Na pressa de se fazer logo um filme dos Vingadores, se está fazendo uma enxurrada de filmes de heróis do universo Marvel. Isso poderia ser uma coisa legal, mas parece que colocaram tudo numa linha de produção, e a criatividade ficou em segundo plano. Então, começaram a importar recursos de outros filmes, de outros gêneros, e fizeram uma salada de elementos, onde o personagem-título acaba saindo mais como mais um elemento do que como temática. Nessa leva, saiu Thor, um filme recheado de altos e baixos.
Sobre o roteiro: Começou mal. Toda a interessante mitologia nórdica envolvendo Odin, Thor, entre outras coisas de Asgard foi muito sub-explorada. Tá legal, ia ser realmente difícil contextualizar o espectador sem que isso tomasse um enorme tempo do filme. Eu assisti sabendo que isso dificilmente seria bem-feito, mas dei um voto de confiança. Não fui correspondido. Mas enfim, segue um Thor mais-ou-menos como ele é nos gibis, impetuoso, audacioso, inteligente, arrogante, etc. Em alguns momentos isso soa bem, em outros soa bem forçado, mas de modo geral, funciona. Infelizmente, uma interessante característica ficou de fora nas telonas: o refinadíssimo vocabulário, com uma gramática digna de Pasquale. Pode ser preciosismo da minha parte, mas vejo isso como uma falha tão grave quanto fazer um mestre Yoda que fala normalmente, sem sua peculiar construção de frases.
Então, surge uma premissa boba, mas eficiente para o cinema, para que Thor seja banido para Midgard, a Terra. Aqui rola algo imperdoável. Thor aparece no planeta, mas se comporta como viajantes no tempo de filmes de comédia da Sessão da Tarde. Estranha tudo, acha que está em casa, continua do mesmíssimo jeito que seria em Asgard. Aqui o roteiro perde uma excelente oportunidade de fazer uma remissão de culpa e humildade do deus do trovão, cheia de dramaticidade, e recorre forçar situações cômicas. Nem todas dão certo, e acabam soando demasiadamente forçadas. A cena do copo quebrado na lanchonete não tem perdão. Mas vai lá, o Mjölir cai como se fosse uma Excalibur, depois ganha status de OVNI, e o resto é spoiler. Paralelo a isso, vai se desenrolando a traição de Loki. Não vou nem comentar o que acontece com Odin, pra não estragar o que o leitor pode não ter visto ainda, mas demanda muita condescendência para com o roteiro.
Bom, o que vinha cheio de furos e tentativas de elementos errados na hora errada começa a ganhar credibilidade quando o foco se volta para Loki. Pouco a comentar sobre o roteiro daqui em diante pra não ser ainda mais spoiler do que jamais fui neste blog, cujo objetivo não é só falar dos filmes para quem já os viu. Mas ele amadurece um bocado. Vai ser injusto eu só falar dos elementos ruins do filme, dizer que ele tem pontos positivos, mas não os apontar, mas... é exatamente isso que vou fazer. O que o filme tem de bom não pode ser contado pra preservar o interesse de quem ainda o verá. Termino dizendo que os roteiristas precisavam pensar numa forma mais convincente de fazer o romance (que era completamente dispensável, mas uma vez feito, que ao menos não saísse de um romance feito por algum pré-adolescente) e de fazer o compromisso de Thor com a S.H.I.E.L.D., que soou deveras artificial.
O que este filme tem de especial? Apesar de um roteiro bem melhorável, mesmo para os padrões do cinema de Los Angeles, os elementos técnicos o salvam. Anthony Hopkins não rouba a cena, mas faz um Odin muito bom, o desconhecido Chris Hemsworth interpreta bem as características do herói, e a bela Jaimie Alexander, embora num papel bem coadjuvante como Sif, rouba o posto de Natalie Portman como a musa do filme. Sei que não é unanimidade, mas este que vos escreve pensa assim. Os efeitos especiais são muito bons, como já se havia de esperar de um filme com este orçamento. Destaco as cenas da ponte bifröst, qualquer cena com os gigantes de gelo, e os convincentes movimentos do Aniquilador.
Quando e com quem assistir a esse filme? Devo confessar que conheço pouco das histórias do alter-ego de Donald Blake, mas o filme ignora muitos aspectos do que eu sabia à respeito dele. Como isso é quase uma regra nos filmes adaptados de gibis, não surpreende. Surpreenderia a fidelidade, mas a proposta não é agradar aos leitores, e sim agradar ao grande público, que é quem compra ingressos para ver o filme, e pronto. Neste sentido, se ignorarmos as HQ's, Thor é um bom filme de entretenimento juvenil. Violência, só a habitual de filmes deste gênero. Sexo, inexistente. Como entretenimento, dá pra assistir sem compromisso com qualquer um.
Ficha técnica
Elenco: Chris Hemsworth - Thor
Natalie Portman - Jane Foster
Tom Hiddleston - Loki
Anthony Hopkins - Odin
Stellan Skarsgård - Erik Selvig
Idris Elba - Heimdall
Ray Stevenson - Volstagg
Tadanobu Asano - Hogun
Joshua Dallas - Fandral
Jaimie Alexander - Sif
Rene Russo - Frigga
Clark Gregg - Agente Phil Coulson
Samuel L. Jackson - Nick Fury
Direção: Kenneth Branagh
Produção: Kevin Feige
Roteiro: J. Michael Straczynski, Mark Protosevich, Ashley Edward Miller, Zack Stentz & Don Payne
Trilha sonora: Patrick Doyle
2011 - EUA - 114 minutos - Aventura
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