quarta-feira, 20 de abril de 2011

Blood Diamond (Diamante de sangue)

O filme é muito político, então vou falar abertamente de opiniões políticas neste post. Vou ser agressivo e pegar pesado, e qualquer discussão que o leitor queira começar será muito bem-vinda.

Sobre o roteiro: Este filme joga na cara algo que todo mundo devia saber, se fosse interessante para as grandes corporações divulgar ou deixar saber. Nos países subdesenvolvidos, o caos, a guerra, a violência e a completa ausência de humanidade são instaurados e mantidos apenas para suportar um sistema de consumismo desenfreado demandado por malditos ricaços inconseqüentes que acham que só porque têm dinheiro, podem comprar o que quiserem com ele, e só é da conta deles como eles gastam seu dinheiro. Errado! Nesta história, temos um vislumbre do que acontece há anos e anos na África, no Oriente Médio, no Sul da Ásia, e em menor escala, até mesmo aqui no Brasil.
O filme mostra a história de um mercenário ambicioso, um pescador humilde, e uma jornalista idealista (o que deve ser ficção, nunca vi jornalista idealista de verdade, mas enfim...) envolvidos um na vida do outro, numa relação de dependência mútua para atingirem seus objetivos, respectivamente: usar um precioso diamante como passaporte para fora dessa vida pra sempre, resgatar sua família e proporcionar a ela uma vida melhor, e denunciar as atrocidades que o comércio dos diamantes causam para a sociedade dos países produtores. Só que no meio do caos total, onde vidas humanas não valem absolutamente nada, conseguir o que querem parece impossível.

O que esse filme tem de especial? Os 3 atores do cartaz aí em cima atuam muito bem, o filme é bem feito, cenas de ação que realmente prendem totalmente a atenção, suspense bem elaborado, e tudo mais, mas o verdadeiro destaque do filme não é técnico, mas ideológico. A reflexão que o filme nos convida a fazer é muito, muito ampla. E eu vou tentar explanar alguns dos principais pontos abordados e denunciados.
Escassez: Diamantes só são caros porque são raros. E são ainda mais caros porque as grandes empresas do ramo o tornam ainda mais raro do que ele realmente é. Por isso guardam estoques de diamantes escondidos para manter os preços altos. Suspendem a produção para manter os preços altos. Queimam diamantes para manter os preços altos. Fecham minas recém-descobertas ricas em diamantes Oferta e procura. Tudo para manter o produto escasso. Tudo. E essa insanidade não está restrita a diamantes. O mesmo é feito com petróleo, com ouro, com tudo que existe de valor. Não nos esqueçamos do importante episódio da história do Brasil de quando no acordo de Taubaté o governo comprou café dos latifundiários para estocar e deixar estragar, só para manter os preços altos. É uma idéia que funciona. Mas é doentia demais para ser tolerada. Recomendo aqui que assistam aos documentários da série Zeitgeist, principalmente ao Zeitgeist: Addendum, onde essas e outras idéias são mais debatidas.
Financiamento de guerras civis: Cruelmente simples. Venda armas para os rebeldes. Deixe os rebeldes aterrorizarem o governo. Depois, venda armas para o governo também. Deixe o governo ver como você os ajudou a controlar os rebeldes. E aproveite da generosidade do governo permitindo que você explore os recursos naturais e serviços públicos da população, enquanto você se prepara para repetir o ciclo. Se você tiver uma mente tão perversa e psicótica a ponto de ver uma boa idéia nesse esquema, por favor, se mate antes. Mas isso acontece o tempo todo. Recomendo aqui assistir ao Lord of War, com Nicholas Cage.
Jornalismo: Até onde uma matéria vale a pena? Apesar do filme trazer uma jornalista engajada, e tudo mais, todos sabemos que esse perfil é tão raro que quase não se conhece a existência. Basta lembrar da famosa foto de um urubu esperando uma criança morrer de fome para devorá-la, e enquanto isso, o bonitão do fotógrafo só tirando a foto para ganhar seu Pulitzer, e ganhou. O sacana deixou de salvar uma vida pra ganhar um prêmio de jornalismo. Sei que generalizar é um erro, mas vou precisar que outro jornalista faça algo muito bom pra sociedade pra que eu respeite a categoria de novo. O que acontece nessas guerras, como recentemente vemos na Líbia, no Egito, no mundo árabe em geral, não é muito diferente, eles estão lá atrapalhando quem quer ajudar, só pra conseguir um furo de reportagem.
O filme tem outros pontos muito interessantes e dramáticos também para serem analisados e discutidos, mas o post já está ficando muito grande. Destaque especial para uma das primeiras cenas: "Manga curta ou manga longa?!" Crueldade insana.

Quando e com quem ver esse filme? O filme não poupa o espectador de muita violência, crueldade, atrocidade, etc. Mas nesse caso os frescos de plantão devem ser fortes para assistir as cenas mais pesadas e refletirem: Devo comprar o diamante que minha mulher quer, mesmo sabendo que ele custou a mão de uma pessoa? Ou ainda mais além, o que a maioria esmagadora das pessoas que assistiram ao filme jamais refletirão: Vale a pena gastar gasolina pra ir pra balada toda noite, mesmo sabendo que ela foi feita com petróleo que custa milhares de vidas no Oriente Médio? E mais: Devo comprar todo tipo de supérfluo Made in China por um valor que certamente não corresponde ao custo real, mesmo sabendo que pra pagar tão barato pelo produto, ele provavelmente foi feito por crianças em condições de escravidão, ganhando por mês o que eu gasto numa noitada num bar? E essa reflexão tem que ser estimulada em todo mundo, pra que não mais suportemos esse sistema cruel e absurdo de consumismo que impera hoje. Precisamos assumir as conseqüências do nosso modo de vida.

Ficha técnica:


Elenco: Leonardo DiCaprio - Danny Archer
Djimon Hounsou - Solomon Vandy
Jennifer Connelly - Maddy Bowen
Direção: Edward Zwick
Produção: Marshall Herskovitz, Graham King, Paula Weinstein & Edward Zwick
Roteiro: Charles Leavitt & C. Gaby Mitchell
Trilha sonora: James Newton Howard
2006 - EUA - 138 minutos - Drama / Ação

2 comentários:

Victor Coelho disse...

Nota 9.9. Só não é perfeito por defender uma jornalista que não tinha nada que estar lá.

Anônimo disse...

concordo com toda sua observação do filme!