Acho que é meio redundante falar que um filme que ganhou o Oscar de melhor roteiro original, tem um roteiro muito original. Mas... tem mesmo. Nem todos os filmes que ganham esse prêmio têm um roteiro de fato tão criativo. Pelo menos, não é todo ano que se vê um filme tão criativo ser laureado com tal distinção.
Sobre o roteiro: Bom... não posso ficar falando muito sobre o que acontece, pois estragaria a surpresa, o que seria um crime se tratando deste filme. Então vou falar sobre ele como se estivesse conversando com mais duas pessoas: uma que já viu, e outra que não o viu, mas está participando da conversa (via de regra, já é mais ou menos pensando nisso que costumo escrever, mas sabendo disso pode ficar mais fácil me entender).
Quando o filme começa dizendo que era baseado em fatos reais, de imediato eu questionei isso, e fui meio que assistindo e procurando um buraco na história, algo que não poderia ser suposto ou contado por alguém que realmente poderia testemunhar os fatos depois de ocorridos. Com efeito, uma ou outra cena realmente exigem boa vontade de aceitar os fatos conforme são expostos, mas de um modo geral, realmente houve uma preocupação dos roteiristas de criar uma história que poderia ter sido contada pelos sobreviventes e pelas pessoas que poderiam testemunhar, e o restante poderia ser suposto, ou teorizado. Enfim, soa fantasioso, mas não inverossímil.
A premissa também é interessantíssima - um homem precisando de dinheiro contrata dois bandidos para simular o seqüestro de sua própria esposa para que seu sogro pague o resgate (de forma que ele fique com uma parte do resgate, o que resolveria seu problema), mas as coisas vão saindo cada vez mais do controle de qualquer um - e por si só já garante grandes possibilidades, que os irmãos Coen aproveitam muito bem.
O que esse filme tem de especial? Tem muitos filmes dos mesmos diretores que já estão na minha lista de filmes pra ver tem muito tempo, como por exemplo The Ladykillers, The Big Lebowski, O Brother, Where Art Thou? e Intolerable Cruelty. Mas devo me confessar decepcionado com o único filme deles que eu já tinha visto antes, Burn After Reading, que, apesar de um filme até legalzinho, dava pra ter sido bem melhor, tanto pela premissa quanto pelo elenco. Mas Fargo lhes garante o voto de confiança pra que eu dê moral pra eles de novo e queira ver o restante da filmografia.
Voltando ao filme, as atuações são muito boas, com destaque para o sueco Peter Stormare, para o sempre carismático e excêntrico Steve Buscemi, e para a vencedora do Oscar (por este filme) Frances McDormand, que apesar de trabalhar muito bem, não é a melhor atriz em cena, eu acho. A direção também merece destaque. A fotografia foi bem trabalhada, a edição é legal, tem umas tomadas inusitadas, como a cena que a câmera vai acompanhando o asfalto, entre algumas outras. Um filmão em todos os aspectos.
Quando e com quem ver esse filme? Tem umas duas cenas que, apesar de não mostrarem nada, deixam bem claro que se trata do bom e velho in-out-in-out (como diria Alex em The Clockwork Orange). Tem um personagem que leva um tiro na boca (e sobrevive) e uma cena em que uma pessoa vai sendo colocada aos pedaços numa máquina de triturar, entre outras cenas bem violentas. Com isso em mente, avalie se o filme serve pra você e com quem ele não vai ser pesado demais. Quanto ao roteiro, é ótimo para quem, como eu, aprecia um ótimo humor-negro. Esse filme é um achado. Me surpreende que eu nunca tinha ouvido falar nele até agora.
Ficha técnica:
Elenco: William H. Macy - Jerry Lundegaard
Frances McDormand - Marge Gunderson
Steve Buscemi: - Carl Showalter
Peter Stormare - Gaear Grimsrud
Harve Presnell - Wade Gustafson
Direção: Joel e Ethan Coen
Produção: Ethan Coen & Joel Coen
Roteiro: Joel Coen & Ethan Coen
Trilha sonora: Carter Burwell
1996 - EUA - 96 minutos - Policial
Um comentário:
O problema de por uma nota é comparar os filmes pela nota. Mas esse aqui merece algo como 9.5, ou até mesmo um 10 também.
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