Cashback é originalmente um curta-metragem, de aproximadamente 20 minutos, que inclusive foi indicado ao Oscar. Aproveitando o relativo sucesso e a idéia, a idéia do filme foi desenvolvida.
Sobre o roteiro: O filme aborda o pequeno drama de um jovem estudante de artes que termina um namoro, mas ao ver que sua (agora) ex-namorada superou muito rapidamente a situação, ele começa a sofrer de insônia, passando as 24 horas dos dias acordado, e sempre pensando na ex. Então, tentando usar esse problema como oportunidade, aceita um emprego de madrugada em um supermercado. Não sei se todo mundo aqui já teve um emprego tão entediante (eu já...), mas nesses casos, o problema não é trabalhar, é fazer o tempo passar. Cada um faz o que julga ser melhor para sentir o tempo passar mais rápido. O que Ben Willis faz, porém, é justamente o que não se espera de quem quer acelerar o tempo: A sua fantasia é parar o tempo, e então, ver todos os detalhes que a correria do dia-a-dia não permitem reparar.
É essa característica que garante a originalidade do roteiro. Uma vez apresentado o conceito, a estória que se segue é simples: Um cara que se apaixona por uma colega de trabalho, e se desenrola um romancezinho sacado. Mas, importante citar, bem-apresentado, usando clichês que não insultam a inteligência, até deixando elementos interessantes no ar, como a interessante frase "ela viu o segundo errado de uma história de dois segundos". Vou até fazer uma comparação que força bastante a barra, mas pelo conceito do filme, me lembrei muito de Fight Club. Não, não é um filme parecido, ou comparável (ambos excelentes filmes, não vou ficar classificando qual é melhor), então não vão assistir com essa expectativa, mas recomendo que assistam.
O que esse filme tem de especial? O que salta aos olhos no filme são dois elementos técnicos: O primeiro e mais memorável, é o congelamento dos elementos de cena, enquanto o ator continua em movimento, e a câmera explora vários ângulos das pessoas e objetos enquanto estão estáticos. Como analogia tosca, é como o episódio do Chapolin Colorado da buzina paralizadora. Só que MUITO mais realista. Não vou dizer que inventaram o recurso, porque não sei, mas sei que a forma como esse recurso foi usada aqui eu nunca vi antes. E o outro elemento é mais polêmico: Nudez feminina. Mas aqui vai um comentário que pode soar suspeito, mas quem viu o filme me endossará: Embora apareçam várias mulheres nuas no filme (e nuas de verdade, nada daquelas insinuações discretas e rápidas de Hollywood - aliás, já vou adiantando que o filme é inglês), e que elas sejam maravilhosas, o diretor consegue fazer isso sem ser vulgar, e, de uma forma difícil de explicar, usa essa nudez da forma mais artística possível. É um comentário que será mais compreendido por quem já está mais acostumado com o universo artístico. A nossa cultura é muito repressora sexualmente falando, e nos acostumamos a ver qualquer nudez como "sacanagem", mas essa distinção é mais fácil de ser feita para quem está em contato com outras culturas. Nesse aspecto, e nessa perspectiva, o filme também é belíssimo.
Mas o que realmente merece destaque no filme são as reflexões que a obra nos convida a fazer. Desde a forma como lidamos com o tempo, como lidamos com os relacionamentos (sejam com namorada, colegas de trabalho, chefe, amigos, etc), como lidamos com o rumo que nossas vidas tomam, como deixamos nossa vida tomar rumos por si própria, e até onde podemos fazer alguma coisa em relação a ísso. Enfim, um filme inteligentíssimo, que vale a pena ser visto mais de uma vez (pretendo ver de novo), e com um primor técnico, em termos de efeitos especias, fotografia e edição, com uma preocupação estética muito acima dos padrões do cinema de Los Angeles. Pra mim, é TOP. Eu daria um Oscar de melhor fotografia (talvez a melhor da década), melhor direção e melhor roteiro. Recomendo muito, e vale o trabalho de achá-lo (é meio difícil de achar, por ser mais alternativo).
Quando e com quem assistir a esse filme? Como eu já disse antes por aqui, não creio que conteúdo sexual deva ser censurado (é justamente a censura a esse tipo de coisa que gera a hipocrisia de achar que isso é absurdo, quando é algo tão natural quanto caminhar ou comer), ainda mais que este filme não apresenta a nudez com conotação sexual, e até mesmo o erotismo, se existir, é muito discreto. Mas já vão sabendo que muitas mulheres serão vistas, digamos, em seus melhores ângulos, e isso pode despertar diferentes reações em diferentes espectadores, e o senso crítico e estético vai ser o diferencial para escolher uma companhia adequada. Quanto a quando, bem... o filme tem muita coisa que merece ser pensada com calma, e seria um desperdício assistir ao filme superficialmente, mas ainda assim, é um filme que até pode ser usado como entretenimento simples. Continuando com as metáforas absurdas, dá pra fazer whisky com energético usando Johnnie Walker Blue Label, mas pra essa finalidade (ficar doidão), já valia um Red Label, ou coisa pior, pois, já que não vai se perceber a diferença mesmo, porquê desperdiçar logo o melhor?!
Ficha técnica:
Elenco: Sean Biggerstaff - Ben Willis
Emilia Fox - Sharon Pintey
Shaun Evans - Sean Higgins
Michelle Ryan - Suzy
Stuart Goodwin - Jenkins
Frank Hesketh - Ben Willis (quando criança)
Direção: Sean Ellis
Produção: Lene Bausager & Sean Ellis
Roteiro: Sean Ellis
Trilha sonora: Guy Farley
2006 - Inglaterra -102 minutos - Drama
2 comentários:
Super válida a dica! Nunca havia ouvido falar deste filme (justo eu, que costumo conhecer e gostar dos filmes ditos "alternativos"), fiquei bastante interessada em assistir. Tem uma dica de onde achar para baixar? Tão logo assista, voltarei aqui para deixar a minha opinião a respeito.
Acabei de assistir esse filme. Na verdade foi assim que achei esse blog, tenho a mania de só procurar o comentário dos filmes depois de ve-los, ah e parabéns pelo blog!. Gostei muito do filme, daqueles pra ver sozinho e dar um suspiro de bom filme no final. Ele já estava há muito tempo na minha lista de filmes, não tinha muitas expectativas para esse filme, até que decidi dar uma chance.
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