sábado, 9 de abril de 2011

A time to kill (Tempo de matar)

Também não li o livro.

Se eu tivesse escrito sobre esse filme a uns dois anos, eu diria que o filme é genial, e me renderia em elogios ao roteiro. Hoje minha posição em relação ao tema desse filme mudou drasticamente, e penso outras coisas a este respeito. Mas não é um blog de política, então reservarei minhas opiniões para uma mesa de bar.

Sobre o roteiro: É mais um texto que facilita minha tarefa, pois posso contar o filme quase todo, que ainda assim ele se mantém interessante, pois o importante aqui não é o desfecho, mas o desenrolar da trama.
Uma menina de dez anos é estuprada por dois brancos sulistas no racista estado do Mississipi. Como ela é negra, o pai da criança não concorda com a punição muito branda, e resolve fazer justiça com as próprias mãos e mata os estupradores. Por essas mortes, é preso e julgado. E a história do filme é sobre Jake Brigance, o advogado que o defende, e como foi este julgamento.
Tem alguns elementos que podem ser destacados e discutidos individualmente. Cada um deles gera discussões extensas. Vamos a eles. Primeiramente, o foco do filme: Racismo. A gente sabe que, devido a um processo histórico, a cultura do Sul dos EUA é de desprezo aos negros (prefiro não usar o termo "preconceito", pois o verdadeiro sentido dessa palavra foi substituído por um significado tácito deturpado). E naquele contexo de segregação e desrespeito aos afro-americanos, a situação exige mais do que frases de efeito para se resolver, mas o filme aborda corajosamente a diferença de tratamento que normalmente ocorre nesses estados. Claro que isso se repete em várias partes do mundo, mas em proporções diferentes. E lá é numa proporção enorme. Próximo tópico: Sistema judiciário. O roteiro aborda questões inerentes ao sistema judiciário americano (que é muito semelhante ao nosso, e do mundo quase todo), sobre como o sinismo, a hierarquia, a hipocrisia, a manipulação, entre outros recursos, são usados em substituição a um único recurso que poderia abolir de uma vez por todas com qualquer lei (e aqui o porquê da minha mudança de postura): O bom senso. Já disse que não vou me estender sobre os valores em que acredito, mas o filme mostra muitas precariedades de um sistema tão obsoleto, ineficiente, injusto e arcaico que envergonha a espécie humana. Mais um tema: Valores. Aqui um ponto que passa meio despercebido por alguns, mas que é crucial para o entendimento do comportamento humano num sistema de valores distorcido. O advogado vê sua vida pessoal se transformar num verdadeiro inferno por defender seu cliente, mas continua no caso, porque acredita no que defende. Bravo! Mas, se acredita tanto ao ponto de aceitar sacrifícios tão penosos que por si só já o transformam em mártir, porquê depois de tantas tragédias pessoais, ameaçar largar o caso porque seu cliente não o pode pagar? É mais uma distorção de valores absurda que o filme visa colocar como algo normal, onde o advogado é só mais uma vítima das circunstâncias, e precisa cobrar por seus serviços, mesmo quando a vida ou a morte de seu cliente dependem do seu trabalho, mas não tem como pagar por eles. E entra aqui outro elemento do roteiro: Quanto vale uma vida? Mais um: O que legitima uma lei que prevê a possibilidade de tirar uma vida de alguém que, nos padrões legais, merece tal punição?
Enfim, é um filme que vale muito a pena ser assistido, mas que, ao tentar criticar valores deturpados de uma sociedade e várias faces podres do sistema, acaba inconscientemente (ou conscientemente, embora eu suponha que não) defendendo outros valores ainda piores. Mas isso é outra discussão. O filme merece duas horas e meia da sua atenção, e a semana seguinte de reflexão. Mas não aceitem tudo que o filme traz como positivo e correto como realmente o sendo.

O que esse filme tem de especial? Excelentes atuações, dando muito realismo ao drama que a situação sugere, e um elenco estelar, que dá ainda mais crédito aos atores que já eram considerados ótimos. Destaque para Sandra Bullock, que, seja pelo texto, seja pela personagem, ou pela sua capacidade singular, tem uma atuação muito marcante. E o filme tem um roteiro que vai deixar muitas questões na cabeça. Algumas eu ainda tenho, mesmo tendo visto o filme pela 1ª vez a uns 10 anos ou mais. E eu não lembro de muitos outros filmes capazes de explorar tão bem tantos temas polêmicos quanto esse. Outra característica de menor importância, mas que eu sempre acho muito interessante, é o considerável número de personagens relevantes.

Quando em com quem assistir esse filme? 149 minutos. Com essa informação em mente, programe-se. O filme tem algumas cenas muito fortes, como a própria premissa original, do estupro da menina, e alguns ataques da KKK. Pessoas muito sensíveis podem não querer ver. Além disso, o próprio tema do filme é pesado. Pense nessas características quando for escolher a companhia.

Ficha técnica:


Elenco: Matthew McConaughey - Jake Brigance
Samuel L. Jackson - Carl Lee Hailey
Sandra Bullock - Ellen Roark
Kevin Spacey - Promotor Rufus Buckley
Oliver Platt - Harry Rex Vonner
Donald Sutherland - Lucien Wilbanks
Kiefer Sutherland - Freddie Lee Cobb
Ashley Judd - Carla Brigance
Direção: Joel Schumacher
Produção: Arnon Milchan, John Grisham, Michael Nathanson & Hunt Lowry
Roteiro: John Grisham
Trilha sonora: Elliot Goldenthal
1996 - EUA - 149 minutos - Drama

Um comentário:

Anônimo disse...

olá, eu nao consegui terminar de assistir o filme, e gostaria de saber se tem como vc me ajudar me respondendo essas perguntas.
1- como o estado pode ser parcial no filme tempo de matar?
2-e quais os aspectos vc levantaria sobre o tema?

se vc puder me ajudar, agradeço desde ja.