quarta-feira, 24 de julho de 2013

Dogville

Um filme pesado. Bonito, intrigante, surpreendente, devastador, perturbador, diferente, mas, acima de qualquer outra coisa, um filme pesado.

Sobre o roteiro: A ideia é simples. Durante a "Grande Depressão" dos EUA, no começo dos anos 30, existia um pacato vilarejo, habitado por simples cidadãos entre as montanhas, no qual nada de diferente acontecia. Até que um dia, chega à cidade uma jovem em fuga. De imediato, um dos moradores lhe oferece abrigo de seus algozes, e a acoberta. Uma vez apresentada aos demais moradores, e submetida a decisão deles para poder permanecer na cidade, ela se oferece para fazer pequenos serviços em troca da hospitalidade que lhe fora oferecida de bom grado. Tudo segue calmamente, até que no dia da Independência, aparece um policial na cidade, com um cartaz de "Procurada" com a foto da moça. Todos continuam lhe acobertando, mesmo sabendo do risco que correm, porém, aos poucos vão "aumentando o preço" da "colaboração" deles, revelando quem realmente são os moradores de Dogville. E esta é a tônica que conduz o filme, até o seu inimaginável e catártico final, que afirmo, sem medo, ser o que mais me perturbou até hoje no cinema. Até mesmo mais do que o já "desgraçado" final de The Mist.

O que este filme tem de especial? Á primeira vista, o que mais salta aos olhos nesta obra é o cenário. O filme inteiro foi filmado em um galpão. O cenário é muito semelhante ao de obras teatrais. As casas e demais construções são apenas marcações no chão, com alguns móveis ou objetos que ajudam a identificar os diferentes locais da vila. A única rua da cidade também é apenas o que se encontra entre duas longas faixas pintadas no chão. E não há um "céu" visível, tornando a diferenciação entre dia e noite possível apenas pela iluminação. Com isso, boa parte da atuação dos personagens faz referência ao chamado "Teatro do absurdo". Por exemplo, ao atravessar uma porta, os atores manipulam uma maçaneta inexistente, puxando e fechando uma porta imaginária. Este cenário vai muito além de uma eventual economia de custos, ou de uma forma excêntrica de se fazer cinema. Vemos a utilidade deste recurso em cenas que querem expressar a ideia de que todos estão vendo o que está acontecendo em todas as partes, mas preferem fingir que não sabem, que há uma parede que não as deixa ver. Sacada genial. Alie-se a isso as técnicas minimalistas de direção de Lars Von Trier, e temos uma obra que servirá de referência por muitos anos. Ah! O filme não tem trilha sonora.

Também há aqui atuações marcantes, como a de um Paul Bettany completamente patético, de um James Caan com personalidade irretocável, e possivelmente a melhor atuação de Nicole Kidman.

Quando e com quem assistir a este filme? Vou repetir: É um filme pesadíssimo. Já ouviram falar do "Casamento Vermelho" de Game of Thrones? Temos algo do mesmo nível. Porém, ainda mais chocante. E mais pesado. Só que isso é só o final. O filme não choca com a violência explícita. Choca com a violência psicológica. Não é para qualquer um. Mas é genial. Sem dúvidas, um dos melhores que já vi na minha vida. Merece atenção especial. E recomendo ver acompanhado, pois é um filme que rende muito assunto e reflexões.

Ficha técnica

Elenco: Nicole Kidman - Grace
Paul Bettany - Tom Edison
Harriet Andersson - Gloria
Cloë Sevigny - Liz Henson
Lauren Bacall - Ma Ginger
Blair Brown - Mrs. Henson
Stellan Skarsgard - Chuck
Jeremy Davies - Bill Henson
Patricia Clarkson - Vera
Ben Gazzara - Jack McKay
Philip Baker Hall - Tom Edison Sr.
James Caan - "Big Man"
John Hurt - Narrador
Direção: Lars Von Trier
Produção: Vibeke Wandelov
Roteiro: Lars Von Trier
2003 - Dinamarca / Suécia / Noruega / Finlândia / Alemanha / Reino Unido / França / Países Baixos - 178 minutos - Drama