segunda-feira, 6 de junho de 2011

Machete

Em Grindhouse, haviam alguns trailers supostamente falsos, ou seja, de filmes que não existiriam. Só que o trailer de Machete fez muito sucesso, e o filme foi efetivamente feito, embora com a idéia levemente modificada, e bem amadurecida. Mas embora seja um filme de tema bem sério, é feito nos mesmos moldes de Grindhouse, ou seja, um filme splatter recheado de tosqueiras, bem ao molde dos típicos filmes do herói que, por motivos pessoais, sai atropelando todo mundo que cruza seu caminho. E aqui, temos uma brilhante caricatura desse perfil.

Sobre o roteiro: Alguns filmes, ao tratarem de temas polêmicos, colocam um dedo na ferida de certas parcelas da sociedade. O que Robert Rodruiguez faz aqui, é enfiar um machete nessa ferida, e estraçalhar sem dó. O tema, pra quem não viu o filme, é o tratamento aos imigrantes ilegais. Rodriguez incomoda porque aqui ele aborda o que realmente incomoda aos "xenófobos": Concorrência no narcotráfico. Ninguém reclama de ter um mexicano limpando sua casa, cortando sua grama, levando as crianças pra escola, trabalhando como um capacho, recebendo como um mendigo. Na verdade, até tenho lá minhas opiniões sobre as pessoas que se submetem a esse tipo de tratamento e de emprego, mas não quero falar sobre isso aqui. O caso é que os imigrantes ilegais são bem-vindos, porque farão o serviço que nenhum norte-americano quer fazer, em condições que nenhum norte-americano se sujeita, por um salário que nenhum norte-americano aceita. Os mexicanos são um bom negócio. Mas são o principal bode expiatório pra maioria dos problemas da sociedade Yankee. E o tráfico de drogas não é diferente. O caso é que as drogas mexicanas são muito mais baratas, e em muito maior quantidade. Assim, quem está envolvido nesse "mercado", não fica nada satisfeito com isso. E essas pessoas envolvidas estão em muitos mais posições sociais que o cidadão comum supõe.
Voltando ao filme, toneladas de críticas a essa hipocrisia e sujeira que este cenário representa são despejadas, mas sem nunca deixar de focar no que é prioridade no filme: Entretenimento. Por mais que o filme seja engajado (provavelmente Robert Rodriguez seja descendente de imigrantes ilegais) e ácido, tudo isso é pano de fundo para as homenagens que o filme presta ao gênero. Temos o estereótipo do policial estilo "Rambo", que mata todo mundo mesmo, que é sacaneado (eufemismo da minha parte, pra não ser spoiler), e se vinga de todo mundo, traçando todas as mulheres bonitas que aparecerem na história. Mas, como uma boa caricatura deve ser, tudo é exagerado. Tudo. Exagerado.
O tema do filme é sério e importante, mas, paradoxalmente, o roteiro não. É só uma história construída a partir de uma colagem de clichês e mais clichês, para servir ao proósito do diretor de satirizar com os diversos elementos usados. Aliás, o roteiro não deixa de ser, por si só, mais um caricatura.

O que esse filme tem de especial? Robert Rodriguez fez um filme perfeito. Sabe aquele filme que não dá vontade de mudar absolutamente nada? Dentro do que o filme se propõe, tudo funciona perfeitamente. Apresenta como galã protagonista o "lindíssimo" Danny Trejo (primo de Rodriguez, colaboração freqüente), que é, no filme, completamente irresistível para as verdadeiras beldades do filme, representadas por, entre outras, Jessica Alba, Michelle Rodriguez e Lindsay Lohan. Aliás, falando do estelar elenco, todo mundo mandou bem nas interpretações, até as já citadas Jessica e Lindsay, que são lindas, mas péssimas atrizes, passam por de razoáveis para boas atrizes. E até um dos piores atores da história de Hollywood, Steven Seagal (pessoalmente, não considero ele, Jet Li, e outros do gênero, como atores. Pra mim, são lutadores - e são mesmo, ótimos, aliás - que tentam empurrar pro cinema porque vende - e vende mesmo), atua bem aqui. E, é claro, Robert DeNiro, que dispensa comentários.
A direção também é explêndida, com toda a violência tão exagerada que se torna cômica, ao melhor estilo do padrão Robert Rodriguez de qualidade. Aliás, essa é a marca do diretor, e a marca do filme: Elementos sérios, mas tão exagerados que se tornam cômicos, para quem gosta de humor negro.
E principalmente, não podemos nos esquecer: Assim como James Cameron fez em Avatar, Machete traz um tema sério e polêmico carregado de críticas ferozes, mas sem se tornar um filme polêmico, pois esse não é o ponto principal do filme, apenas um objetivo secundário, relativamente subliminar. Nesse aspecto, creio que seja o filme mais denso de Rodriguez.

Quando e com quem ver esse filme? Utopicamente, acho que conteúdo sexual não deveria ser censurado de ninguém, mas já que é assim que as coisas são, vale lembrar que o filme traz algumas cenas de nudez um pouco acima da ousadia média de Hollywood, merecendo ser citada. Mas o motivo principal para considerar vetar o filme para menores ou pessoas mais sensíveis são as cenas de ultraviolência, como mutilações, muitos tiros absurdamente exagerados, tortura, e até uma crucificação. Mas tudo feito com foco no entretenimento. O padrão da dupla Rodriguez / Tarantino, que já é famoso.


Ficha técnica

Elenco: Danny Trejo - Machete
Michelle Rodriguez - Luz/Shé
Jessica Alba - Sartana 
Robert DeNiro - Senador John McLaughlin
Cheech Marín - Padre
Lindsey Lohan - April Booth
Steven Seagal - Torres
Don Johnson - Tenente Stillman
Direção: Robert Rodriguez & Ethan Maniquis
Produção Robert Rodriguez, Elizabeth Avellan, Rick Schwartz
Roteiro: Robert Rodriguez & Álvaro Rodriguez
Trilha sonora: Chingon
2010 - EUA - 105 minutos - Ação

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