quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Watchmen

Algumas vezes eu acho que eu disse que alguns filmes merecem ser vistos mais de uma vez. E já devo ter dito que alguns filmes empolgam tanto que angaria fãs. Estamos diante de um exemplo.

Antes de falar sobre ele, uma ressalva, que também já devo ter feito em algum momento por aqui: Quando um filme é feito baseado em outra obra, temos que fazer uma experiência de alteridade. Uma coisa é o filme, outra é a obra original. Com exceção de Outsiders e Batman - The Dark Knight, acho que nunca vi nenhum filme depois de ver a obra inspiradora (livro, gibi, jogos, etc.) que eu tenha ficado satisfeito plenamente. A coisa mais clichê que existe sobre cinema é falar que o filme não está à altura do original. Eu não conheço as HQ's dos Watchmen, e minhas impressões não são sugestionadas pelos quadrinhos.

Sobre o roteiro: Uma das coisas mais legais do roteiro é que ele vai em vem no tempo. A trama se desenrola em 1985, apesar de várias cenas do passado. Não é uma característica inovadora, mas é uma característica que eu quase sempre gosto. Outra coisa que pode soar como spoiler, mas sem dar nome aos bois não o é, é em relação ao tradicional maniqueísmo de Hollywood. O vilão, no fundo, não é um vilão, e os mocinhos, no fim das contas, não estão exatamente com a razão.

Mas o principal do roteiro são os vários questionamentos que ele levanta. Apesar de ter acabado de assistir o filme de novo, vou ter dificuldades para lembrar de todos. Primeiramente, a guerra fria. Quais seus reais motivos? O que acontecia e o que parecia que acontecia durante o período? Outra coisa interessante: No universo de HQ's da Marvel existe uma saga chamada "Guerra Civil", cujo tema é o direito a uma segunda identidade dos super-heróis, que, ao usarem um alter-ego, estariam acima da lei. Então o governo proíbe as duplas identidades, de forma que ou os heróis revelavam suas identidades, ou param de "atuar". E isso divide os heróis. Neste filme, temos algo parecido, embora quase todos optem por se aposentarem. Mais uma coisa legal do filme, é que os personagens tem seus lados e seus problemas humanos também. Mas muito mais bem desenvolvidos do que qualquer Peter Parker. Os personagens aqui tem problemas como todo mundo: alcoolismo, câncer, preconceitos, desvios morais e desvios de caráter, etc. Várias características que os tornam muito mais realistas e dignos de identificação com o público. Filosoficamente, o filme praticamente destaca um personagem para concentrar no tema: Dr. Manhattan. Claro que não só com ele, mas quase todas as vezes em que ele aparece, é pra prestar atenção e refletir sobre cada palavra. Há também uma pesada carga de dilemas morais, principalmente em relação ao fim do filme. Nem sempre o certo parece certo, e nem sempre o que parece errado realmente é errado. Enfim, é um filme muito carregado, pra ser digerido aos poucos. Apesar de mais comprido que o padrão norte-americano, é um filme que compensa cada segundo e ainda deixa a sensação que poderia ter gastado mais tempo pra render a trama.

O que esse filme tem de especial? Praticamente tudo. Um roteiro que mesmo baseado em HQ's, foge muito do padrão. Uma direção espetacular, capaz de fazer uma superprodução, captar o estilo do diretor, e mesmo assim não se sobrepôr a trama, sem roubar a atenção daquilo que é o motivo de tudo. Além disso, um elenco que, mesmo sem um único ator nem mais-ou-menos conhecido, dá um show de interpretação. Destaque para Jackie Earle Haley como Rorscharch (impossível não associá-lo ao V for Vendetta - outro filme genial) ao realizar uma interpretação extremamente expressiva mesmo usando uma máscara quase o tempo todo que não revela nada sobre sua face. Jeffrey Dean Morgan como Comediante também merece amplo destaque, fazendo um perfeito cretino inescrupuloso, mas que é um dos "mocinhos". Ambos dignos de Oscar. Malin Äkerman e Carla Gugino atuam juntas (como filha e mãe, respectivamente), a exemplo de Elektra Luxx. E é claro, uma excelentemente bem selecionada trilha sonora, que se revela muito adequada para o filme, com direito a "The times they are a changing", "The sound of silence", "Hallellujah", "All along the watchtower", entre outras ótimas músicas. Um filme merecedor de elogios em qualquer aspecto analisado.

Quando e com quem ver esse filme? É um filme com muitas cenas pesadas de violência, muitos palavrões, e um sexozinho aqui e alí. Tire os conservadores da sala e tudo bem. Mas vale lembrar que é um filme muito inteligente e complexo. Os lerdões, ou os que só querem saber de ação também podem ser gentilmente convidados a sair, ou a assistir outra coisa. Não é pra qualquer um, mas deve ser um dos 10 melhores filmes que já assisti. Definitivamente, não é só mais um filme de super-heróis.

Ficha técnica

Elenco: Malin Äkerman - Laurie Juspeczyk / Espectral II
Jackie Earle Haley - Walter Kovacs / Rorschach
Patrick Wilson - Daniel Dreiberg / Coruja II
Billy Crudup - Dr. Jon Osterman / Doutor Manhattan
Matthew Goode - Adrian Veidt / Ozymandias
Stephen McHattie - Hollis Mason / Coruja
Carla Gugino - Sally Jupiter / Espectral
Matt Frewer - Edgar Jacobi / Moloch
Jon Voight - Richard Nixon
Direção: Zack Snyder
Produção: Lawrence Gordon
Roteiro: Roberto Orci & Alex Kurtzman (Baseado na obra de Alan Moore e Dave Gibbons)
Trilha sonora: Tyler Bates
2009 - EUA - 162 minutos - Ação / Aventura / Drama / Ficção científica

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

The Weather Man (O sol de cada manhã)

De modo geral, dramas são filmes que nos apresentam um roteiro de fundo realista, buscando trazer do espectador aquela típica sensação de identificação, e a partir de então, trazer algum tipo de desconstrução, reflexão, ou algo assim.. Uma proposta ousada, e que nem sempre dá certo. Felizmente, estamos diante de um bom exemplo do gênero.

Sobre o roteiro: Em breve sinopse, Nicholas Cage interpreta um apresentador da previsão do tempo em uma TV local. Ganha consideravelmente bem, mas não consegue obter o respeito de seu pai, que é jornalista (argh!) e já ganhou um Pulitzer, o que o dá a certeza de ser melhor do que quase todos, e nada sobre a carreira do filho o impressiona. O protagonista também tem problemas com sua ex-mulher, que para ele ainda não está totalmente perdida, e procura criar uma ligação maior com sua filha, vítima de bullying na escola, e seu filho, preso com maconha e sendo assediado pelo assistente social que o acompanha. Mais um retrato do cidadão médio americano, e mais uma desconstrução do american way of life. E muito bem feita, por sinal. Não vejo muito problema em revelar mais sobre a trama, pois o importante no filme não é saber o que acontece, mas sim como acontece. David Spritz está todos os dias feliz na TV, o que não corresponde nem de longe a sua vida pessoal, que ele vê vazia, e passa o filme inteiro buscando sentido nela.

O que este filme tem de especial? Embora o filme traga dois atores de muito peso (Nicholas Cage e Michael Caine), nenhum deles tem uma atuação lá digna de destaque. É um filme muito bom, mas não graças as atuações do elenco, embora justiça seja feita, não é muito exigido. O texto dá o tom. Eu gosto da forma com que o roteiro dá características e personalidades bem construídas aos personagens. Claro que o filme é carregado de clichês e passa longe de ser original, mas contar uma história vista e revista exaustivamente no cinema e ainda assim fazer algo interessante é notável.

Uma característica interessante do filme é usar a idéia de flashes de idéias. Embora em proporção infinitamente menor, tal característica me lembrou Requiem for a Dream. Não sei muito bem explicar o que é essa característica, mas para quem viu o filme, estou falando daquilo que acontece, por exemplo, na cena da pata de bode.

Fora isso, aspectos técnicos interessantes. Direção seguindo um rumo que sai um bocado do padrão comercial, fotografia digna de nota, e a sempre notável trilha de Hans Zimmer.

Quando e com quem assistir a esse filme? Não recomendo assistir com crianças. Não tem nada que eu julgaria inadequado para elas, mas elas vão achar o filme chato. Fora isso, não é um filme difícil, não vejo restrições possíveis, mas também evite pessoas muito vazias, é um filme mais crítico e mais ácido. Um filme inteligente, que se não for compreendido (não que seja muito difícil), causa tédio.

Ficha técnica

Elenco: Nicholas Cage - David Spritz
Michael Caine - Robert Spritz
Hope Davis - Norren
Direção: Gore Verbinski
Produção:  Todd Black, Jason Blumenthal & Steve Tisch
Roteiro: Steve Conrad
Trilha sonora: Hans Zimmer
2005 - EUA - 101 minutos - Drama