domingo, 19 de junho de 2011

American Beauty (Beleza Americana)

Um bom filme, mas tenho minhas dúvidas se realmente era essa coisa toda merecedora de tamanha badalação na sua época. Já tinha assistido desatentamente a uns 8 anos, e resolvi ver de novo.

Sobre o roteiro: Mais um filme que vem com o objetivo de desconstruir o "american way of life". Um casal de meia-idade, em crise conjugal, e em crise de meia-idade também, uma filha adolescente que odeia os pais, que tem uma amiga que é desejada por todos os meninos de sua idade, e que desperta o interesse do pai dela também, mas é sexualmente a personagem mais recatada na prática, embora viva a dizer o contrário sempre que possível, um vizinho militar reformado veterano do Vietnam, e que tem um filho tratado à rédeas curtas, mas que secretamente é um traficante de drogas. Focando no casal, ele é um homem frustrado em todas as áreas de sua vida: sexual, profissional, como pai, como marido, como amigo, etc. Ela é uma workaholic que passa a trair o marido com outro homem, um corretor de imóveis bem-suscedido. Quase todos os estereótipos de cidadãos dos EUA estão presentes na trama, que aborda as misérias de cada tipo de pessoa que cada um dos personagens principais representam. Aqui eu acho que mora o trunfo do filme: Todos os norte-americanos se identificaram com algum desses personagens. E não tem melhor fórmula de sucesso do que fazer o público se identificar com sua obra.

O que se segue são desfechos já até esperados, embora alguns surpreendentes, principalmente o enigmático final. Mas o foco não é nem tanto no roteiro, é mais em mostrar o quão patética, fútil e vazia de significado é a vida do norte-americano médio. Nesse aspecto, eu imagino que o filme incomoda a quem se encaixa na carapuça.

O que esse filme tem de especial? Não é o primeiro, e não foi o último, mas satirizar com o estilo de vida norte-americano é o maior chamariz para o filme. Fora isso, o filme tem aspectos técnicos bem acima da média. Diálogos interessantes, dramas que fogem um pouco do lugar-comum politicamente correto, uma narrativa que não enche lingüiça, atores muito bons, e definitivamente uma direção de fotografia muito acima da média. Só não dá pra aceitar esse filme levar tantos Oscar no mesmo ano em que tivemos The Matrix, Fight Club, Star Wars - Episode I e The Green Mile, Being John Malkovich, entre outros. Mas o Oscar é só Hollywood, né?!

Quando e com quem assistir a esse filme? Eu evitaria crianças, o filme é pesado tanto em cenas quanto no texto. Também evitaria os frescos pseudo-moralistas. Fora isso, acho que sem maiores reservas. E embora seja um filme com alguma profundidade, não diria que é um filme pra ver sem piscar. Então, só sente pra ver como um drama comum. Mas se for norte-americano, ou morar nos EUA, aí sim acho que o filme tem algo mais. É definitivamente um filme para norte-americanos.


Ficha técnica

Elenco: Kevin Spacey - Lester Burnham
Annette Benning - Carolyn Burnham
Thora Birch - Jane Burnham
Wes Bentley - Ricky Fitts
Mena Suvari - Angel Hayes
Chris Cooper - Coronel Frank Fitts
Direção: Sam Mendes
Produção: Bruce Cohen & Dan Jinks
Roteiro: Alan Ball
Trilha sonora: Thomas Newman
1999 - EUA - 122 minutos - Drama

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Catch me if you can (Prenda-me se for capaz)



Um filme com um estilo que eu gosto muito: Golpes, armações, etc. Felizmente, normalmente filmes que seguem essa linha são muito bons, não me vem agora a mente nenhum filme dessa categoria que eu não tenha gostado. E não estamos diante de uma exceção.

Sobre o roteiro: O filme conta a história supostamente verdadeira de Frank Abagnale Jr, um estelionatário que ficou famoso por praticar golpes nos EUA, forjar identidades diferentes e convencer muita gente do que lhe era conveniente, e que foi perseguido por muitos anos até ser finalmente preso, passando então a SPOILER - SPOILER - SPOILER. O filme então narra, de forma mais cômica, como alguns de seus golpes eram executados. E como a polícia fez para capturá-lo. Muitas surpresas, cenas cômicas, e sobretudo fraudes genialmente elaboradas por um garoto de 17 anos que se tornou um dos mais célebres falsários de seu país. Embora o roteiro seja o principal atrativo do filme (pessoalmente acho essa uma das melhores qualidades que um filme pode ter), se trata de um daqueles filmes que não dá pra ficar falando muito do roteiro sem estragar surpresas. E embora seja um filme que não tem problema algum em ser visto de novo, existe um certo clima de mistério que só existirá na primeira vez que for assistido. Então, vamos apenas dizer que é uma história muito boa, bem tramada e com fatos bem conexos (aliás, o filme ser baseado em fatos reais ajuda muito nessa hora, embora não anule o trabalho do roteirista de forma alguma) e dizer que é um filme que vale muito a pena assistir. Recomendo.

O que esse filme tem de especial? O diretor é Steven Spielberg, e a trilha sonora é de John Williams. Não muito abaixo em importância, o co-adjuvante é Tom Hanks. Com isso de início, acho que nem se quisessem esse filme sairia ruim. O filme acerta ao trazer uma história séria, uma trama atrativa e interessante, personagens sérios, mas com um leve tom de humor-negro, em relação aos infortúnios ocorridos aos personagens. Traz um elenco de primeiro escalão com um inspirado Leonardo DiCaprio como protagonista, em uma de suas melhores atuações, longe daquele insosso ator "celebridade forçada" de Titanic. Christopher Walken também está destacadamente bem, apesar de pouco aproveitado, e Tom Hanks sendo feito de palhaço o tempo todo também, como sempre, muito acima da média. Os aspectos técnicos estão totalmente dentro da excelência esperada de um filme do Spielberg. John Williams não fez a melhor trilha sonora de sua vida, mas ainda assim ela é notável e chama a atenção.

Quando e com quem ver esse filme? Dá pra ver a qualquer momento, mas é um filme que merece alguma atenção, embora seja fácil de assistir. E também dá pra ver com qualquer um, não tem cenas fortes, nem um roteiro intrincado, ou maiores pretensões. Um filme "versátil".


Ficha técnica:

Elenco: Leonardo DiCaprio - Frank Abagnale Jr.
Tom Hanks - Carl Hanratty
Christopher Walken - Frank Abagnale
Martin Sheen - Roger Strong
James Brolin - Jack Barnes
Amy Adams - Brenda Strong
Jennifer Garner - Cheryl Ann
Direção: Steven Spielberg
Produção: Steven Spielberg, Michel Shane, Walter F. Parkes & Laurie MacDonald
Roteiro: Frank Abagnale & Stan Redding (autores do livro)
Trilha sonora: John Williams
2002 - EUA - 141 minutos - Aventura

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Speed Racer

E chegou o dia em que descobri que meus heróis também não são perfeitos... após ter assistido todos os filmes feitos pelos irmãos Wachowski, e ter achado todos eles geniais, fui assistir Speed Racer. Quer dizer, não fui tão fanático assim, fiquei enrolando uns 3 anos pra ver o filme, até criar coragem (pois preciso citar que não o assistiria jamais se não fosse feito por pessoas com o prestígio semelhante ao dessa dupla) pra vê-lo. Tudo bem que é um filme infantil, mas Shrek também é, e ainda assim é ótimo. Mas pelo menos para as crianças, fico com a impressão que o filme é ótimo.

Sobre o roteiro: Alguém aí já assistiu a algum filme ou desenho da Hot Wheels, mesmo que por tabela, involuntariamente, navegando nos canais de TV sábado de manhã, cuidando de um primo novinho, não?! É o seguinte: Corridas onde os pilotos não só pilotam pelo dinheiro, ou por esporte. Eles estão lá defendendo algo em que acreditam, quase como paladinos da verdade e da justiça. E a física é completamente ignorada nas corridas. Fora isso, ainda tem aquela coisa de Ben-Hur, os duelos entre carros, um batendo no outro, carros cheios de armas secretas, ganchos, serras, correntes, e toda sorte de parafernalhas "medievais high-tech". Enfim, zero compromisso com a verossimilhança. O que não seria um problema, em teoria, o problema é que isso não é um desenho animado, e é um filme que adapta para o cinema um clássico de muitos anos, e que gera uma expectativa grande nas crianças dos anos 70, 80, que hoje estão nos seus 40, 50 anos, e provavelmente se interessariam em ver esse filme com os filhos.

Acho que é aqui que mora o principal problema do filme: Só as crianças vão achar interessante. O filme não tem elementos adultos, e é recheado de toda sorte de clichês das aventuras infantis. O maniqueismo, o piloto absurdamente bonzinho, incapaz de fazer mal a uma formiga, inocente até o último fio de cabelo, o dono de equipe diabolicamente mau e sem escrúpulos, o protagonista que ganha todas, sempre no último instante, entre outras coisas que só colam mesmo pra crianças. Volto a dizer, filme infantil não precisa agradar só as crianças. O que nos leva ao elemento que faltou, e que é o responsável por fazer crianças e adultos gostarem de Ice Age, Megamind, o já citado Shrek, Finding Nemo, entre outros: Humor.

Digo, até tem, mas é tão fraco e escasso que nem se percebe. E fazer um filme essencialmente infantil tentando colocar a mesma seriedade de The Matrix e V for Vendetta é MUITA pretensão, mesmo para os Wachowski (que já foram muito pretensiosos nos dois filmes citados acima, e deram muito certo) e infelizmente o resultado não foi satisfatório. O que não é o fim do mundo, afinal de contas, não me lembro de absolutamente nenhum filme infantil que fosse feito pra ser levado a sério, e que tenha dado certo. Citando o filme que lançou a dupla para o megaestrelato, "todos caem na primeira tentativa". Só não acho que valha a pena tentar fazer outro filme nesse molde. Ah, e fazer um filme desse jeito com mais de duas horas de duração também foi lamentável. Não via a hora do filme acabar, pois a trama é cansativa e muita coisa aqui é desnecessária. É um filme que tem como público alvo crianças e adutos que assistiram a série animada. Mas parece que o foco foi só nos baixinhos.

Ah, vale citar algo importante que afeta diretamente minhas impressões sobre o filme: Eu nunca vi nenhum episódio do desenho Speed Racer, então não tive como ver o filme fazendo uma comparação com o original, então talvez muita coisa que eu não tenha gostado possa não ser culpa deles, e sim da premissa mesmo.

O que esse filme tem de especial? Andy & Larry Wachowski, cara. Eles inventaram a roda duas vezes em uma década. Então, há de se esperar que em todos os aspectos técnicos o filme seja mais do que perfeito. E nesse sentido, todas as espectativas são até superadas. Efeitos especiais muito primorosos (embora servindo a um propósito muito bobo), edição, produção e tudo mais com o máximo de qualidade que a tecnologia permite. O elenco não tem muito trabalho, os personagens não exigem nada demais e seria até uma boa oportunidade para lançar a carreira de atores iniciantes, mas preferiram usar atores mais conhecidos, como John Goodman, Susan Sarandon e Christina Ricci, além do protagonista não tão famoso Emile Hirsch. Claro que dão conta do recado. Mas fica a sensação de que tem muita gente qualificada, muito dinheiro, para pouco resultado.

Quando e com quem ver esse filme? Com criança, definitivamente. Preferencialmente, com meninos, até uns 10, 12 anos, no máximo. É bom que dá pra levantar pra ir ao banheiro, pegar algo pra comer na cozinha, sem precisar parar o filme. Ou se você for um nostalgista que era fã do desenho, também. Só que é um filme muito bobo, e eu não gostei.

Ficha técnica:


Elenco: Emile Hirsch - Speed Racer
John Goodman - Pops Racer
Susan Sarandon - Mom Racer
Christina Ricci - Trixie
Scott Porter - Rex Racer
Mattew Fox - Racer X
Roger Allan - Arnold Royalton
Direção: Andy & Larry Wachowski
Produção: Andy Wachowski, Larry Wachowski & Joel Silver
Roteiro: Tatsuo Yoshida
Trilha sonora: Michael Giacchino
2008 - EUA/Japão/Alemanha - 135 minutos - Aventura/Infantil

quinta-feira, 9 de junho de 2011

1408

Ah, Stephen King... o Pelé do terror, sempre criando histórias interessantes, explorando quase sempre os mesmos elementos e sempre conseguindo surpreender e criar. Porém, infelizmente um filme ser baseado em sua obra não é garantia de que terá a mesma qualidade. Esse, por exemplo, não está entre os melhores. Digo, é muito bom, e tal, mas ao compararmos com os outros filmes inspirados em seus contos, 1408 distoa um pouco. O que não quer dizer que seja um mal filme. Numa comparação pitoresca: o Metallica teve seus álbuns dos anos 90 massacrados pelos fãs. São discos ruins? Nunca! São ótimos. O problema é que nos anos 80 eles fizeram coisas ainda melhores, e ao comparar, a diferença é pertinente. A culpa provavelmente não é de King, talvez de quem fez o filme. Mas a palavra "culpa" não cabe aqui, porque, como disse, é um bom filme.

Sobre o roteiro: Stephen King, lembra?! Terror, sobrenatural, comportamento humano, etc. O interessante é que de certa forma, a estória homenageia seu autor. O protagonista é um autor de livros de terror, que não acredita no sobrenatural. Qualquer semelhança seria mera coincidência?! Voltando ao filme, ele também é um "caçador de mitos", que procura as supostas aberrações para atestar sua autenticidade. E ao ouvir sobre o quarto 1408 de um tradicional hotel, resolve ir checar a história. Aí vem um festivalzinho de clichês, desde o "não faz isso..." "desiste", "eu te ofereço outro quarto", "eu insisto, não entre, é mal-assombrado" entre outras apelações do tipo, sempre rebatidas pelos também costumazes "eu não tenho medo", "é agora que eu quero entrar mesmo", "isso é armação, eu vou desvendar tudo", e por aí vai. E ao entrar no quarto, realmente começam a rolar coisas muito bizarras. Muitos sustos mais clichês ainda, como aquelas coisas de silêncio profundo sendo quebrado por barulhos muito altos,sombras passeando, equipamentos se comportando de forma muito estranha, entre uma ou outra coisa realmente mais criativas. E isso vai gerando um drama psicológico no protagonista, que chega ao ponto de questionar a própria sanidade, e o filme não deixa claro o que está acontecendo, nem como está acontecendo, deixando realmente muita coisa no ar para ser interpretada. Daqui pra frente, só vendo o filme, não vou ser spoiler.

O que esse filme tem de especial? É Stephen King. Então, tudo aquilo que é muito legal nas obras dele estão aqui, como uma assinatura, é sempre fácil identificar uma estória dele. Os efeitos especiais estão ótimos, dando muita credibilidade ao que se passa no quarto, a direção desenvolve bem o clima de apreensão e nervosismo que o filme propõe, os sustos realmente assustam (aquela coisa, a gente sabe que vai acontecer um monte de coisas, mas a surpresa é saber exatamente quando, o quê e como), a trilha sonora age quase que como um elemento da cena, tudo bem feito. Só o roteiro mesmo que fica deixando um pouquinho a desejar, por ser mais previsível do que de costume (no padrão King). As atuações também são bacanas, apesar dos pouquíssimos personagens, deixando John Cusack quase que como o único ator do filme. Enfim, um filme que eu esperava um pouco mais, mas ainda assim é bom.

Quando e com quem assistir a esse filme? O filme é meio perturbador, e tem muitas cenas fortes (é um filme de terror, oras!), então, não recomendo para estômagos fracos. Recomendo pra quem já gosta de coisas do Stephen King, mas não vão esperando uma obra prima dele.


Ficha técnica:


Elenco: John Cusack - Mike Enslin
Samuel L. Jackson - Gerald Olin
Direção: Mikael Håfström
Produção: Lorenzo di Bonaventura
Roteiro: Stephen King (autor do livro)
Trilha sonora: Gabriel Yared
2007 - EUA - 106 minutos - Terror

Elektra Luxx

Mais um filme do qual eu não esperava absolutamente nada, mas o filme surpreende. De fato, não é nada demais, mas é um bom filme, até digno de recomendação. Na verdade, é a continuação de um filme chamado Women in trouble, que eu não vi.

Sobre o roteiro: Elektra Luxx é uma ex-atriz pornô que saiu do ramo após engravidar de um astro do rock, que morreu num acidente. Ela passa então a viver dando "aulas de performance" para mulheres interessadas. Até aí, uma premissa bobinha, de filme adolescente. Mais alguns elementos se somam a isso. Nick Chapel, o falecido astro, deixou algumas músicas escritas, que vão parar nas mãos de Elektra, e se tornam o objetivo de um detetive contratado para recuperá-las para a banda. Paralelo a isso, uma mulher quer a ajuda dela para um "problema" com o marido. Sem nada inovador, mas sem se tornar previsível, ou chato, a história se desenrola sob situações inusitadas no estilo "comédia de erros".

Acho relevante citar que, embora possa ser preciosismo demais para uma comédia despretensiosa e leve, uma ou outra coisa (geralmente irrelevante) parece ficar meio solta, deixando uma sensação de que faltou uma explicação melhor para as conexões, o que suponho que o primeiro filme possa servir de complemento. Duas personagens, por exemplo, que aparentemente seriam figurantes, passam a protagonizar uma história paralela (embora eu admita que seja responsável pelas duas melhores cenas do filme) sem nenhuma ligação com a trama principal.

Mas enfim, uma comédia com cenas legais, um roteiro até bacaninha, e que diverte. Um filme que merece ser assistido.

O que esse filme tem de especial? O próprio roteiro é interessante, cheio dessas coisas que dão errado e os personagens precisam improvisar, embora por vezes o filme apele para clichês ou para soluções fracas. Quanto as cenas que disse serem as melhores do filme, vale citar o episódio contado no restaurante sobre a ditadura na Venezuela (a verdadeira ditadura venezuelana, em meados do século XX). O diretor do filme é venezuelano, e deve ter tido problemas na família com o governo nessa época, e retrata uma história que quebra radicalmente com o clima cômico do filme por um instante. A outra cena é da declaração de amor de Holly para Trixie, ocasionando uma situação lésbica que soa muito natural, e não forçada como costuma ser nesse tipo de filme. Cena muito bem montada, de forma a fazer até alguém mais conservador e preconceituoso a simpatizar com a personagem. Fora isso, o filme tem um final que realmente poderia ser bem melhor, mas não chega a comprometer o resultado final, até porque numa comédia o importante não é chegar ao destino, mas sim a viagem até lá.

As atuações também são muito boas, com um especial destaque para Adrianne Palicki, que interpreta uma atriz pornô com problemas sérios de cognição, para Timothy Olyphant, que vive um personagem que lembra muito o seu próprio personagem em The girl next door e para a própria Carla Gugino, que vive a personagem-título. O diretor faz o que precisa ser feito. Num filme de comédia, é incomum o diretor se destacar demais, então, isso pode ser positivo.

Quando e com quem ver esse filme? O filme traz muitos elementos e até algumas cenas que chocarão os mais conservadores-caretas, pelo seu conteúdo sexual (que também não mostra nada além do que as novelas globais costumam mostrar), mais insinuado do que mostrado. Fora isso, uma comédia leve, sem ambição, e que dá pra ser vista numa boa com quase qualquer um. Acho que é uma boa dica pra ver namorando. Quem gostou de The girl next door deve gostar deste também, e vice-versa.

Ficha técnica:


Elenco: Carla Gugino - Elektra Luxx
Timothy Olyphant - Del
Joseph Gordon-Levitt - Bert Rodriguez
Adrianne Palicki - Holly Rocket
Malin Åkerman - Trixie
Emmanuelle Chriqui - Bambi
Marley Shelton - Cora
Josh Brolin - Nick Chapel
Direção: Sebastian Gutierrez
Produção: Sebastian Gutierrez
Roteiro: Sebastian Gutierrez
Trilha sonora: Matt Vowles
2011 - EUA - 104 minutos - Comédia

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cashback

Esse filme abre uma série de filmes que assisti sem absolutamente nenhuma expectativa, mas fui muito positivamente surpreendido. Foi um dos melhores filmes que vi este ano (o que é relevante, ja que já vi uns 100 filmes este ano). Mas eu já vou inflar a expectativa em quem ler estes comentários aqui.

Cashback é originalmente um curta-metragem, de aproximadamente 20 minutos, que inclusive foi indicado ao Oscar. Aproveitando o relativo sucesso e a idéia, a idéia do filme foi desenvolvida.

Sobre o roteiro: O filme aborda o pequeno drama de um jovem estudante de artes que termina um namoro, mas ao ver que sua (agora) ex-namorada superou muito rapidamente a situação, ele começa a sofrer de insônia, passando as 24 horas dos dias acordado, e sempre pensando na ex. Então, tentando usar esse problema como oportunidade, aceita um emprego de madrugada em um supermercado. Não sei se todo mundo aqui já teve um emprego tão entediante (eu já...), mas nesses casos, o problema não é trabalhar, é fazer o tempo passar. Cada um faz o que julga ser melhor para sentir o tempo passar mais rápido. O que Ben Willis faz, porém, é justamente o que não se espera de quem quer acelerar o tempo: A sua fantasia é parar o tempo, e então, ver todos os detalhes que a correria do dia-a-dia não permitem reparar.

É essa característica que garante a originalidade do roteiro. Uma vez apresentado o conceito, a estória que se segue é simples: Um cara que se apaixona por uma colega de trabalho, e se desenrola um romancezinho sacado. Mas, importante citar, bem-apresentado, usando clichês que não insultam a inteligência, até deixando elementos interessantes no ar, como a interessante frase "ela viu o segundo errado de uma história de dois segundos". Vou até fazer uma comparação que força bastante a barra, mas pelo conceito do filme, me lembrei muito de Fight Club. Não, não é um filme parecido, ou comparável (ambos excelentes filmes, não vou ficar classificando qual é melhor), então não vão assistir com essa expectativa, mas recomendo que assistam.

O que esse filme tem de especial? O que salta aos olhos no filme são dois elementos técnicos: O primeiro e mais memorável, é o congelamento dos elementos de cena, enquanto o ator continua em movimento, e a câmera explora vários ângulos das pessoas e objetos enquanto estão estáticos. Como analogia tosca, é como o episódio do Chapolin Colorado da buzina paralizadora. Só que MUITO mais realista. Não vou dizer que inventaram o recurso, porque não sei, mas sei que a forma como esse recurso foi usada aqui eu nunca vi antes. E o outro elemento é mais polêmico: Nudez feminina. Mas aqui vai um comentário que pode soar suspeito, mas quem viu o filme me endossará: Embora apareçam várias mulheres nuas no filme (e nuas de verdade, nada daquelas insinuações discretas e rápidas de Hollywood - aliás, já vou adiantando que o filme é inglês), e que elas sejam maravilhosas, o diretor consegue fazer isso sem ser vulgar, e, de uma forma difícil de explicar, usa essa nudez da forma mais artística possível. É um comentário que será mais compreendido por quem já está mais acostumado com o universo artístico. A nossa cultura é muito repressora sexualmente falando, e nos acostumamos a ver qualquer nudez como "sacanagem", mas essa distinção é mais fácil de ser feita para quem está em contato com outras culturas. Nesse aspecto, e nessa perspectiva, o filme também é belíssimo.

Mas o que realmente merece destaque no filme são as reflexões que a obra nos convida a fazer. Desde a forma como lidamos com o tempo, como lidamos com os relacionamentos (sejam com namorada, colegas de trabalho, chefe, amigos, etc), como lidamos com o rumo que nossas vidas tomam, como deixamos nossa vida tomar rumos por si própria, e até onde podemos fazer alguma coisa em relação a ísso. Enfim, um filme inteligentíssimo, que vale a pena ser visto mais de uma vez (pretendo ver de novo), e com um primor técnico, em termos de efeitos especias, fotografia e edição, com uma preocupação estética muito acima dos padrões do cinema de Los Angeles. Pra mim, é TOP. Eu daria um Oscar de melhor fotografia (talvez a melhor da década), melhor direção e melhor roteiro. Recomendo muito, e vale o trabalho de achá-lo (é meio difícil de achar, por ser mais alternativo).

Quando e com quem assistir a esse filme? Como eu já disse antes por aqui, não creio que conteúdo sexual deva ser censurado (é justamente a censura a esse tipo de coisa que gera a hipocrisia de achar que isso é absurdo, quando é algo tão natural quanto caminhar ou comer), ainda mais que este filme não apresenta a nudez com conotação sexual, e até mesmo o erotismo, se existir, é muito discreto. Mas já vão sabendo que muitas mulheres serão vistas, digamos, em seus melhores ângulos, e isso pode despertar diferentes reações em diferentes espectadores, e o senso crítico e estético vai ser o diferencial para escolher uma companhia adequada. Quanto a quando, bem... o filme tem muita coisa que merece ser pensada com calma, e seria um desperdício assistir ao filme superficialmente, mas ainda assim, é um filme que até pode ser usado como entretenimento simples. Continuando com as metáforas absurdas, dá pra fazer whisky com energético usando Johnnie Walker Blue Label, mas pra essa finalidade (ficar doidão), já valia um Red Label, ou coisa pior, pois, já que não vai se perceber a diferença mesmo, porquê desperdiçar logo o melhor?!

Ficha técnica:


Elenco: Sean Biggerstaff - Ben Willis
Emilia Fox - Sharon Pintey
Shaun Evans - Sean Higgins
Michelle Ryan - Suzy
Stuart Goodwin - Jenkins
Frank Hesketh - Ben Willis (quando criança)
Direção: Sean Ellis
Produção: Lene Bausager & Sean Ellis
Roteiro: Sean Ellis
Trilha sonora: Guy Farley
2006 - Inglaterra -102 minutos - Drama

terça-feira, 7 de junho de 2011

Juno

Um raro caso de filme super-badalado que corresponde a expectativa. Não deve ser um comentário longo.

Sobre o roteiro: Este é mais um dos filmes onde o roteiro é secundário, o foco é mostrar as relações de uma forma mais reailsta. A premissa é de um dos dramas cada vez mais comuns na sociedade: Os efeitos de uma inesperada e nada planejada gravidez na adolescência. E o filme explora o que passa a ser, como a gíria norte-americana diria, "a situation". Juno, a jovem de 16 anos que protagoniza e nomeia o filme, engravida na sua primeira e única relação sexual com um "amigo". O filme apresenta várias facetas dessa situação, desde a ingenuidade dos jovens em achar que nada vai acontecer (é só a 1ª vez...), a negação da situação (aliás, uma rápida passagem pelos estágios do modelo de Kübler-Ross - Negação; Raiva; Negociação; Depressão; Aceitação - típicas de se enfrentarem frente a tragédias pessoais), o drama de contar para os pais, o que será do bebê, como a gravidez afeta sua vida social, as reações das pessoas com as quais convive, etc. E então, toma uma madura decisão de entregar o bebê para adoção, reconhecendo sua incapacidade e desinteresse em criar um filho nesse momento de sua vida, advindo de tal circunstância. E então passa a fazer parte da vida do casal que pretende adotar seu neném. Só que mesmo pais adotivos também não sabem muito bem o que fazer, mesmo diante de uma situação planejada e desejada a muito tempo. Nesse momento, suas vidas também são severamente sacudidas e abaladas. Daí pra frente é um festival de situações para se analisar, diálogos muito bem construídos, e muita coisa pra se refletir. O resto vou guardar pra quem ainda não viu.

O que esse filme tem de especial? Esse filme que traz uma nova perspectiva para algo que normalmente é abordado como uma catástrofe na vida de meninas que passam por situação semelhante.Creio que seja este seu maior trunfo. Fora que também é um filme que notoriamente foge do padrão dos dramas de Hollywood, embora de certa forma seja um também, embora se trate de um filme independente.
Do aspecto técnico, há uma direção competente, trilha sonora muito bem selecionada (embora não composta para o filme, que definitivamente não é o tipo de filme para esta demanda), e principalmente um supercompetente elenco. Ellen Page transmite toda a aflição da personagem, J.K. Simmons faz muito bem o papel de pai de Juno, e a inconstante Jennifer Garner está em um dos seus melhores momentos como mãe adotiva. E, reforçando, um roteiro recheado de ótimos diálogos.
Essencialmente, diria que é um filme de sensações, para analisar e perceber.

Quando e com quem assistir a esse filme? Sem absolutamente nenhuma contra-indicação de público, mas é um filme que merece alguma atenção para ser interpretado de uma forma mais crítica. Um filme leve, mas que leva a pensar um pouco. Não é imperdível, mas vale bem a pena.


Ficha técnica:


Elenco: Ellen Page - Juno MacGuff
Michael Cera - Paulie Bleeker
Jennifer Garner - Vanessa Loring
Jason Bateman - Mark Loring
Olivia Thilrby - Leah
J.K. Simmons - Mac MacGuff
Allison Janney - Brenda MacGuff
Direção: Jason Reitman
Produção: John Malkovich, Lianne Halfon, Mason Novick & Russell Smith
Roteiro: Diablo Cody
Trilha sonora: Matteo Messina
2007 - EUA - 96 minutos - Drama

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Machete

Em Grindhouse, haviam alguns trailers supostamente falsos, ou seja, de filmes que não existiriam. Só que o trailer de Machete fez muito sucesso, e o filme foi efetivamente feito, embora com a idéia levemente modificada, e bem amadurecida. Mas embora seja um filme de tema bem sério, é feito nos mesmos moldes de Grindhouse, ou seja, um filme splatter recheado de tosqueiras, bem ao molde dos típicos filmes do herói que, por motivos pessoais, sai atropelando todo mundo que cruza seu caminho. E aqui, temos uma brilhante caricatura desse perfil.

Sobre o roteiro: Alguns filmes, ao tratarem de temas polêmicos, colocam um dedo na ferida de certas parcelas da sociedade. O que Robert Rodruiguez faz aqui, é enfiar um machete nessa ferida, e estraçalhar sem dó. O tema, pra quem não viu o filme, é o tratamento aos imigrantes ilegais. Rodriguez incomoda porque aqui ele aborda o que realmente incomoda aos "xenófobos": Concorrência no narcotráfico. Ninguém reclama de ter um mexicano limpando sua casa, cortando sua grama, levando as crianças pra escola, trabalhando como um capacho, recebendo como um mendigo. Na verdade, até tenho lá minhas opiniões sobre as pessoas que se submetem a esse tipo de tratamento e de emprego, mas não quero falar sobre isso aqui. O caso é que os imigrantes ilegais são bem-vindos, porque farão o serviço que nenhum norte-americano quer fazer, em condições que nenhum norte-americano se sujeita, por um salário que nenhum norte-americano aceita. Os mexicanos são um bom negócio. Mas são o principal bode expiatório pra maioria dos problemas da sociedade Yankee. E o tráfico de drogas não é diferente. O caso é que as drogas mexicanas são muito mais baratas, e em muito maior quantidade. Assim, quem está envolvido nesse "mercado", não fica nada satisfeito com isso. E essas pessoas envolvidas estão em muitos mais posições sociais que o cidadão comum supõe.
Voltando ao filme, toneladas de críticas a essa hipocrisia e sujeira que este cenário representa são despejadas, mas sem nunca deixar de focar no que é prioridade no filme: Entretenimento. Por mais que o filme seja engajado (provavelmente Robert Rodriguez seja descendente de imigrantes ilegais) e ácido, tudo isso é pano de fundo para as homenagens que o filme presta ao gênero. Temos o estereótipo do policial estilo "Rambo", que mata todo mundo mesmo, que é sacaneado (eufemismo da minha parte, pra não ser spoiler), e se vinga de todo mundo, traçando todas as mulheres bonitas que aparecerem na história. Mas, como uma boa caricatura deve ser, tudo é exagerado. Tudo. Exagerado.
O tema do filme é sério e importante, mas, paradoxalmente, o roteiro não. É só uma história construída a partir de uma colagem de clichês e mais clichês, para servir ao proósito do diretor de satirizar com os diversos elementos usados. Aliás, o roteiro não deixa de ser, por si só, mais um caricatura.

O que esse filme tem de especial? Robert Rodriguez fez um filme perfeito. Sabe aquele filme que não dá vontade de mudar absolutamente nada? Dentro do que o filme se propõe, tudo funciona perfeitamente. Apresenta como galã protagonista o "lindíssimo" Danny Trejo (primo de Rodriguez, colaboração freqüente), que é, no filme, completamente irresistível para as verdadeiras beldades do filme, representadas por, entre outras, Jessica Alba, Michelle Rodriguez e Lindsay Lohan. Aliás, falando do estelar elenco, todo mundo mandou bem nas interpretações, até as já citadas Jessica e Lindsay, que são lindas, mas péssimas atrizes, passam por de razoáveis para boas atrizes. E até um dos piores atores da história de Hollywood, Steven Seagal (pessoalmente, não considero ele, Jet Li, e outros do gênero, como atores. Pra mim, são lutadores - e são mesmo, ótimos, aliás - que tentam empurrar pro cinema porque vende - e vende mesmo), atua bem aqui. E, é claro, Robert DeNiro, que dispensa comentários.
A direção também é explêndida, com toda a violência tão exagerada que se torna cômica, ao melhor estilo do padrão Robert Rodriguez de qualidade. Aliás, essa é a marca do diretor, e a marca do filme: Elementos sérios, mas tão exagerados que se tornam cômicos, para quem gosta de humor negro.
E principalmente, não podemos nos esquecer: Assim como James Cameron fez em Avatar, Machete traz um tema sério e polêmico carregado de críticas ferozes, mas sem se tornar um filme polêmico, pois esse não é o ponto principal do filme, apenas um objetivo secundário, relativamente subliminar. Nesse aspecto, creio que seja o filme mais denso de Rodriguez.

Quando e com quem ver esse filme? Utopicamente, acho que conteúdo sexual não deveria ser censurado de ninguém, mas já que é assim que as coisas são, vale lembrar que o filme traz algumas cenas de nudez um pouco acima da ousadia média de Hollywood, merecendo ser citada. Mas o motivo principal para considerar vetar o filme para menores ou pessoas mais sensíveis são as cenas de ultraviolência, como mutilações, muitos tiros absurdamente exagerados, tortura, e até uma crucificação. Mas tudo feito com foco no entretenimento. O padrão da dupla Rodriguez / Tarantino, que já é famoso.


Ficha técnica

Elenco: Danny Trejo - Machete
Michelle Rodriguez - Luz/Shé
Jessica Alba - Sartana 
Robert DeNiro - Senador John McLaughlin
Cheech Marín - Padre
Lindsey Lohan - April Booth
Steven Seagal - Torres
Don Johnson - Tenente Stillman
Direção: Robert Rodriguez & Ethan Maniquis
Produção Robert Rodriguez, Elizabeth Avellan, Rick Schwartz
Roteiro: Robert Rodriguez & Álvaro Rodriguez
Trilha sonora: Chingon
2010 - EUA - 105 minutos - Ação