quinta-feira, 28 de julho de 2011

Winter's Bone (Inverno da Alma)

Sabe aquela história de que pobreza é coisa da América Latina, do Leste Europeu, da África, Oriente Médio, sul da Ásia e norte da Oceania? Surpresa! Existe pobreza e miséria nos EUA também! Isso mesmo! Aquele país superpotente imperialista podre de rico e de soberba, que gasta meio PIB com guerras completamente inúteis e dispensáveis, também tem problemas, meus caros. E é essa realidade que serve como cenário para este excelente e forte filme.

Sobre o roteiro: Ree é uma jovem de 17 anos, responsável pela mãe inválida mentalmente, e por seus dois irmãos consideravelmente mais novos. Ninguém sabe onde está seu pai, mas a polícia quer saber, afinal, se ele não aparecer em uma audiência daí a uma semana, o Estado vai lhes tomar a casa, bem oferecido como garantia da fiança de seu pai, um conhecido fabricante de speed (anfetaminas, droga lícita no Brasil, mas ilegal nos EUA e em grande parte do globo). Começa então uma epopéia da garota em busca de informações que a levem a seu pai. Vale lembrar que ela e sua família vivem numa das partes mais miseráveis dos EUA, onde existe escacez de comida, de conforto, de quase tudo, onde as pessoas vivem do que conseguem para viver, como caça, hortas, pesca, etc. Nesse ambiente, ainda mais no meio (literalmente) do país que supostamente é o melhor do mundo, cria nessas pessoas que vivem nessas condições um comportamento muito peculiar, e o mais pacato vizinho pode não ser flor que se cheire. E quando se está procurando por um traficante, os lugares e as pessoas que devem ser pesquisados não são necessariamente os mais agradáveis para uma garota que, embora seja muito fria e esperta, ainda é uma garota. A saga de Ree em busca de seu pai torna-se um retrato da parte dos EUA da qual eles não devem se orgulhar muito. E não é uma parte pequena. Então, pensem bem antes de sair nadando por Tijuana e se sujeitar a algumas das piores humilhações possíveis para entrar neste território, que pode se revelar ainda pior do que o lugar onde se encontram hoje.

Mas enfim, não é um roteiro anti-EUA (só eu que sou anti-EUA, e gosto de ver coisas assim e realçá-las - foi mal...), é um roteiraço, que é a principal atração do filme. E que leva a um fim surpreendente. Ou algo surpreendente, pelo menos.

O que esse filme tem de especial? Primeiramente, o filme joga na cara dos próprios norte-americanos algo que eles preferem ignorar: Seu próprio país vai mal. E a realidade aqui apresentada nada mais é do que o subproduto do que eles fazem para manter o "modo de vida americano". Achavam que era só fora dos EUA que os impactos seriam sentidos, mas dói na própria carne também. Não que se importem, mas pelo menos agora viram.

Tecnicamente, o filme também tem muitos méritos. Como disse anteriormente, um ótimo roteiro, que foge um pouquinho do drama-padrão de Hollywood, um grande elenco de desconhecidos, onde não tem um elo fraco - todos se saem muito bem, mesmo os de mais reduzida participação ou importância - principalmente a protagonista Jennifer Lawrence (que viria a se destacar como Mystique em X-Men: First Class). Fotografia digna de destaque, edição com uma cara de seriado caseiro (não no sentido pejorativo, uma coisa de estilo mesmo), e um cenário bucólico e deslumbrante. Um filme que transpira e transmite muito realismo.

Quando e com quem ver esse filme? Apesar do tema pesado, o filme não tem nenhuma cena de violência muito pesada não, fora uma ou outra insinuação de coisas mais pesadas. Não tem nenhuma cena de sexo ou nudez que eu me lembre, não tem um vocabulário pesado, enfim, politicamente correto, mas tematicamente agressivo. Muito, muito recomendado. Assista prestando atenção, pois é uma história que merece ser vista, e com companhia igualmente interessada. Não é o filme pra ver namorando.


Ficha técnica

Elenco: Jennifer Lawrence - Ree Dolly
John Hawkes - Teardrop
Lauren Sweetser - Gail
Garret Dillahunt - xerife Baskin
Dale Dickey - Merab
Direção: Debra Granik
Produção: Anne Rosellini & Alix Madigan
Roteiro: Debra Granik & Anne Rosellini (baseado no livro de Daniel Woodrell)
Trilha sonora: Dickon Hinchliffe
2010 - EUA - 100 minutos - Drama

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