quarta-feira, 22 de outubro de 2014

RoboCop (2014)

É bem verdade que tem alguns defeitos relevantes, mas é um filme tão, mas tão bom, que juro que nem ligo. Ah, impossível analisar um remake sem compará-lo ao original, então...

Sobre o roteiro: Na humilde opinião deste que vos escreve, a versão de 2014 traz um roteiro muito mais maduro e ousado do que a de 1987, de Paul Verhoeven. Este é um dos probleminhas do longa: Muitas ideias, pouco tempo. Sério, daria uma série interessantíssima, que levaria o estúdio que a produzisse a bater recordes de gastos, se todos os temas abordados pelo filme tivessem o tempo necessário para se desenvolver. Não têm. Saí do cinema com um pouco daquela sensação de 'onde eles queriam chegar com aquilo?'. Nada que comprometa, apenas incomoda e frustra um pouco. Bola pra frente.

O que parece ser o dilema moral central do filme é a ideia de drones sendo usados em substituição a seres humanos. No roteiro, as máquinas são usadas em todas as guerras (ou seus eufemismos) em que os EUA se meteram fora de seu território. São seguras (para seus donos, pelo menos) e eficientes, porém, não são aceitas como substituição para policiais em território norte-americano. Alguém tem a ideia de fazer um híbrido entre homem e máquina, e escolhem um policial vítima de uma bomba para cobaia. Gosto muito da forma como esta questão é abordada. Gosto das alfinetadas que o diretor, conhecido como um crítico desta mentalidade de combate ao crime, dá no público-alvo de sua obra, muito embora não seja ele o roteirista. O roteiro traz um monte de outras questões éticas e morais, e deixa o espectador decidir o que ele acha de cada uma delas, deixando relativamente clara a sua opinião. Destaque para a presença da família de Alex Murphy, que foi ignorada em 1987.

Pra citar outro ponto que achei indigno do alto nível do filme, o personagem que cria drones 'concorrentes' do projeto RoboCop, um vilão mesquinho que age de forma extremamente desproporcional apenas por ter seu orgulho ferido, era totalmente desnecessário, e só serve pra agradar os fãs de maniqueísmos.

O que este filme tem de especial? Um bom roteiro, grandes cenas, excelentes efeitos especiais, reflexões inteligentíssimas, críticas pesadas na cara da sociedade, e uma trilha sonora formidável (sensacional ouvir 'Hocus Pocus', do Focus - talvez um jeitinho de colocar algo neerlandês numa criação de outro neerlandês, mas é mais provável que tenha sido coincidência). Não é um filme impecável, traz clichês e poderia ser consideravelmente melhor construído, Porém, ainda assim, mesmo com suas mazelas, um filme imperdível, que credencia o excelente diretor José Padilha para mais obras deste calibre e deste orçamento. E são muitos os que dizem que este teve seu trabalho boicotado e limitado por ser brasileiro, por mais que o próprio Padilha negue. Nunca saberemos, eu acho.

Quando e com quem assistir a este filme? Tem muitas cenas pesadas de violência. Muito embora nem chegue perto da sanguinolência de Verhoeven, é muito mais realista, até por ter um orçamento incomparavelmente maior. Evite os sensíveis. Reacionários, no entanto, são o público ideal pra ver escancaradas na tela as simulações de algumas de suas ideias aplicadas na prática. É um bom filme de ação, com tiros, explosões e etc, porém é um filme muito mais inteligente do que a média dos seus congêneres. E muito mais inteligente do que o roteiro original.

Ficha técnica:

Elenco: Joel Kinnaman - Alex Murphy / RoboCop
Gary Oldman - Doc. Dennett Norton
Michael Keaton - Raymond Sellars
Samuel L. Jackson - Pat Novak
Abbie Cornish - Clara Murphy
Jackie Earle Haley - Rick Mattox
Patrick Garrow - Antoine Vallon
Direção: José Padilha
Produção: Marc Abrahan & Eric Newman
Roteiro: Joshua Zetumer
Trilha sonora: Pedro Bronfman
2014 - EUA - 121 minutos - Ação / Ficção científica

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

In time (O preço do amanhã)

Aquela sensação quase unânime: O filme tinha tudo pra ser excelente, mas não é. E isso é uma pena.

Sobre o roteiro: Uma premissa intrigante, com grande potencial: Um futuro próximo onde os seres humanos não morrem mais de causas naturais. Para não haver superpopulação, todo mundo vive até os 25 anos, e então, param de envelhecer, mas só tem mais um ano de vida, contado num relógio em contagem regressiva. Quem quiser viver mais que isso, tem que 'pagar'. O tempo é a moeda desta sociedade distópica, numa metáfora que é o ponto forte do que poderia ser um filmaço. Como não poderia deixar de ser, existem ricaços, que tem todo o tempo do mundo, e existem miseráveis, nos guetos, que tem pouquíssimo tempo pra viver, e se viram como podem pra conseguir ver o próximo nascer-do-sol. Um dia, aparece um rico no gueto, com tendências auto-destrutivas, e passa todo o seu um século de tempo para o protagonista, que passa a ter a responsabilidade de fazer bom uso dele, e começa uma aventura para conhecer as origens do problema, desmascarar o sistema, e tentar levar justiça e equilíbrio social, como um revolucionário fora-da-lei. Enquanto isso, se desenrola um romancezinho clichê com a filha do 'vilão', uma saga paralela de uma pequena quadrilha que vive de roubar o tempo dos outros, e dos guardiões do tempo, a versão da polícia no roteiro, especialmente um deles, obcecado por fazer cumprir a lei, fazendo o típico investigador implacável e inexorável.

O que este filme tem de especial? Tem uma premissa que dava pra fazer muita coisa. Muita coisa mesmo. De fato, essa premissa daria um seriado longevo. Mas dá um filme meia-boca, Elenco fraco (com exceção de Olivia Wilde, mas sua personagem tem pouco tempo de atuação, nos dois sentidos), roteiro ruim, cheio de furos bobos e facilmente sanáveis, personagens mal construídos, clichês atrás de clichês, fragmentos mal costurados, e mesmo os efeitos especiais mandam mal, especialmente na trágica cena em que o conversível cai da ponte, e os ocupantes saem apenas chamuscados e atordoados. No entanto, ainda assim o filme vale a pena por, mesmo conduzindo muito mal, rende uma discussão interessante. Muito interessante. O bastante pra justificar assistir ao longa.

Quando e com quem assistir a este filme? O filme é fácil, infelizmente. Podia ser mais complexo, e ser muito mais interessante, mas foi feito para ser um filme de ação, não um filme para pensar. Então dá pra ver com qualquer um com baixas expectativas. Sem palavrões, sem sexo, sem violência exagerada, um típico filme feito para ser blockbuster.

Ficha técnica

Elenco: Justin Timberlake - Will Salas
Amanda Seyfried - Sylvia Weis
Cillian Murphy - Raymond Leo
Olivia Wilde - Rachel Salas
Vincent Kartheiser - Phillip Weis
Direção: Andrew Niccol
Produção: Andrew Niccol, Marc Abraham, Amy Israel & Eric Newman
Roteiro: Andrew Niccol
Trilha sonora: Craig Armstrong
2011 - EUA - 109 minutos - Ação / Ficção científica

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tremors (O ataque dos vermes malditos)

Mais um filme que o título em português é uma pérola, mas deixa pra lá.

Sobre o roteiro: Clássico filme de terror e comédia, o infame "terrir". Roteiro besta, legal mesmo é o desenrolar das coisas. Uma pacata cidade essencialmente caipira dos EUA começa a registrar tremores de terra inexplicados. E algumas bizarrices começam a acontecer, até que se descobre a causa: Criaturas colossalmente gigantescas que vivem no subsolo e estão famintas. Daí pra frente não tem muito o que dizer sobre o roteiro. Se fosse um filme pra ser levado à sério, eu provavelmente pararia por aí (como eu deveria ter feito com Splice), mas aqui o toque de comédia, e a intenção de conduzir o filme como uma aventura, e não um suspense clássico dão mais credibilidade, e a licença poética permite apreciá-lo adequadamente. E o resultado disso é muito bom.

O que este filme tem de especial? Coragem. Traz um roteiro sem nenhum potencial, com péssimas perspectivas, e ainda assim trunfa como um filme que já atingiu o status de Cult e de clássico. É um filme tosco, que não quer disfarçar isso. Veste a camisa da proposta, e acontece. Como Grindhouse. E é um entretenimento divertidíssimo. Recheado de elementos gore, o que pessoalmente não sou fã, mas é indispensável para a narrativa. É um daqueles filmes que a gente assiste, e se pergunta "porquê estou assistindo isso?", mas gosta.

Quando e com quem assistir a este filme? Não me lembro de nenhuma única cena de sexo no filme, mas vermes gigantes explodindo e devorando pessoas pode não ser algo que todos apreciem. E isso o filme tem demais. Não creio que deixará ninguém sem sono, porque a abordagem é muito mais cômica do que dramática.

Ficha técnica

Elenco: Kevin Bacon - Val McKee
Fred Ward - Earl Bassett
Finn Carter - Rhonda LeBeck
Michael Gross - Burt Gummer
Reba McEntire - Heather Gummer
Robert Jayne - Melvin
Direção: Ron Underwood
Produção: Gale Anne Hurd
Roteiro: S. S. Wilson, Brent Maddock & Ron Underwood
Trilha sonora: Ernest Troost & Robert Folk
1990 - EUA - 96 minutos - Terror / Comédia

Jesus Christ Superstar (Jesus Cristo Superstar) (1973)

Saber que o filme é um musical é um motivo pra que eu automaticamente o coloque bem embaixo na lista de prioridades de filmes à assistir. Jesus Christ Superstar é o filme que mudou isso. E me arrependo de ter demorado tantos anos pra tê-lo visto.


Sobre o roteiro: Spoiler: Jesus morre. Enfim, acho que não tem lá muita surpresa no roteiro, é aquilo que todo mundo já conhece. Porém há sim um ponto muito positivo a ser destacado no roteiro. Acho que mais de um.


A trama se passa entre a chegada de Jesus do deserto e sua crucificação. Se concentra em dois personagens principais: Jesus, como não poderia deixar de ser, e Judas Iscariotes. E isso faz o primeiro diferencial. Temos um Judas que não é um simples traidor, que entrega Jesus por dinheiro e nada mais. Temos um personagem complexo, idealista, que se vê frustrado por Cristo fazer tantas coisas boas e inflamar a multidão, mas não aproveitar isso para mudar a vida das pessoas, através de sua influência. Não o vê como um Deus, mas sim como um líder admirável. E com receio do rumo que as coisas podem tomar, e com decepções quanto a seu mestre, aí sim o personagem se transforma. Uma abordagem interessantíssima.

Também chama a atenção o uso de anacronismos, como tanques de guerra, caças e metralhadoras há mais de 2000 anos. E o figurino de alguns personagens, como calças boca-de-sino e cores ultra-chamativas, bem características dos hippies e dos anos 70.

O que este filme tem de especial? A música. Tá, não é a única coisa, mas é a melhor coisa. Nada mais justo, é um musical, porém, diante de tantos musicais chatos e entediantes que estão no mercado (não vou citar nenhum pra não causar polêmica) que valorizam atuação, figurino, cenário, efeitos especiais, e etc, e tem uma música sem nada de interessante, há de se fazer justiça a um trabalho ímpar de Andrew Lloyd Webber, que não foi nada menos do que genial nas composições. Quem não assistiu, criem grandes expectativas, se gostar de Rock 'n' roll psicodélico e progressivo. É 'bom de com força' o negócio. Já baixei as músicas e estão na playlist, e são as mais ouvidas nos últimos dias. Grandioso.

Claro, a música não seria tão boa se seus intérpretes não estivessem à altura. E estão. Os atores são de uma competência de fato tão grande que muito me surpreendeu pesquisar sobre eles e não encontrar outros trabalhos tão relevantes quanto este. Estão no mesmo nível de alguns dos meus cantores favoritos. Também merece crédito as bizarras coreografias, típicas da época, especialmente durante as músicas "What's the buzz" e "Simon Zealotes". E o já citado figurino. Não podemos esquecer que o filme é uma adaptação de um musical da Broadway, homônimo.

Quando e com quem assistir a este filme? Assisti ao filme com um certo receio sobre como seria a abordagem, do ponto de vista religioso, mas pelo menos eu não percebi nenhum ponto polêmico à ponto de recomendar que se evite assistir com algum chato cabeça fechada. Creio que vale à pena assistir com qualquer um. Que goste de Rock. Porque é muito Rock 'n' roll! Se possível, priorize conseguir assistir com o áudio na maior qualidade que puder ter acesso.

Ficha técnica:

Elenco: Ted Neeley - Jesus Christ
Carl Anderson - Judas Iscariot
Yvonne Elliman - Mary Magdalene
Barry Dennen - Pontius Pilate
Bob Binghan - Caiaphas
Kurt Yaghjian - Annas
Josh Mostel - King Herod
Philip Toubus - Peter
Larry Marshall - Simon Zealotes
Richard Orbach - John
Direção: Norman Jewinson
Produção: Robert Stigwood & Norman Jewinson
Roteiro: Melvyn Bragg (baseado no texto de Tim Rice)
Trilha sonora: Andrew Lloyd Webber
1973 - Reino Unido - 106 minutos - Musical