra pesada. Feito para promover o americanismo. Eu não perdoei.

Ficha Técnica:


Elenco: Tom Hanks - Jim Lovell
Bill Paxton - Fred Haise
Kevin Bacon - Jack Swigert
Gary Sinise - Ken Mattingly
Ed Harris - Gene Kranz
Direção: Ron Howard
Produção: Brian Grazer
Roteiro: William Broyles Jr. & Al Reinert
Trilha sonora: James Horner
1995 - EUA - 140 minutos - Drama

quinta-feira, 14 de abril de 2011

The Sorcerer's Apprentice (Aprendiz de feiticeiro)

Como eu já disse anteriormente, um roteiro ruim não precisa necessariamente virar um filme ruim. Mas é isso que se espera. Quando a Disney propôs a Johnny Depp o papel de Jack Sparrow, ele disse "esse roteiro é tão ruim, mas tão ruim, que eu vou aceitar o papel". Nunca vi a fonte, mas deu tão certo que sairam mais duas sequências e a próxima está em produção. Nicholas Cage mesmo já conseguiu fazer um fraco roteiro de "National Treasure" se tornar até um bom filme. Bobo, mas bom. Mas alterna entre excelentes filmes (8mm, God of War, Kick-Ass, Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans, entre vários outros - maioria) com filmes lamentáveis (Ghost Rider, Gone in sixty seconds). Não estamos aqui falando de um dos seus melhores momentos...

Sobre o roteiro: Vou fingir que estraguei a surpresa de todo mundo contando o filme: Um poderoso feiticeiro treina um jovem que é o "escolhido" e não sabe disso, para ajudá-lo a derrotar um vilão que é mau só por ser mau, sem uma justificativa decente, e que quer liberar uma feiticeira ainda mais nefasta (tinha que ser Morgana LeFay...) que quer destruir o mundo. Claro, também sem motivo. Uma pitada de comédia de piadas e situações clichês do que se pode esperar ao ver a sinopse ou o trailer, um romancezinho adolescente que todo mundo sabe como vai se desenrolar e terminar, um dramazinho, o "mal" quase triunfa, mas com um golpe de misericórdia, e de repente, o escolhido aparece e salva tudo. Ficou parecendo Felipe Neto esse texto... mas respondam pra si mesmos: Eu realmente estraguei alguma surpresa, ou é mais ou menos isso que vocês esperavam quando ouviram falar desse filme e viram que era uma produção da Disney?

O que esse filme tem de especial? Há de se reconhecer que com um orçamento de U$150.000.000, há de se ter efeitos especiais de primeira. e ele tem. Os efeitos das bobinas de Tesla são um espetáculo à parte. Principalmente pra mim foi legal, pois não tem muito mais de 2 ou 3 meses que eu aprendi alguma coisa sobre esse equipamento que eu nunca havia ouvido falar, e ver isso em funcionamento é bem legal. Não sou de reparar muito nessas coisas, mas o figurino do personagem de Nicholas Cage é interessante. Fiquei com vontade de ter um chapéu daquele, e um sobretudo também (que sempre achei uma peça legal, mas quando eu uso um, com esse cabelão, invariavelmente sou associado ou a "metaleiro de Matriz", ou a Neo).
Há de se notar que, se é isso que restou para citar como o que o filme tem de especial, é porque tá difícil...
Ah, faltou falar da trilha sonora. Não é nada genial, mas quando se trata de Trevor Rabin, geralmente é boa. E é o caso.

Quando e com quem assistir a esse filme? Essa é fácil! Ideal pra ver com as crianças. Filme leve, sem sexo, sem violência, sem palavrões... padrão Disney. Sem graça também, desculpe. Mas pra juventude vai ser legal. Tudo bem, é puro entretenimento, e cumpre bem essa função. Não tem ambição de ser mais que isso. Mas ficou com tantas críticas porque... simplesmente um filme que vai servir só como entretenimento pode ser muito melhor que isso sem deixar de cumprir sua função principal. Vejam, por exemplo, a franquia Pirates of the Caribbean, ou ainda, Shrek. À princípio, entretenimento puro. Mas muito bem feito, ótimo texto, e tudo mais. E aqui, paramos no entretenimento. Com isso em mente, verifique se é o que você procura.

Ficha técnica:


Elenco: Nicholas Cage - Balthazar Blake
Jay Baruchel - David Stutler
Alfred Molina - Maxin Horvath
Monica Belucci - Veronica Gorloisen
Teresa Palmer - Rebecca Barnes
Direção: Jon Turteltaub
Produção: Jerry Bruckheimer
Roteiro: Doug Miro, Carlo Bernard & Matt Lopez
Trilha sonora: Trevor Rabin
2010 - EUA - 111 minutos - Aventura / Fantasia

quarta-feira, 13 de abril de 2011

The Imaginarium of Doctor Parnassus (O mundo imaginário do Doutor Parnassus)

Um filme injustiçado. E não que seja culpado disso. Mas ficou na história apenas como "o último filme de Heath Ledger antes de morrer", ou "uma homenagem a Heath Ledger", ou coisa parecida. Tá, depois que fez o papel de Joker em Batman - The Dark Knight, ele realmente merecia alguma homenagem. Pra isso, os prêmios que ganhou postumamente supostamente seriam suficientes para tal, pois convenhamos, era bom ator, mas seu único papel realmente genial foi o  Coringa. Depois de morto, acho que elevaram o cara a um posto que não tenho certeza de que seja merecedor. Mas enfim, este filme aqui é muito bom.

Sobre o roteiro: Todo mundo aí sabe quem é Terry Gilliam? Ator do Monty Python, aclamado diretor de, por exemplo, 12 Monkeys, etc?! Pra quem não sabe, não sabe o que está perdendo. Ele é o diretor e roteirista desse filme,o que explica o quanto esse filme é fantasioso e surrealista. A idéia principal é: As pessoas atravessam um espelho mágico e entram em um mundo de fantasia regido pela imaginação do Doutor Parnassus, um ancião que lidera um circo itinerante, e faz dessa a sua principal atração. Daí pra frente, surrealismo atrás de surrealismo. Pura piração, psicologia e filosofia. Um filme inteligentíssimo, um legítimo exemplar de uma obra típica de Terry Gilliam, cheio de reviravoltas (nunca gostei dessa palavra, mas não consigo pensar num sinônimo adequado) e surpresas. Mas não posso me delongar sobre o roteiro sem estragar surpresas. Valeria citar uma importante e filosófica cena do diálogo no monastério, mas vou deixar que vejam por si mesmos. Vale a pena.

O que esse filme tem de especial? Non-sense. Na verdade, non-sense a um nível tão alto que acho que nem os próprios Monty Python atingiram. Efeitos visuais dignos de sonhos. Um elenco de primeira. E principalmente, a imaginação de Terry Gilliam. Heath Ledger passaria meio despercebido se não tivesse todas as atenções do mundo voltadas para ele depois de sua morte, mas trabalha bem. O destaque vai mesmo para Christopher Plummer e para a rápida, mas excelente participação de Johnny Depp.

Quando e com quem ver esse filme? Isso é um problema. Seria indelicado, prepotente e preconceituoso da minha parte dizer isso, mas não é qualquer pessoa que tem a inteligência necessária para apreciar os vários elementos desse filme. É um filme difícil que não fala diretamente, insinua, estimula o pensamento, sugere. Talvez seja válido usar o seguinte filtro: Não assista com quem ri de Zorra Total, com quem critica The Matrix e recomende pra quem é fã de Monty Python. E assista o filme quando estiver procurando por algo bem diferente do que Hollywood costuma fazer. Bem diferente.

Ficha técnica:


Elenco: Christopher Plummer - Doctor Parnassus
Heath Ledger /Johnny Depp / Jude Law / Colin Farrel - Tony Shepherd
Tom Waits - Nick / Diabo
Lily Cole - Valentina Parnassus
Verne Troyer - Percy
Direção: Terry Gilliam
Produção: Samuel Hadida, Amy Gilliam, William Vince & Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam & Charles McKeown
Trilha sonora: Jeff Dana e Mychael Danna
2009 - Inglaterra / Canadá / EUA - 122 minutos - Drama / Fantasia

segunda-feira, 11 de abril de 2011

The Girl Next Door (Show de vizinha)

Puro entretenimento. Nenhuma pretensão além disso. Nada de querer ser genial, de querer inovar, nada. Só mais uma comédia adolescente americana. Com isso em mente, dá pra saber o que podemos esperar e exigir do filme. E, assim, podemos dizer que é um filme muito bom, dentro do que se propõe.

Sobre o roteiro: Algo original e inusitado, mas recheado de coisas que já vimos várias e várias vezes. Um jovem estudante prestes a se formar, com todos aqueles elementos que se espera desse tipo de filme, e que se apaixona por sua vizinha, que o coloca em situações embaraçosas enquanto também se envolve pelo rapaz. Porém, Matthew descobre que Danielle é uma atriz pornô. É aqui que o filme passa a ter um elemento de originalidade, um diferencial para os filmes do gênero. Daí pra frente, nada muito diferente. Comportamento de jovens apaixonados e inconsequentes, amigos tarados e nerds, e o resto dos estereótipos sempre presentes. Mas o filme traz boas piadas e situações engraçadas, vale citar a cena do Kelly e o Matthew no carro, e a "viagem" de Matthew ao ver Danielle vendo seu álbum de fotos. Não é Monty Python, nem Woody Allen, mas como humor pastelão, é bom. Humor é muito relativo, mas este, embora fuja dos meus padrões, me agradou.

O que esse filme tem de especial? O roteiro tem uma premissa ousada. Nós estamos acostumados com a cultura americana, e esta, por sua vez, está acostumada a algo que uma vez eu li como sendo "moralismo de cuecas". Quer dizer basicamente o seguinte: Tudo bem um cara só de cueca e uma mulher de lingèrie se esfregando em situações eróticas. Mas uma mulher não pode aparecer com um seio de fora nem pra amamentar um bebê, que já é apelação. Então, podemos dizer que ao tocar no tema que este filme toca, ele transgride aquela linha entre o aceitável e o chocante, polêmico. Além desse fator, tem um aspecto técnico também que eu acho bem legal, que é aquela coisa daquele desenho "Bobby's World", de mostrar uma cena inusitada, e depois mostrar que aquela cena só aconteceu no devaneio da cabeça do personagem, e não no "mundo real". E o filme usa isso algumas vezes. Longe de ser um recurso original, mas não creio que seja um clichê. E ainda me agrada. E tem uma trilha sonora bem legal também, com direito a Queen e The Who. Além de uma pontinha de Olivia Wilde, a Thirteen de House M.D.

Quando e com quem ver esse filme? Se leram até aqui, já devem estar imaginando com que tipo de pessoa esse filme vai colar ou não. Vale citar também que o filme tem uma ou outra cena de nudez, e, com esse "moralismo de cuecas" em alta, alguns podem ver de uma forma, outros de outra forma. Mas é uma boa comédia pra relaxar. Dificilmente vai arrancar gargalhadas, mas dificilmente vai cansar.

Ficha técnica:


Elenco: Elisha Cuthbert - Danielle
Emile Hirsch - Matthew Kidman
Timothy Olyphant - Kelly
Paul Dano - Klitz
Olivia Wilde - Kellie
Direção: Luke Greenfield
Produção: Charles Gordon, Harry Gittes & Marc Sternberg
Roteiro: Stuart Blumberg, David T. Wagner & Brent Goldberg
Trilha sonora: Paul Haslinger
2004 - EUA - 110 minutos - Comédia

One flew over the cuckoo's nest (Um estranho no ninho)

"Apenas 3 filmes receberam os cinco principais prêmios da Academia - Melhor AtrizMelhor Ator, Melhor Roteiro (Adaptado ou Original), Melhor Diretor e Melhor Filme - são eles:Aconteceu Naquela Noite, em 1934Um Estranho no Ninho, em 1975 e O Silêncio dos Inocentes, em 1990." (Wikipedia).


Não assisti "Aconteceu naquela noite", mas concordo irrestritamente que os outros dois mereceram. O filme aborda uma das maiores atrocidades já concebidas e aceitas pela humanidade: Os manicômios.


Sobre o roteiro: A obra é baseada no livro homônimo de Ken Kesey. Randle McMurphy é um prisioneiro subversivo, considerado agressivo e instável, que supostamente finge de doente mental para escapar do trabalho forçado da prisão e poder se internar num hospício. E uma vez internado, aquele lugar sofre os múltiplos efeitos do seu comportamento. O roteiro é sensacional, e repleto de personagens interessantíssimos e bem estruturados, e uma das maiores vilãs da história do cinema, se analisarmos sua frieza. A cada cena, esperamos um desfecho que nunca passa nem perto de acontecer. São surpresas atrás de surpresas, nesse filme que alterna, genialmente, comédia e drama num piscar de olhos.
Não menos importante, devemos destacar os horrores que o filme "denuncia". Tratamentos de choque, desprezo pelos pacientes e pelo que estes pensam ou sentem, tratamentos à força e brutalidade, entre outras coisas que nos dão vergonha de pertencer a mesma espécie que os que aplicam esses métodos. Sem mencionar o que é feito com nosso carismático protagonista no fim do filme, que nos deixa com uma interrogação na cabeça por alguns instantes, e nos permite duas ou três interpretações possíveis para este enigmático desfecho. O filme também é carregado de simbolismos e metáforas. Não é um dos maiores clássicos da história atoa.


O que esse filme tem de especial? Lembra dos Oscar que falei? Pois é. E quando eu disse no post anterior que Oscar não é sinônimo de qualidade, bom... posso morder a língua depois, mas naquela época eu acho que era sim. O apelo comercial era menor que hoje. O foco era outro. Atuações impecáveis de Jack Nicholson (um dos mais laureados atores de Hollywood), Louise Fletcher, William Redfield, Christopher Lloyd e do injustiçado Will Sampson. Danny DeVito também mandou bem. A direção também é muito boa.
O filme é mais um daqueles pra assistir e ficar um mês com ele na cabeça viajando nas idéias levantadas. Certamente serviu de modelo para vários outros filmes de temática ou ambiência parecidos, como K-pax, 12 Monkeys, e o nacional Bicho de Sete Cabeças. Vale muito a pena assistir. É TOP.


Quando e com quem assistir a esse filme? Eu não tenho nenhum veto a recomendar, mas não diria que é adequado para crianças. Fora isso, qualquer pessoa de mente aberta vai gostar muito. E assistam quando puderem prestar atenção no filme para abstrair as suas muitas nuances. 


Ficha técnica:


Elenco: Jack Nicholson - Randall Patrick McMurphy
Louise Fletcher - Mildred Ratched
William Redfield - Harding
Brad Dourif - Billy Bibbit
Christopher Lloyd - Taber
Will Sampson - Chief
Danny Devito - Martini
Direção: Milos Forman
Produção: Saul Zaentz & Michael Douglas
Roteiro: Bo Goldman & Lawrence Hauben
Trilha sonora: Jack Nitzsche
1975 - EUA - 133 minutos - Drama

Black Swan (Cisne Negro)

Com esse filme, percebi a diferença entre um bom filme e um filme que nunca mais será esquecido, e que recomendaremos pra todo mundo pra sempre: O roteiro. Mas percebi que roteiro bom e filme bom não são sinônimos. Wuthering Heights, de William Wyler, por exemplo, tem um excelente roteiro (o livro homônimo), mas é um dos piores filmes que já assisti. E me surpreende saber que recebeu 8 indicações ao Oscar. Black Swan é o contraponto. Um excelente filme, com um roteiro fraco. Não diria que é uma comparação proporcionalmente válida, mas ainda assim, o roteiro é bobo.

Sobre o roteiro: Clichê. Uma dançarina de ballet que tem que lidar com a pressão de receber o papel mais desejado de sua companhia. E começa a ter surtos psicóticos por isso. Assistindo o filme, somos surpreendidos em vários momentos, não posso negar. Mas não necessariamente uma surpresa legal. Simplesmente foge um pouco do óbvio, e apesar de não acontecerem as primeiras coisas que esperamos, acabam acontecendo a quarta ou quinta coisa que pensamos. Não há quase nada de "Nossa! Essa realmente eu nunca iria imaginar!", e, invariavelmente, só os mais desatentos se surpreenderão com o final. Então é um filme ruim? A resposta está logo abaixo.

O que esse filme tem de especial? A resposta para a pergunta é: Não mesmo. O diretor é Darren Aronofsky. É o 3º filme dele que assisti (os outros foram, respectivamente, The Wrestler e Requiem for a Dream, que já comentei na estréia do blog), e esse filme só reforça a grande competência desse diretor, e farei questão de ver os outros dois filmes dele que ainda não vi. Ele é um dos diretores que realmente trabalha pra fazer o filme ficar bom. Ele coloca as características que realmente transformam o filme em obra de arte. É ele que nos deixa envolvidos na trama, e que nos confunde em relação a o que é real e o que é psicose. A montagem é sensacional, as cenas são muito bem pensadas, é bem legal. O roteiro é previsível e fraco, mas o filme não. Aronofsky, sem dúvida, é a razão para o filme ter feito tanto sucesso. Creio que o Oscar que o filme levou deveria ser de melhor diretor, e não melhor atriz. Mas já digo que não vi The King's Speech para comparar, e nem nenhum dos outros filmes indicados a "melhor atriz", apesar de que a atuação de Natalie Portman realmente ser muito boa. Mas, se fosse pra dar um prêmio da Academia pra ela, deveria ser por Evey, em V for Vendetta. Nesse sim ela foi fantástica. Pena que esse tipo de filme não é lembrado nessas ocasiões, mas quem disse que o Oscar é termômetro de qualidade?!
O filme é muito bom, mas não graças ao roteiro.

Quando e com quem ver esse filme? Tem uma dançarina de ballet e O lago dos cisnes, mas a fragilidade do filme pára por aí. É um filme muito pesado, com muitas cenas fortes e um drama psicológico muito carregado. Não é para mentes fracas. Já quando... não faz tanta diferença.

Ficha técnica:


Elenco: Natalie Portman - Nina Sayers
Vincent Cassel - Thomas Leroy
Mila Kunis - Lily
Barbara Hershey - Erica Sayers
Wynona Ryder - Beth MacIntyre
Direção: Darren Aronofsky
Produção: Ari Handel, Scott Franklin, Mike Medavoy, Arnold Messer & Brian Oliver
Roteiro: Mark Heyman, Andres Heinz e John McLaughlin
Trilha sonora: Clint Mansell (música de Pyotr Tchaikovsky)
2010 - EUA - 108 minutos - Drama

sábado, 9 de abril de 2011

A time to kill (Tempo de matar)

Também não li o livro.

Se eu tivesse escrito sobre esse filme a uns dois anos, eu diria que o filme é genial, e me renderia em elogios ao roteiro. Hoje minha posição em relação ao tema desse filme mudou drasticamente, e penso outras coisas a este respeito. Mas não é um blog de política, então reservarei minhas opiniões para uma mesa de bar.

Sobre o roteiro: É mais um texto que facilita minha tarefa, pois posso contar o filme quase todo, que ainda assim ele se mantém interessante, pois o importante aqui não é o desfecho, mas o desenrolar da trama.
Uma menina de dez anos é estuprada por dois brancos sulistas no racista estado do Mississipi. Como ela é negra, o pai da criança não concorda com a punição muito branda, e resolve fazer justiça com as próprias mãos e mata os estupradores. Por essas mortes, é preso e julgado. E a história do filme é sobre Jake Brigance, o advogado que o defende, e como foi este julgamento.
Tem alguns elementos que podem ser destacados e discutidos individualmente. Cada um deles gera discussões extensas. Vamos a eles. Primeiramente, o foco do filme: Racismo. A gente sabe que, devido a um processo histórico, a cultura do Sul dos EUA é de desprezo aos negros (prefiro não usar o termo "preconceito", pois o verdadeiro sentido dessa palavra foi substituído por um significado tácito deturpado). E naquele contexo de segregação e desrespeito aos afro-americanos, a situação exige mais do que frases de efeito para se resolver, mas o filme aborda corajosamente a diferença de tratamento que normalmente ocorre nesses estados. Claro que isso se repete em várias partes do mundo, mas em proporções diferentes. E lá é numa proporção enorme. Próximo tópico: Sistema judiciário. O roteiro aborda questões inerentes ao sistema judiciário americano (que é muito semelhante ao nosso, e do mundo quase todo), sobre como o sinismo, a hierarquia, a hipocrisia, a manipulação, entre outros recursos, são usados em substituição a um único recurso que poderia abolir de uma vez por todas com qualquer lei (e aqui o porquê da minha mudança de postura): O bom senso. Já disse que não vou me estender sobre os valores em que acredito, mas o filme mostra muitas precariedades de um sistema tão obsoleto, ineficiente, injusto e arcaico que envergonha a espécie humana. Mais um tema: Valores. Aqui um ponto que passa meio despercebido por alguns, mas que é crucial para o entendimento do comportamento humano num sistema de valores distorcido. O advogado vê sua vida pessoal se transformar num verdadeiro inferno por defender seu cliente, mas continua no caso, porque acredita no que defende. Bravo! Mas, se acredita tanto ao ponto de aceitar sacrifícios tão penosos que por si só já o transformam em mártir, porquê depois de tantas tragédias pessoais, ameaçar largar o caso porque seu cliente não o pode pagar? É mais uma distorção de valores absurda que o filme visa colocar como algo normal, onde o advogado é só mais uma vítima das circunstâncias, e precisa cobrar por seus serviços, mesmo quando a vida ou a morte de seu cliente dependem do seu trabalho, mas não tem como pagar por eles. E entra aqui outro elemento do roteiro: Quanto vale uma vida? Mais um: O que legitima uma lei que prevê a possibilidade de tirar uma vida de alguém que, nos padrões legais, merece tal punição?
Enfim, é um filme que vale muito a pena ser assistido, mas que, ao tentar criticar valores deturpados de uma sociedade e várias faces podres do sistema, acaba inconscientemente (ou conscientemente, embora eu suponha que não) defendendo outros valores ainda piores. Mas isso é outra discussão. O filme merece duas horas e meia da sua atenção, e a semana seguinte de reflexão. Mas não aceitem tudo que o filme traz como positivo e correto como realmente o sendo.

O que esse filme tem de especial? Excelentes atuações, dando muito realismo ao drama que a situação sugere, e um elenco estelar, que dá ainda mais crédito aos atores que já eram considerados ótimos. Destaque para Sandra Bullock, que, seja pelo texto, seja pela personagem, ou pela sua capacidade singular, tem uma atuação muito marcante. E o filme tem um roteiro que vai deixar muitas questões na cabeça. Algumas eu ainda tenho, mesmo tendo visto o filme pela 1ª vez a uns 10 anos ou mais. E eu não lembro de muitos outros filmes capazes de explorar tão bem tantos temas polêmicos quanto esse. Outra característica de menor importância, mas que eu sempre acho muito interessante, é o considerável número de personagens relevantes.

Quando em com quem assistir esse filme? 149 minutos. Com essa informação em mente, programe-se. O filme tem algumas cenas muito fortes, como a própria premissa original, do estupro da menina, e alguns ataques da KKK. Pessoas muito sensíveis podem não querer ver. Além disso, o próprio tema do filme é pesado. Pense nessas características quando for escolher a companhia.

Ficha técnica:


Elenco: Matthew McConaughey - Jake Brigance
Samuel L. Jackson - Carl Lee Hailey
Sandra Bullock - Ellen Roark
Kevin Spacey - Promotor Rufus Buckley
Oliver Platt - Harry Rex Vonner
Donald Sutherland - Lucien Wilbanks
Kiefer Sutherland - Freddie Lee Cobb
Ashley Judd - Carla Brigance
Direção: Joel Schumacher
Produção: Arnon Milchan, John Grisham, Michael Nathanson & Hunt Lowry
Roteiro: John Grisham
Trilha sonora: Elliot Goldenthal
1996 - EUA - 149 minutos - Drama

quinta-feira, 7 de abril de 2011

The Majestic (Cine Majestic)

The Majestic é um filme que serve. Quer dizer, tem uma história legal, atuações convincentes e roteiro comovente, característico de Frank Darabont. Mas, somando Frank Darabont e Jim Carrey, dá pra falar que deixa a desejar. Talvez tenha faltado o roteiro vir de um livro do Sthepen King, como é o caso de todos os outros filmes de Darabont, mas o triste é que este bom filme tem clichês demais, e torna uma história com potencial em previsível. Boa, mas totalmente previsível.

Sobre o roteiro: A idéia é legal. Um cineasta que se envolve em algumas coincidências que o associam ao comunismo. Naquele contexto, ser acusado de ser assassino, ou terrorista, traficante, ou qualquer outra coisa, era fichinha perto de um comuna. E nessas coincidências, o proeminente diretor sofre um acidente de carro, e vai parar numa cidadezinha interiorana, onde é confundido com um herói de guerra supostamente morto. Como havia perdido a memória (seqüela do acidente), aceita os fatos que lhes são propostos. Quando sua verdadeira identidade surge, porém, começam a acontecer coisas que jamais aconteceriam fora de uma tela. E não estou falando de coincidências. São realmente situações que se encaixam bem para o roteiro, mas não teriam a menor chance de ser repetirem no mundo real. E aí o filme começa a deixar de ser verossímil, e desperdiça uma boa idéia para ter um desfecho que já imaginamos desde o começo do filme, porque Hollywood já fez isso até enjoar. E aí caberia o elemento surpresa que Stephen King sempre tem na manga, mas ele não escreveu a história dessa vez, e ficamos no comum de novo.

O que esse filme tem de especial? A atuação do Jim Carrey como comediante lhe rendeu fama e controvérsias. Mas quando o gênero é drama, fica difícil superá-lo. Alguns filmes, como "Man on the moon" (um dos meus favoritos), "The Truman Show" e "Eternal sunshine of a spotless mind" atestam sua grande qualidade. E um dos pontos fortes deste filme também é o nosso Ace Ventura. Fora isso, tem um climinha de direitos civis, de liberdade de expressão. mas fica mais como demagogia do que como um discurso realmente digno de nota. E tem Jeffrey DeMunn de novo, como em... acho que todos os filmes do Darabont, pelo menos todos que já vi.

Quando e com quem ver esse filme? É ótimo para casais. É leve, bonito (mas previsível como já disse até enjoar), e até emocionante. Um drama, meio romance, sem maiores pretensões também. Ver sozinho pode cansar (como foi o meu caso).

Ficha técnica


Elenco: Jim Carrey - Peter Appleton / Luke Trimble
Martin Landau - Harry Trimble
Laurie Holden - Adele Stanton
Jeffrey DeMunn - Prefeito Ernie Cole
Direção: Frank Darabont
Produção: Jim Behnke, Frank Darabont & Linda Fields
Roteiro: Michael Sloane
Música: Mark Isham
2001 - EUA - 153 minutos - Drama

Good bye, Lenin! (Adeus, Lenin!)

Saindo um pouco de Hollywood, embora um filme aparentemente voltado para o público ocidental (se pensarmos no período da guerra fria). Um roteiro interessante que aproveita o contexto para uma história original. Ou pelo menos original para mim. Há quem diga que a idéia foi copiada do "A vida é bela", mas como este eu ainda não vi, não opino. Se alguém já tiver visto ambos e quiser comentar a respeito, seria legal. Aliás, se alguém quiser comentar qualquer coisa por aqui, seria legal também... Ah, não devo deixar de dizer que eu espereva um pouco mais do filme... não pela sinopse, ou do roteiro, e talz, é que realmente era um filme muito aclamado por pessoas do meu convívio que costumeiramente tem um ótimo gosto para cinema. E fiquei esperando ver um filme que inventaria a roda. Não é o caso, mas vale a sentada no sofá. Não é imperdível, mas é muito bom.

Sobre o roteiro: O legal de falar sobre esse filme é que dá pra contar a história inteira, mas ainda assim o filme fica interessante de assistir, porque não é o roteiro que atrai o espectador, mas o contexto. A história prinicpal gira em torno de uma mulher da Alemanha Oriental que sofre um ataque cardíaco e entra em coma, estado no qual ela fica durante 8 meses, período no qual a Alemanha sofre inúmeras mudanças, entre elas a queda do regime socialista do lado Oriental, a queda do muro de Berlin, e a reunificação da Alemanha. Quando acorda, seu caso ainda é grave, e ela precisa se privar de qualquer situação onde possa sofrer emoções fortes. Pensando nisso, seu filho decide levá-la para casa, e tenta esconder as transformações lá fora a todo custo, pois sua mãe era uma socialista convicta, e adorava seu modo de vida, que já não mais existe. Só que não dá pra controlar tudo e todos para evitar algumas falhas no plano. E é nesse cenário que a trama se desenrola.
O roteiro é altamente político e discute o tempo todo a dicotomia do socialismo x capitalismo. Não vou, neste blog, comentar sobre nenhum nem outro, mas o filme claramente mostra, acima de tudo, a chegada do capitalismo na Alemanha Oriental, e como quase todos estão felizes por saírem do "inferno socialista" e terem acesso ao "paraíso capitalista". O filme não é leviano ao ponto de execrar um sistema em benefício da defesa do outro, e mostra que existem pontos positivos e negativos em ambos sistemas, embora seja notavelmente tendencioso a expor aspectos socialistas de acordo com a propaganda Ocidental, e tudo mais, mas ainda assim, não diria que isso chega a comprometer o filme.

O que esse film tem de especial? Metáforas interessantes, e questões reflexivas em relação a importância de valores aprendidos com o tempo, com a família e com a sociedade, e situações muito inusitadas que podem transformar em segundos uma situação hilária em uma situação dramática, e vice-versa. E, tecnicamente falando, o filme é riquíssimo, em questões de fotografia (como a excelente cena em que a estátua de Lenin passa sendo carregada de helicóptero), uma narrativa diferenciada, e aquela inexplicável imagem típica do cinema europeu. Sabe aquela diferença de cores, de definição de imagem, que te fazem perceber, mesmo sem ver nenhuma dica reveladora, exatamente se você está assistido Record, Band, SBT ou Globo? O cinema tem dessas coisas também, e é fácil perceber se um filme foi rodado em Hollywood ou na Europa. Tem essa coisa diferente na imagem, que não sei dizer o que é, mas todo mundo vê.


Quando e com quem ver esse filme? Apesar de supostamente ser uma comédia, o gênero drama se encaixa melhor na descrição do filme, embora o elemento comédia esteja lá também. E não é um filme de fácil digestão, demanda alguma concentração para pegar algumas nuances.  É um filme pesado em termos de conteúdo, mas as cenas são leves. Pode ser assistido com qualquer pessoa que não vai ofender, mas alguns podem não se interessar, ou mesmo não entender o filme.

Ficha Técnica:


Elenco: Daniel Brühl - Alexander Kerner
Katrin Saß - Christiane Kerner
Direção: Wolfgang Becker
Produção: Stefan Arndt
Roteiro: Wolfgang Becker & Bernd Lichtenberg
Trilha sonora: Yann Tiersen & Claire Pichet
2003 - Alemanha - 121 minutos - Comédia / Drama

quarta-feira, 6 de abril de 2011

The Green Hornet (O Besouro Verde)

Não, eu não vi o seriado antigo. Também não vi o Bruce Lee como Kato. Aliás, nunca vi nenhum filme do Bruce Lee, e honestamente, o gênero que ele costumava atuar nem me interessa. Também nunca li os quadrinhos do Green Hornet. Só assisti o filme porque li o nome "Christoph Waltz". Isso já é suficiente para que eu veja qualquer filme onde este nome aparecer. Foi apenas seu segundo filme, mas é difícil vir a cabeça o nome de algum ator que supere este austríaco.

Ah, tá, o filme. Fui assistir procurando entretenimento. Lembrei do "Kick-ass", e criei uma expectativa semelhante. Não tem a genialidade do Kick-ass, mas segue uma linha parecida, e tem seus méritos. Diria que está um degrauzinho abaixo, por não ter um roteiro tão bom, nem o texto excelente, mas ainda é um filmão.

Sobre o roteiro: Realmente dá pra notar umas falhas de ligação. Tipo, Britt Reid decidiu se transformar em super-herói meio sem motivo, Kato se reconcilia com ele também sem motivo (aliás, com motivos para não o fazer), e eles confiam rápido demais em Lenore, que acabaram de conhecer. Chudnofsky também não precisava matar seus capangas a esmo. Sempre senti dificuldade em aceitar vilões que matam seus aliados por futilidades na frente dos outros aliados. Supõe-se que, diante da falta de confiança que se pode ter no patrão, o óbvio seria fugir dele, ou ainda mais óbvio, traí-lo. Eu não seria o braço direito de um cara que pode me matar por ser sincero quando ele me pede uma opinião sobre algo trivial. Mas segue a resenha. Não é um roteiro original, apesar de ter elementos que fogem um pouco do padrão (que prefiro não estragar a surpresa de quem for assistir), mas serve para manter os pontos fortes do filme: Ação frenética, cenas muito bem boladas (e caríssimas), efeitos interessantes, banhos de sangue dignos de Tarantino, um texto cômico, situações inusitadas, entre outros. Só, por favor, não esperem realismo. Não assista o filme se achou que "The Matrix Revolutions" é um filme ruim por que as cenas de ação são muito mentirosas. Eu prefiro não dizer publicamente o que penso de quem assiste filmes sob essa perspectiva, mas adianto que, embora em proporção bem menor, alguns desses elementos estão aqui.

O que esse filme tem de especial? Em primeiro lugar, Christoph Waltz. Pra mim, esse cara está para a atuação como Bach está para música, ou Pelé para o futebol. Um olhar, uma frase pronunciada, uma expressão facial, qualquer movimento dele é diferenciado, é dramático, é fantástico. Pra mim, já entrou no mesmo hall de Robert DeNiro, Al Pacino, Anthony Hopkins, Brad Pitt, Johnny Depp e cia, como um dos melhores atores de Hollywood. Se é que não está um degrauzinho acima... vamos esperar pra ver mais trabalhos dele.
Seth Rogen me surpreendeu positivamente. Seu único outro filme que já tinha assistido é o fraquíssimo "Pagando bem, que mal tem?", e até desanimei um pouco ao ver que ele é o protagonista. Mas aqui até que trabalhou bem. Nada genial, mas nada mal. Fez bem o que tinha que fazer, e deixou o personagem interessante, com personalidade. Cameron Diaz faz bem seu papel, apesar de ser pouco mais do que uma figurante, e Jay Chou... como dizer isso sem soar preconceituoso... atuou como um típico lutador oriental. Sem muita expressão, sem muitas falas, e muita porrada. Mas, apesar das características citadas, paradoxalmente isso funcionou muito bem para seu carismático personagem.
Focando sobre o filme, empolga pra quem o assistir como uma comédia. Vai ficar na memória por algum tempo, mas não é nada revolucionário. E nem pretende ser. Recomendo, mesmo.

Quando e com quem assistir esse filme? Quando quiser rir, e com quem não tem problemas com violência gratuita fictícia. E definitivamente, tire os fãs de Jet Li e cia de perto. Mas tire mesmo. Isso não é negociável. Eles vão estragar sua diversão com o filme com comentários e comparações descabidas. Ah, se você for o fã do Jet Li, obviamente, não o veja.

Ficha Técnica:


Elenco: Seth Rogen - Britt Reid / Besouro Verde
Jay Chou - Kato
Christoph Waltz - Chudnofsky / Bloodnofsky
Cameron Diaz - Lenore Casey
Tom Wilkinson - James Reid
Edward Furlong - Tupper
Direção: Michael Gondry
Produção: Neal H. Moritz
Roteiro:  Seth Rogen & Evan Goldberg
Trilha sonora: James Newton Howard
2011 - EUA - Comédia / Ação / Super-herói

domingo, 3 de abril de 2011

The Green Mile (À espera de um milagre)

Não era minha intenção falar de unanimidades, por ter pouco ou nada a acrescentar a reputação dos filmes, mas como eu revi o filme ontem, vale a pena falar dele. E lá vamos nós de novo, com Frank Darabont adaptando Stephen King de novo.

Sobre o roteiro: Todo mundo já conhece esse filme que é o que mais arrancou lágrimas na história recente (já não tão recente assim) do cinema. Os elementos de King estão lá de novo: Sobrenatural, comportamento humano, tragédia. Os elementos são quase sempre os mesmos, apesar de serem paradoxalmente surpreendentes sempre. O que não está presente é o elemento "monstro". Isto é, se connsiderarmos o "Wild" Bill e o Percy como monstros, eles estão lá, mas como não tem tentáculos, não tem superpoderes, nem dupla personalidade, nem nada disso, são "apenas" vilões tradicionais. Excelentes personagens, mas fugindo um pouco do habitual.
Creio que tem uns 5 atores merecedores de prêmios por suas atuações. Michael Clark Duncan é destacado como John Coffey, Sam Rockwell está tão bom como o psicótico "Wild" Bill quanto Brad Pitt esteve em The Twelve Monkeys. Michael Jeter foi perfeito como Eduard Delacroix, e Doug Hutchinson foi provavelmente o mais odiado dos vilões como o arrogante policial Percy Wetmore. Isso acabou ofuscando o brilho de Tom Hanks, que ficou em segundo plano, mesmo sendo o protagonista. Jeffrey DeMunn está lá de novo, como em praticamente todos os filmes de Darabont e em várias adaptações de King.


O que esse filme tem de especial? Vários nós na garganta. São 3 horas de filme que prendem totalmente a atenção. Além de vários questionamentos levantados. A pena de morte "vale a pena"? Essa forma de justiça de punir as pessoas pelos seus crimes aliviam a dor de ter sido vítima de seus delitos? Até onde a eficiência do judiciário identifica corretamente o criminoso? O arrependimento de ter cometido um crime e o peso na consciência de viver o resto da vida com o peso na consciência de ter feito algo muito errado no passado já não seriam o suficiente como "pena"? Existe reabilitação de um criminoso? Tem outras questões bem maiores também, como: Até onde a "obrigação" e a "responsabilidade" de fazer algo contrário a tudo que acreditamos é maior do que o que estamos dispostos a fazer? Enfim, é um filme para ver e pensar.

Quando e com quem ver esse filme? Pensei, pensei, e não achei nenhuma contra-indicação... acho que será excelente para qualquer um, a qualquer hora. Ah, por falar em hora, vale reforçar que as 3 horas de filme fogem do padrão, então...

Ficha técnica:


Elenco: Tom Hanks - Paul Edgecomb
Michael Clark Duncan - John Coffey
Sam Rockwell - "Wild" Bill
Doug Hutchinson - Percy Wetmore
Michael Jeter - Eduard Delacroix
David Morse - Brutus Howell
Jeffrey DeMunn - Harry Tewilliger
Direção: Frank Darabont
Produção: Frank Darabont & David Valdes
Roteiro: Stephen King (autor do livro)
Trilha sonora: Thomas Newman
1999 - EUA - 188 minutos - Drama

sábado, 2 de abril de 2011

The Mist (O Nevoeiro)

Quando uma obra do Stephen King vira filme, eu pessoalmente crio uma expectativa enorme, porque muito raramente ela não é correspondida. Felizmente, este filme traz muito bem os principais elementos do seu repertório: Elemento sobrenatural, comportamento humano, estereótipos, e tragédia. Além, é claro, de muito sangue. Dá pra dizer que é um dos melhores filmes baseados em obras dele.

Sobre o roteiro: Basicamente, surge um nevoeiro na cidade, que pega alguns dos moradores de uma pacata cidade dentro de um supermercado. Mas há algo no nevoeiro que, à princípio, ninguém quer acreditar, mas aos poucos, o ceticismo deixa de ser uma opção. Quase todas as bizarrices imagináveis saem dessa densa neblina, e a luta pela sobrevivência começa a despertar diferentes reações nas pessoas, desde o fanatismo religioso repentino, até a luta de uns contra os outros em relação ao que deve ser feito para garantir a sobrevivência da maioria. Depois de explorar bem as diferentes facetas do comportamento humano diante do absurdo, onde as leis, valores e costumes simplesmente deixam de ser relevantes, o filme nos leva a um final tão surpreendente, cruel e devastador, que até para os padrões das obras do Stephen King soa como perverso. Mas o filme não é menos do que imprevisível, e imperdível. Com o perdão da palavra, Stephen King sabe fazer o espectador cagar tijolos...

O que esse filme tem de especial? A história veio da cabeça do Stephen King. Isso já diz muito sobre o que esperar. E preparem-se para levar um chute na boca do estômago com o desfecho da história. Mas não dá pra falar muito sobre o filme sem estragar surpresas. Então vejam. Aposto minha credibilidade nessa indicação (não que ela valha alguma coisa, mas...).

Quando e com quem ver esse filme? Mais um pra não ver com quem não gosta de ver a tela ficar vermelha. Cenas pesadas são frequentes. Ah, eu já falei que o filme tem um final perturbador?!

Ficha Técnica:


Elenco: Thomas Jane - David Drayton
Marcia Gay Harden - Srta. Carmody
Andre Braugher - Brent Norton
William Sadler - Jim
Jeffrey DeMunn - Dan Miller
Direção: Frank Darabont
Produção: Frank Darabont, Martin Shafer & Liz Glotzer
Roteiro: Stephen King (autor do livro)
Trilha sonora: Mark Ishan
EUA - 2007 - Suspense / Ficção científica

District 9 (Distrito 9)

Dava pra ser melhor... é com essa sensação que a gente fica quando termina de ver o filme. Eles criaram uma idéia e um conceito muito originais e interessantes partindo de clichês sacados, mas fizeram um roteiro que compensa toda a originalidade com mais clichês. Mas ainda assim vale a pena ser assistido.

Sobre o roteiro: Com 3 minutos de filme, já entendemos o contexto: Uma nave alienígena pára sobre Johannesburg, e depois de desistir de esperar algum sinal, o governo decide entrar na nave, e constatar que os alienígenas estão morrendo, de fome e doenças. Então, a MNU (uma ONU do filme) se encarrega de cuidar dos ET's (pejorativamente chamados de camarões, pelos humanos), mas os tratam como lixo. À partir daí, tire os efeitos especiais, aproveite a cidade-palco da história, e reviva o Apartheid. Acrescente o interesse dos humanos pela tecnologia (recursos) dos aliens, e reviva a Guerra do Iraque. Até aqui duas alegorias até bem-feitas e convincentes, mesmo não sendo originais. Mas tem mais um elemento batido e repetido: O protagonista que odeia seus inimigos, até se ver do outro lado. Até tem algumas questões interessantes levantadas sob este cenário, como: Até onde seus valores e sentimentos tem base real além do condicionamento ao qual você foi submetido durante toda a sua vida? Até onde você é responsável pelo seu comportamento quando você é constantemente compelido a manter o padrão? Acho que essas questões são o principal trunfo do filme, ainda que não sejam originais.

O que esse filme tem de especial? O produtor é o Peter Jackson, logo, o foco não foi numa história interessante (pena), e nem em uma "filmagem artística" (pena também) ou edição diferenciada (pena outra vez), mas sim nos efeitos especiais e nos demais elementos Hollywoodianos. Nada contra, achei legal pra caramba, mas isso deveria ser ferramenta para fazer um roteiro se tornar interessante na telona, e não o contrário. E este diretor representa uma safra de diretores que só se preocupam com efeitos e números. Ah, vale a pena citar a narrativa, que também traz um elemento interessante, de tentar transformar uma ficção em documentário, com reportagens e depoimentos o tempo todo, mas mais uma vez o filme peca pelo excesso, e essa narrativa de tentar explicar o tempo todo o que está acontecendo é um ponto negativo. Enfim, a sensação é que o filme deixa o terreno pronto pra um roteiro arrebatador, mas usa uma fórmula já muito explorada. Dá aquela sensação de "é só isso?!". É um drama que fica muito mais como um filme de ação do que como um drama mesmo. E também vale citar que, apesar de ninguém merecer um Oscar, são muito bons os desconhecidos atores do filme.

Quando e com quem ver esse filme? Tire da sala pessoas que não gostam de algumas (não muitas) cenas fortes, como mutação e mutilação, e... é, acho que só. Roteiro sem grandes contra-indicações. Dentro de alguns círculos, o filme até passa por cult, se ninguém ficar com aquela sensação de que já viu essa história antes...

Ficha técnica

Elenco: Sharito Copley - Wikus van der Merwe
David James - Coronel Koobus
Jason Cope - Alienígena Christopher Johnson
Louis Minnaar - Piet Smit
Eugene Khumbanyiwa - Obesandjo
Vanessa Haywood - Tania Van De Merwe
Direção: Neill Blomkamp
Produção: Peter Jackson & Carolynne Cunningham
Roteiro: Neill Blomkamp & Terri Tatchell
Trilha Sonora: Clinton Shorter
2009 - África do Sul / Nova Zelândia - 112 minutos - Ficção Científica