Definitivamente, um filme que marcou uma geração. Ou várias. Em grande parte, graças ao "Cinema em Casa", do SBT, que reprisava este filme incessantemente. Re-assistindo a esta obra depois de adulto, e depois de 41 anos de seu lançamento, Há de se reconhecer que o filme é carregado de lugares comuns, e de lições de moral sacadíssimas, mas que ainda continua tendo muito valor educativo para crianças. Falo isso porque o assisti com crianças, e isto foi comprovado.
Sobre o roteiro: O mote do longa é simples, e quase todo mundo conhece. Há uma fábrica de doces mundialmente famosa, mas que, para acabar com os atos de espionagem que levaram a fábrica à ruína, seu proprietário decide que ninguém mais entra ou sai da fábrica, que fica completamente fechada por 3 anos. Porém, quando da sua reabertura, seus novos produtos são revolucionários e deliciosos, mas suas receitas são o mistério mais bem guardado do mundo. Um dia, mestre Wonka decide fazer um concurso: 5 bilhetes dourados, escondidos em 5 barras Wonka, que podem estar em qualquer lugar do mundo, darão a quem os encontrar o direito de visitar a fábrica e de ter um suprimento de chocolate para o resto da vida. Começa então uma corrida mundial para encontrar os bilhetes, que altera a rotina de todo o planeta. Paralelamente, acompanhamos a história de Charlie Bucket, um menino muito pobre que vive com a mãe e seus inválidos avós. Charlie é o estereótipo do bom menino, que entrega jornais para ajudar na renda familiar, obedece sua mãe, é bem educado e tudo mais, mas a possibilidade de realizar o sonho de conhecer a fábrica mexe muito com sua personalidade, e o garoto começa a sofrer com a ansiedade da possibilidade, por mais remota que possa parecer, de encontrar o bilhete.
A partir daí, um a um dos bilhetes vão sendo encontrados ao redor do globo, e os 5 portadores do bilhete entram na fábrica. Cada vencedor é uma criança, representando um estereótipo de criança problemática diferente. Entre elas, é claro, Charlie. Enquanto as crianças, acompanhadas cada uma por um familiar responsável, vão conhecendo as instalações do Sr. Wonka, cada uma delas se mete em um problema diferente, normalmente com um desfecho comicamente trágico, que o enigmático dono da fábrica providencia sempre uma solução com uma frieza de quem simplesmente não se importa com a gravidade das situações nas quais as crianças se envolvem. Para tal, sempre aciona os simpáticos Oompa-Loompas, pequeninos humanóides de aspecto engraçado que trabalham na fábrica, e que a cada "episódio" de cada criança, cantam uma canção trazendo o mesmo leitmotiv, e uma lição de moral que se aplica ao motivo das crianças terem agido da forma que agiram, e qual é a consequência de se comportar assim. Enfim, o roteiro é totalmente voltado para ensinar valores as crianças.
O que este filme tem de especial? A característica que mais salta aos olhos é o uso e abuso do humor non-sense, especialmente depois do começo da expedição na fábrica. Lá dentro, tudo é inusitado, desde os Oompa-Loompas as invenções de coisas impossíveis que existem lá dentro. Além disso, a construção dos personagens é primorosa, algo raro de se ver nos filmes mais recentes. Até hoje poucos personagens na história do cinema conseguiram despertar tando ódio dos espectadores quanto a irritante Veruca Salt, que quer que seu pai lhe satisfaça imediatamente todos os seus mais insignificantes caprichos. Além dela e de Charlie, vemos um garoto viciado em televisão, um viciado em comida, e uma viciada em chicletes. Todos com atuações excelentes, com destaque óbvio de Gene Wilder, que tem neste filme seu papel mais reconhecido, e de Julie Dawn Cole, de quem nunca mais se ouviu falar, mas que mandou muito bem como Veruca.
Como o filme é um musical, pessoalmente acho irritante essa coisa de substituir diálogos por músicas, especialmente considerando-se que assisti a versão dublada, e traduções ou versões raramente captam bem os objetivos do compositor, mas neste filme isto foi bem feito. O que por sí só é um mérito. Ah, o texto também é ótimo.
Quando e com quem assistir a este filme? É filme pra ver com a família toda, mas é um filme infantil, então, não espere lá muita coisa. A menos que queira assistir com um olhar de quem quer compreender o motivo do filme ter sido tão marcante, ou descobrir de onde veio o meme do "Wonka irônico". Mas é um belo filme, sob qualquer aspecto ou critério. Como eu disse antes, as lições de moral são piegas e batidas, mas ainda se revelam atuais e eficientes para quem ainda não se enjoou de vê-las.
Ficha técnica
Elenco: Gene Wilder - Willy Wonka
Peter Ostrum - Charlie Bucket
Jack Albertson - Vovô Bucket
Julie Dawn Cole - Veruca Salt
Denise Nickerson - Violet Beauregarde
Paris Themmen - Mike Teevee
Michael Bollner - Augustus Gloop
Direção: Mel Stuart
Produção: David L. Wolper
Roteiro: Roald Dahl (autor do livro)
Trilha sonora: Anthony Lewley & Leslie Bricusse
1971 - EUA - 100 minutos - Infantil / Musical