sábado, 31 de agosto de 2013

Cloud Atlas (A viagem)

Existem filmes que são puro entretenimento. A gente assiste, acha legal (ou não), comenta com os amigos, depois assiste outro, e a vida segue. Outros, não. Alguns títulos são especiais, nos fazem pensar, refletir, discutir, e se tornam referências para a posteridade. É pretensioso fazer uma obra assim, e poucas realmente obtém o sucesso pretendido. Mas creio que esta é uma delas. Uma obra pra se colocar no mesmo Hall de filmes como 2001: A space odissey, Matrix, e Butterfly Effect.

Sobre o roteiro: Pode não ser exatamente pioneiro, mas não me lembro de outro filme, ou obra fictícia qualquer que tenha se valido de um roteiro construído da mesma forma deste. Seis histórias, contadas em seis diferentes períodos de tempo, se desenrolam simultaneamente. Porém, uma história influencia a outra, criando uma atmosfera atemporal de reflexões aplicáveis, sobre como decisões simples do passado podem afetar drasticamente o futuro.

Cada uma das histórias provavelmente já seriam suficientemente boas para se justificar um filme inteiro só sobre elas. Mas gostaria de citar elementos particularmente interessantes sobre algumas delas: A crise conceitual de "certo e errado" da primeira história (cronologicamente), a noção de moralidade da segunda história, o jogo político das indústrias energéticas na terceira história, o conceito de "quem os asilos e demais instituições do gênero realmente estão ajudando, e como o fazem", na quarta história, o desenvolvimento e o papel da religião meio aos povos ignorantes na sexta história, e, principalmente, a quinta história. Inteira. Enfim, um prato cheio pra discussões filosóficas. E ainda cabe destaque para os recursos roteirísticos usados para ligar as histórias.

O que este filme tem de especial? Além de um dos melhores roteiros já feitos, sobram um caminhão de coisas boas pra falar do filme. A direção, por conta dos meus diretores favoritos - os irmãos Wachowski - e Tom Tykwer, é muito chamativa. As formas como usam a tensão gerada por uma cena de uma história e rapidamente conectam a outra das histórias, as quebras de ritmo e tensões súbitas, enfim, salta aos olhos o excelente trabalho deles. 

Necessário também falar do elenco estelar, que além de reunir grandes e talentosos nomes, conta também com outros atores de menor prestígio, mas não menor talento e relevância para o filme. Isso se faz particularmente importante, porque vários atores interpretam vários personagens, como Tom Hanks por exemplo, que interpreta um personagem diferente em cada uma das histórias.

Além disso, efeitos especiais dignos de quem já revolucionou a história de Hollywood, maquiagem primorosa (deixar 6 personagens diferentes, interpretados pela mesma pessoa, com cara de 6 personagens diferentes, não deve ser fácil), cenários deslumbrantes, fotografia criativa e não-clichê, e tudo mais que se pode esperar de um filme top de linha. Mesmo sendo uma produção independente (diga-se de passagem, uma das mais caras produções independentes de todos os tempos).

Quando e com quem assistir a este filme? Recomendado para pessoas que gostam de um filme mais inteligente e desafiador. E pra quem gosta de assistir um filme que quase precisa ser assistido mais de uma vez. E pra quando tiver tempo, são quase 3 horas de filme. Ah, tem uma ou outra cena de violência mais brutal aqui e ali, umas cenas de sexo um pouco mais quentes, e um casal gay. Tá, é século XXI, mas se você sabe que tem algum idiota preconceituoso por perto, já fique avisado.

Ficha técnica

Elenco: Muito complexo para os moldes do blog. Melhor consultar aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cloud_Atlas_(filme)#Elenco
Direção: Andy Wachowski, Lana Wachowski & Tom Tykwer
Produção: Grant Hill, Stefan Arndt, Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski
Roteiro: David Mitchel (autor do livro)
Trilha sonora: Tom Tykwer, Johnny Klimek & Reinhold Heil
2012 - Alemanha / Singapura / Hong Kong / EUA - 172 minutos - Ficção científica