terça-feira, 24 de maio de 2011

Il buono, il brutto, il cattivo (Três homens em conflito)

Um raro caso de um título em português que não traduz o original, mas se mantém adequado ao filme. Nunca antes havia assistido nenhum western legítimo, embora já tenha assistido a inúmeras paródias, como Back to the future III (provavelmente a melhor sátira) e Wild Wild West. Decidi então começar no gênero com o filme que é considerado como o clássico definitivo do gênero. Não vou compará-lo com seus congêneres, mas como um filme convencional.

Sobre o roteiro: Quando vi a sinopse, tive uma impressão do filme que, felizmente, não foi correspondida. Embora provavelmente se trate de um clichê, a idéia de colocar três homens interessados no mesmo objetivo justifica plenamente o título brasileiro. A história é bem traçada, embora eu deva fazer aqui uma observação: Existe um formato de fazer um filme durar uma certa média de tempo, algo em torno de duas horas, no máximo. E pra isso, se o filme estiver curto, se enche linguiça. Se estiver longo, livram-se das partes dispensáveis. E este filme, durando algo mais que três horas, foge deste padrão com o qual eu fui acostumado. Quando isso acontece, fica a expectativa de que a história seja longa, mas o caso aqui é que a narrativa é lenta. Talvez faça parte do gênero, talvez seja estilo de época, ou possa talvez ter várias explicações. Mas, como já me adaptei a uma narrativa mais ágil, tive a sensação que o filme poderia emagrecer bastante sem deixar suas características perdidas. Por exemplo, leva uma hora para que saibamos da caixa de moedas enterrada, o que num filme Hollywoodiano, levaria algo em torno de 10 a 20 minutos. Mais uma vez, não que seja um problema, apenas é diferente do que estou acostumado. Existe um clima de guerra civil atuando como pano de fundo, o que pode ter contribuído para que o filme teha recebido um pouco mais de atenção do público norte-americano, mas fica como deveria ficar: em segundo plano. Não diria que o roteiro é a grande atração do filme, embora seja interessante. É bacana conhecer o golpe aplicado por Tuco (o feio) e "Blondie" (o bom, cujo nome não é citado em nenhum momento no filme), para receber recompensas, e a completa crueldade de "Angel Eyes" (o mau), um típico psicopata, que me lembrou muito o personagem de Javier Bardem em No country for old men, provavelmente inspirado no personagem de Lee van Cleef. Como creio que seja um filme que merece muito ser assistido, vou parar de falar sobre o roteiro mantendo elogios.

O que esse filme tem de especial? Embora muito clichês estejam presentes no filme, como a pontaria sempre certeira, os atiradores que estão mirando a meia-hora erram o tiro e no reflexo, o protagonista acerta em cheio, entre outras pérolas, mas muita coisa merece elogios. Cito aqui uma cena que passaria despercebida pra quase todo mundo, mas achei notória: Para obter uma informação de Tuco, Angel Eyes o tortura. Mas para obter informação parecida do loirinho, ele só pergunta, e se segue um diálogo interessante que quebra clichês: o mau reconhece que o bom é inteligente o bastante para saber que passar a informação não é garantia de que será poupado, e sabe que só está vivo enquanto não revelar essa informação, e que tortura não será eficiente. É uma situação que até hoje é recorrente, e Hollywood continua querendo empurrar uma situação que não se repetiria fora do cinema.
Outros destaques: Não tem mocinho no filme. Quer dizer, tem o vilão, claramente identificado como o mau, mas o bom não é assim tão bom. Ele sacaneia com seu parceiro, o feio, praticamente de graça, por duas vezes. Não é o perfil de mocinho bonzinho que se espera num filme. Há que se ressaltar também um tom de humor negro que o filme adquire, que eu gostei bastante. Os planos também são inteligentes, e principalmente convincentes.
Da parte técnica, é também notória a fotografia, as cores, o enquadramento, a aproximação das câmeras, e a forma como a edição gera tensão, principalmente na derradeira cena do "duelo de três", que parece durar uma semana, mantendo a expectativa e os nervos agitados para ver o que vai acontecer. Entre várias outras coisas legais. É um filme muito divertido, apesar das suas três horas de duração, incomuns para filmes que não tem tanta densidade.
E não poderia deixar de citar: Uma excepcional trilha sonora, com uma fantástica música tema, um clássico inesquecível que se mantém firme até hoje, sendo talvez até mais famosa que o próprio filme. Recomendado!

Quando e com quem ver esse filme? Típico do seu estilo, o filme é um festival de mortes gratuitas e um enorme desperdício de vidas humanas o tempo todo. Mas fora isso, nada demais no filme. A violência fica mais subentendida do que explícita. Não sei se estou com meu conceito de violência alterado por ter visto recentemente Machete e Planet Terror (que serão comentados em breve), mas não se verá crânios explodindo, ou vísceras arrancadas, nada do tipo. Só um tiro e um corpo caindo. o que para os padrões atuais, não é nada demais. Eu não censuraria ninguém, mas enfim, estejam avisados. E, por favor, contextualizem os mais desavisados do que se trata o filme.

Ficha técnica


Elenco: Clint Eastwood - Blondie (O bom)
Lee van Cleef - Angel Eyes (O mau)
Eli Wallach - Tuco (o feio)
Direção: Sergio Leone
Produção:  Alberto Grimaldi
Roteiro: Sergio Leone & Luciano Vincenzoni
Trilha sonora: Ennio Morricone
1966 - Itália / Espanha - 177 minutos - Western

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