terça-feira, 10 de maio de 2011

Up in the air (Amor sem escalas)

Mais um lamentável caso de título em português que em nada tem a ver com o título original, e menos ainda com o filme. Ao ver esse título, o que se esperava era um romance. Não que não haja isso no filme, mas o filme vai muito além disso. Muito além. É um filme que até diria que põe a gente pra pensar um pouquinho sobre algumas questões levantadas.

Sobre o roteiro: De início, um interessantíssimo fator, que garante a parte mais interessante do filme. O personagem principal trabalha demitindo pessoas. Esse é o seu trabalho principal, e com a prática, consegue fazer isso com toda a dignidade e cautela que se pode ter. Com este emprego, ele precisa viajar por todo o país em tempo integral para cumprir seu dever. Interessante notar que certos diálogos no filme são para além de entretenimento. Destaco aqui para a demissão do funcionário que estudou culinária francesa mas passou a vida inteira trabalhando com outra coisa, e para o diálogo com o noivo de sua irmã. Aliás, o ponto forte do filme não é o roteiro, mas justamente os diálogos. Outra reflexão interessante que o filme faz é sobre a relação de Bingham e Alex, um relacionamento aberto e sem compromissos além de encontros casuais. Só acho que o filme pisa um pouco no tapete quando coloca a relação como algo que fatalmente vai evoluir para algo mais, propagando a idéia de que relacionamentos casuais invariavelmente farão uma das partes querer algo mais. Mas recupera o crédito com o fim que realmente acontece (nessa relação), invertendo o clichê para algo menos previsível, e derrapa de novo deixando uma mensagem de negação a essas relações... mas enfim, isso é só um detalhe no filme, e não o foco.

O que esse filme tem de especial? Um "demitidor" profissional. Se o filme ficasse só nesse foco já seria o suficiente, embora o filme ainda tenha assuntos adicionais. É muito interessante ver como as pessoas se comportam diante da própria demissão, como se perdessem a própria vida. É patético que num mundo com tanta tecnologia e recursos, pessoas ainda dependam de dinheiro pra viver, e dependam de trabalho para ter dinheiro. Mais patético ainda é o conformismo e a subserviência com esse regime ainda pior que a escravidão (que não deixa de ser uma vertente do escravagismo). O filme traz interessantes reflexões sobre o que estamos fazendo com as nossas vidas, e a quê damos tanta importância, a quê não damos também.
Por fim, do ponto de vista técnico, a edição do filme também merece destaque. Artisticamente o filme é bem legal, com interessantes tomadas aéreas de cada cidade em que a trama se desenrola, por exemplo.

Quando e com quem ver esse filme? Não diria que esse é o filme ideal para ver com a namorada sábado à noite debaixo do cobertor comendo pipoca. É um filme mais para pensar. Não é um filme difícil, mas assisti-lo superficialmente seria um desperdício. Quanto a "com quem": Tem uma cena de sexo no começo do filme que dá pra ver algumas coisas. Fora isso, nenhuma arma, nada muito subversivo, ou que vá constranger ou chocar alguém.

Ficha técnica:


Elenco: George Clooney - Ryan Bingham
Vera Farmiga - Alex Goran
Anna Kendrick - Natalie Keener
Direção: Jason Reitman
Produção: Daniel Dubiecki, Jeffrey Clifford, Ivan Reitman & Jason Reitman
Roteiro: Walter Kirn (roteiro)
Trilha sonora: Rolfe Kent
2009 - EUA - 109 minutos - Drama

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