quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Watchmen

Algumas vezes eu acho que eu disse que alguns filmes merecem ser vistos mais de uma vez. E já devo ter dito que alguns filmes empolgam tanto que angaria fãs. Estamos diante de um exemplo.

Antes de falar sobre ele, uma ressalva, que também já devo ter feito em algum momento por aqui: Quando um filme é feito baseado em outra obra, temos que fazer uma experiência de alteridade. Uma coisa é o filme, outra é a obra original. Com exceção de Outsiders e Batman - The Dark Knight, acho que nunca vi nenhum filme depois de ver a obra inspiradora (livro, gibi, jogos, etc.) que eu tenha ficado satisfeito plenamente. A coisa mais clichê que existe sobre cinema é falar que o filme não está à altura do original. Eu não conheço as HQ's dos Watchmen, e minhas impressões não são sugestionadas pelos quadrinhos.

Sobre o roteiro: Uma das coisas mais legais do roteiro é que ele vai em vem no tempo. A trama se desenrola em 1985, apesar de várias cenas do passado. Não é uma característica inovadora, mas é uma característica que eu quase sempre gosto. Outra coisa que pode soar como spoiler, mas sem dar nome aos bois não o é, é em relação ao tradicional maniqueísmo de Hollywood. O vilão, no fundo, não é um vilão, e os mocinhos, no fim das contas, não estão exatamente com a razão.

Mas o principal do roteiro são os vários questionamentos que ele levanta. Apesar de ter acabado de assistir o filme de novo, vou ter dificuldades para lembrar de todos. Primeiramente, a guerra fria. Quais seus reais motivos? O que acontecia e o que parecia que acontecia durante o período? Outra coisa interessante: No universo de HQ's da Marvel existe uma saga chamada "Guerra Civil", cujo tema é o direito a uma segunda identidade dos super-heróis, que, ao usarem um alter-ego, estariam acima da lei. Então o governo proíbe as duplas identidades, de forma que ou os heróis revelavam suas identidades, ou param de "atuar". E isso divide os heróis. Neste filme, temos algo parecido, embora quase todos optem por se aposentarem. Mais uma coisa legal do filme, é que os personagens tem seus lados e seus problemas humanos também. Mas muito mais bem desenvolvidos do que qualquer Peter Parker. Os personagens aqui tem problemas como todo mundo: alcoolismo, câncer, preconceitos, desvios morais e desvios de caráter, etc. Várias características que os tornam muito mais realistas e dignos de identificação com o público. Filosoficamente, o filme praticamente destaca um personagem para concentrar no tema: Dr. Manhattan. Claro que não só com ele, mas quase todas as vezes em que ele aparece, é pra prestar atenção e refletir sobre cada palavra. Há também uma pesada carga de dilemas morais, principalmente em relação ao fim do filme. Nem sempre o certo parece certo, e nem sempre o que parece errado realmente é errado. Enfim, é um filme muito carregado, pra ser digerido aos poucos. Apesar de mais comprido que o padrão norte-americano, é um filme que compensa cada segundo e ainda deixa a sensação que poderia ter gastado mais tempo pra render a trama.

O que esse filme tem de especial? Praticamente tudo. Um roteiro que mesmo baseado em HQ's, foge muito do padrão. Uma direção espetacular, capaz de fazer uma superprodução, captar o estilo do diretor, e mesmo assim não se sobrepôr a trama, sem roubar a atenção daquilo que é o motivo de tudo. Além disso, um elenco que, mesmo sem um único ator nem mais-ou-menos conhecido, dá um show de interpretação. Destaque para Jackie Earle Haley como Rorscharch (impossível não associá-lo ao V for Vendetta - outro filme genial) ao realizar uma interpretação extremamente expressiva mesmo usando uma máscara quase o tempo todo que não revela nada sobre sua face. Jeffrey Dean Morgan como Comediante também merece amplo destaque, fazendo um perfeito cretino inescrupuloso, mas que é um dos "mocinhos". Ambos dignos de Oscar. Malin Äkerman e Carla Gugino atuam juntas (como filha e mãe, respectivamente), a exemplo de Elektra Luxx. E é claro, uma excelentemente bem selecionada trilha sonora, que se revela muito adequada para o filme, com direito a "The times they are a changing", "The sound of silence", "Hallellujah", "All along the watchtower", entre outras ótimas músicas. Um filme merecedor de elogios em qualquer aspecto analisado.

Quando e com quem ver esse filme? É um filme com muitas cenas pesadas de violência, muitos palavrões, e um sexozinho aqui e alí. Tire os conservadores da sala e tudo bem. Mas vale lembrar que é um filme muito inteligente e complexo. Os lerdões, ou os que só querem saber de ação também podem ser gentilmente convidados a sair, ou a assistir outra coisa. Não é pra qualquer um, mas deve ser um dos 10 melhores filmes que já assisti. Definitivamente, não é só mais um filme de super-heróis.

Ficha técnica

Elenco: Malin Äkerman - Laurie Juspeczyk / Espectral II
Jackie Earle Haley - Walter Kovacs / Rorschach
Patrick Wilson - Daniel Dreiberg / Coruja II
Billy Crudup - Dr. Jon Osterman / Doutor Manhattan
Matthew Goode - Adrian Veidt / Ozymandias
Stephen McHattie - Hollis Mason / Coruja
Carla Gugino - Sally Jupiter / Espectral
Matt Frewer - Edgar Jacobi / Moloch
Jon Voight - Richard Nixon
Direção: Zack Snyder
Produção: Lawrence Gordon
Roteiro: Roberto Orci & Alex Kurtzman (Baseado na obra de Alan Moore e Dave Gibbons)
Trilha sonora: Tyler Bates
2009 - EUA - 162 minutos - Ação / Aventura / Drama / Ficção científica

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

The Weather Man (O sol de cada manhã)

De modo geral, dramas são filmes que nos apresentam um roteiro de fundo realista, buscando trazer do espectador aquela típica sensação de identificação, e a partir de então, trazer algum tipo de desconstrução, reflexão, ou algo assim.. Uma proposta ousada, e que nem sempre dá certo. Felizmente, estamos diante de um bom exemplo do gênero.

Sobre o roteiro: Em breve sinopse, Nicholas Cage interpreta um apresentador da previsão do tempo em uma TV local. Ganha consideravelmente bem, mas não consegue obter o respeito de seu pai, que é jornalista (argh!) e já ganhou um Pulitzer, o que o dá a certeza de ser melhor do que quase todos, e nada sobre a carreira do filho o impressiona. O protagonista também tem problemas com sua ex-mulher, que para ele ainda não está totalmente perdida, e procura criar uma ligação maior com sua filha, vítima de bullying na escola, e seu filho, preso com maconha e sendo assediado pelo assistente social que o acompanha. Mais um retrato do cidadão médio americano, e mais uma desconstrução do american way of life. E muito bem feita, por sinal. Não vejo muito problema em revelar mais sobre a trama, pois o importante no filme não é saber o que acontece, mas sim como acontece. David Spritz está todos os dias feliz na TV, o que não corresponde nem de longe a sua vida pessoal, que ele vê vazia, e passa o filme inteiro buscando sentido nela.

O que este filme tem de especial? Embora o filme traga dois atores de muito peso (Nicholas Cage e Michael Caine), nenhum deles tem uma atuação lá digna de destaque. É um filme muito bom, mas não graças as atuações do elenco, embora justiça seja feita, não é muito exigido. O texto dá o tom. Eu gosto da forma com que o roteiro dá características e personalidades bem construídas aos personagens. Claro que o filme é carregado de clichês e passa longe de ser original, mas contar uma história vista e revista exaustivamente no cinema e ainda assim fazer algo interessante é notável.

Uma característica interessante do filme é usar a idéia de flashes de idéias. Embora em proporção infinitamente menor, tal característica me lembrou Requiem for a Dream. Não sei muito bem explicar o que é essa característica, mas para quem viu o filme, estou falando daquilo que acontece, por exemplo, na cena da pata de bode.

Fora isso, aspectos técnicos interessantes. Direção seguindo um rumo que sai um bocado do padrão comercial, fotografia digna de nota, e a sempre notável trilha de Hans Zimmer.

Quando e com quem assistir a esse filme? Não recomendo assistir com crianças. Não tem nada que eu julgaria inadequado para elas, mas elas vão achar o filme chato. Fora isso, não é um filme difícil, não vejo restrições possíveis, mas também evite pessoas muito vazias, é um filme mais crítico e mais ácido. Um filme inteligente, que se não for compreendido (não que seja muito difícil), causa tédio.

Ficha técnica

Elenco: Nicholas Cage - David Spritz
Michael Caine - Robert Spritz
Hope Davis - Norren
Direção: Gore Verbinski
Produção:  Todd Black, Jason Blumenthal & Steve Tisch
Roteiro: Steve Conrad
Trilha sonora: Hans Zimmer
2005 - EUA - 101 minutos - Drama

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Rain Man


Rain Man é um daqueles filmes feitos pra gente assistir e ficar se sentindo um babaca depois que ele acaba. Não é exatamente uma obra original, mas o tema é sempre recorrente, e vale refletir sobre isso toda vez que o tema nos é proposto: Doença mental, e relacionamento com doentes mentais.

Sobre o roteiro: Nem todo mundo convive com doentes mentais, nem todo mundo tem uma história próxima para contar (eu por exemplo, o caso mais próximo é o filho de uma prima que vejo uma vez por ano e olhe lá), mas para outras pessoas, principalmente para quem tem um caso na família, este roteiro pode ser especificamente mais dramático, justamente pela possível identificação que pode ocorrer em relação ao que acontece no filme.

Tom Cruise vive aqui o papel de um típico Playboy americano do anos 80, com sua vida fútil, seu carro conversível e seus óculos escuros da moda. O típico sonho americano.  E ao perder seu pai (com quem não tinha o mais invejável dos relacionamentos), descobre no testamento dele que possui um irmão, muitos anos mais velho, que possui um elevado nível de autismo, e que está internado em uma boa clínica psiquiátrica. Porém, a considerável fortuna da família foi herdada por este irmão.  Com interesse apenas no dinheiro, o jovem passa a tentar de todas as formas assumir a tutela de seu desafortunado irmão, a fim de administrar assim o seu novo patrimônio. Os médicos percebem suas intenções nada nobres, e se recusam a permitir isso. Dessa forma, ele “rapta” seu irmão (que não entende nada do que está acontecendo), para que possa tentar de alguma forma pegar a herança para si.

E aí o filme começa a ficar realmente interessante, pois uma vez na companhia de seu problemático irmão, ele começa a passar por situações que nunca imaginaria passar, e vai vivendo experiências cada vez mais extremas, o que vai mexendo muito com o seu caráter e seus valores. Daí por diante, o filme ganha contornos que, embora não inovem em nada, são sempre instrutivos.  Se torna mais um daqueles filmes pra categoria de “lição de vida”, “de dar um nó na garganta”, e tudo mais. 23 anos depois do seu lançamento, creio que já mereça o status de um “clássico”, e certamente uma referência, tanto no seu delicado tema, quanto no gênero. Além de um marco na carreira de dois brilhantes atores de Hollywood, Cruise e Dustin Hoffman. Um filme inesquecível.

O que esse filme tem de especial? Uma excelente atuação de Tom Cruise, mas eu creio que seja a melhor atuação de Dustin Hoffman que eu me lembro. Interpretar um doente mental é sempre difícil, e fazê-lo de forma convincente é sempre um mérito singular. Brad Pitt em 12 monkeys e Jack Nicholson (embora o filme não deixe bem claro se ele só fingia) em One flew over the cuckoo’s nest são atuações igualmente marcantes em personagens de características semelhantes. Para quem gostou de algum destes filmes, recomendo os outros dois. Os aspectos técnicos não deixam a desejar, fazem jus a absurda qualidade de seu elenco, roteiro e direção. Excelente fotografia (tem alguma coisa nos filmes dos anos 80 que faz com que quase todos eles tenham uma fotografia bem parecida uns com os outros, consequentemente muito boa e característica do período), trilha sonora, e tudo mais. Destaque para as cenas das crises, como a do aeroporto, e a clássica cena da banheira com água quente (“Água quente queima o bebê! Água quente queima o bebê!”). Vale lembrar que o filme foi laureado com os Oscar de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro e melhor ator (Hoffman).

Quando e com quem assistir a esse filme? Dramas são filmes que requerem algum compromisso, um pouco mais de atenção.  E este é um filme que vale a pena assistir. Seja sensível ao escolher uma companhia que possa ter alguma identificação com o roteiro, e tudo bem. Não tem cenas pesadas, mas não é um filme leve.

Ficha técnica

Elenco: Dustin Hofman - Raymond Rabbitt
Tom Cruise - Charlie Rabbitt
Valeria Golino - Susanna
Direção: Barry Levinson
Produção: Mark Johnson
Roteiro: Ronald Bass & Barry Morrow
Trilha sonora: Hans Zimmer
1988 - EUA - 133 minutos - Drama

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

The Three Musketeers (Os Três Mosqueteiros) (2011)

Não assisti a nenhuma outra versão desse filme, e nunca li o livro. Minha opinião sobre o filme, neste caso, é livre de qualquer influência das outras obras.

Três fatores principais me levaram a querer ver este filme. 1º: Eu sempre quis ver a história que é um dos maiores clássicos da literatura mundial. 2º: Eu sempre quis ver um filme 3D. 3º: Eu sempre vou querer ver um filme que tenha Christoph Waltz.

Sobre o roteiro: Existe um recurso que foi bem interessante em alguns filmes dos últimos 10 a 15 anos, que é pegar um roteiro que se passa alguns séculos atrás e encher de aparatos tecnológicos dentro das capacidades teóricas do período. Ficou legal em Wild Wild West (que era de comédia), The League of Extraordinary Gentlemen, e mais recentemente Sherlock Holmes, só para ficar em alguns exemplos. Porém, com esse crescente número de filmes explorando tão exaustivamente esse recurso, acontece algo peculiar: A idéia de causar a sensação de algo inusitado, ao mostrar tecnologias além do tempo da época em questão, fica clichê, e deixa de ser inusitada. Assim, passa a ser simplesmente absurda demais pra ser aceita. E o excesso de cenas de ação estilo Jet Li também cansa. Tudo bem que são os melhores mosqueteiros da França, mas derrotar guardas bem treinados aos montes, com um ou dois golpes certeiros em cada, lutando contra 40 soldados, e passar metade do filme duelando contra um único espadachim, já evoca aos bobos filmes de artes marciais e suas lutas coreografadas sem graça. Uma vez feitas essas reclamações, voltemos ao roteiro.

Indiscutível que a história é um clássico, e merece tal status. Um ou outro momento da história soam como algo que não sairia da ficção, mas de modo geral, é uma trama complexa e bem-amarrada. Não há como falar mais sem ser spoiler, pois (pelo menos para mim que não conhecia nada dessa história) o filme já começa com um fato revelador demais. A única coisa que deixo aqui é que a forma com que o filme termina, deve haver uma continuação com potencial para ser ainda melhor que o primeiro.

O que este filme tem de especial?  O filme conta com tudo que uma superprodução arrasa-quarteirão tem direito. Ótimo elenco, efeitos especiais primorosos, versão 3D bem interessante (embora eu não tenha achado nada que justificasse o efeito. É bem legal, mas não tem nada no filme que peça pelo efeito), grande trilha sonora e tudo mais. Destaco as atuações dos protagonistas, que são atores de menor peso, mas muito bons de serviço, especialmente Matthew Macfadyen. Milla Jovovich é um espetáculo à parte, e Christoph Waltz, embora sub-aproveitado e pouco explorado como o Cardeal de Richelieu, sempre excelente. Guardo uma boa expectativa para o que ele deve fazer em uma continuação. Orlando Bloom é um grande ator, mas ficou meio canastrão pra mim como vilão. Eu esperava uma atuação melhor dele.

A trilha sonora também é muito legal. Lembrar muito a trilha de Pirates of the Caribbean é, na minha opinião, um elogio, visto que esta é uma das melhores que já vi. Senti que, dada a grandiosidade da produção, ficou faltando um tema musical mais marcante, como no filme citado anteriormente, e outros clássicos como Back to the Future, Star Wars e Edward Scissorhands, por exemplo, mas não faz mal não.

Quando e com quem assistir a esse filme? Fica a sensação que esse filme foi completamente voltado para o público mais jovem, mais preocupado com o visual, efeitos especiais, piadas curtas, romances bobos, e tudo mais, mas menos exigente com complexidade. Então, recomendo o filme para estes. Nos meus poucos 23 anos, me senti velho demais para o estilo. Porém, não é entediante. É divertido e frenético em vários momentos. Merece ser assistido, mas sem pressa, não é um filme que veio para ser um marco do cinema. O filme também é bem light. Sem sangue (o que fica mal, já que morre muita gente, e as espadas continuam limpinhas) sem sexo (o que fica mal, pois sexo nunca é demais, ainda mais com Milla Jovovich em cena), sem críticas (apenas leves insinuações que precisam ser interpretadas por paranóicos para soarem como tal), enfim, um produto de Hollywood, para consumo de massa. É um bom produto, mas ainda um produto.

Ficha técnica

Elenco: Logan Lerman - D'Artagnan
Matthew Macfadyen - Athos
Ray Stevenson - Porthos
Luke Evans - Aramis
Milla Jovovich - Milady de Winter
Christoph Waltz - Cardeal de Richelieu
Orlando Bloom - Duque de Buckingham
Mads Mikkelsen - Conde de Rochefort
Juno Temple - Rainha Ana
Freddie Fox - Rei Luís XIII
Gabriella Wilde - Constance Bonacieux
James Corden - Planchet
Direção: Paul W.S. Anderson
Produção: Paul W.S. Anderson, Jeremy Bolt, Robert Kulzer, Samuel Hadida, Scott Rudin & Stephen Margolis
Roteiro: Andrew Davies & Alex Litvak (baseado na obra de Alexander Dumas)
Trilha sonora: Paul Haslinger
2011 - EUA / Alemanha / França / Inglaterra - 110 minutos - Aventura

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Thor

Na pressa de se fazer logo um filme dos Vingadores, se está fazendo uma enxurrada de filmes de heróis do universo Marvel. Isso poderia ser uma coisa legal, mas parece que colocaram tudo numa linha de produção, e a criatividade ficou em segundo plano. Então, começaram a importar recursos de outros filmes, de outros gêneros, e fizeram uma salada de elementos, onde o personagem-título acaba saindo mais como mais um elemento do que como temática. Nessa leva, saiu Thor, um filme recheado de altos e baixos.

Sobre o roteiro: Começou mal. Toda a interessante mitologia nórdica envolvendo Odin, Thor, entre outras coisas de Asgard foi muito sub-explorada. Tá legal, ia ser realmente difícil contextualizar o espectador sem que isso tomasse um enorme tempo do filme. Eu assisti sabendo que isso dificilmente seria bem-feito, mas dei um voto de confiança. Não fui correspondido. Mas enfim, segue um Thor mais-ou-menos como ele é nos gibis, impetuoso, audacioso, inteligente, arrogante, etc. Em alguns momentos isso soa bem, em outros soa bem forçado, mas de modo geral, funciona. Infelizmente, uma interessante característica ficou de fora nas telonas: o refinadíssimo vocabulário, com uma gramática digna de Pasquale. Pode ser preciosismo da minha parte, mas vejo isso como uma falha tão grave quanto fazer um mestre Yoda que fala normalmente, sem sua peculiar construção de frases.

Então, surge uma premissa boba, mas eficiente para o cinema, para que Thor seja banido para Midgard, a Terra. Aqui rola algo imperdoável. Thor aparece no planeta, mas se comporta como viajantes no tempo de filmes de comédia da Sessão da Tarde. Estranha tudo, acha que está em casa, continua do mesmíssimo jeito que seria em Asgard. Aqui o roteiro perde uma excelente oportunidade de fazer uma remissão de culpa e humildade do deus do trovão, cheia de dramaticidade, e recorre forçar situações cômicas. Nem todas dão certo, e acabam soando demasiadamente forçadas. A cena do copo quebrado na lanchonete não tem perdão. Mas vai lá, o Mjölir cai como se fosse uma Excalibur, depois ganha status de OVNI, e o resto é spoiler. Paralelo a isso, vai se desenrolando a traição de Loki. Não vou nem comentar o que acontece com Odin, pra não estragar o que o leitor pode não ter visto ainda, mas demanda muita condescendência para com o roteiro.

Bom, o que vinha cheio de furos e tentativas de elementos errados na hora errada começa a ganhar credibilidade quando o foco se volta para Loki. Pouco a comentar sobre o roteiro daqui em diante pra não ser ainda mais spoiler do que jamais fui neste blog, cujo objetivo não é só falar dos filmes para quem já os viu. Mas ele amadurece um bocado. Vai ser injusto eu só falar dos elementos ruins do filme, dizer que ele tem pontos positivos, mas não os apontar, mas... é exatamente isso que vou fazer. O que o filme tem de bom não pode ser contado pra preservar o interesse de quem ainda o verá. Termino dizendo que os roteiristas precisavam pensar numa forma mais convincente de fazer o romance (que era completamente dispensável, mas uma vez feito, que ao menos não saísse de um romance feito por algum pré-adolescente) e de fazer o compromisso de Thor com a S.H.I.E.L.D., que soou deveras artificial.

O que este filme tem de especial? Apesar de um roteiro bem melhorável, mesmo para os padrões do cinema de Los Angeles, os elementos técnicos o salvam. Anthony Hopkins não rouba a cena, mas faz um Odin muito bom, o desconhecido Chris Hemsworth interpreta bem as características do herói, e a bela Jaimie Alexander, embora num papel bem coadjuvante como Sif, rouba o posto de Natalie Portman como a musa do filme. Sei que não é unanimidade, mas este que vos escreve pensa assim. Os efeitos especiais são muito bons, como já se havia de esperar de um filme com este orçamento. Destaco as cenas da ponte bifröst, qualquer cena com os gigantes de gelo, e os convincentes movimentos do Aniquilador.

Quando e com quem assistir a esse filme? Devo confessar que conheço pouco das histórias do alter-ego de Donald Blake, mas o filme ignora muitos aspectos do que eu sabia à respeito dele. Como isso é quase uma regra nos filmes adaptados de gibis, não surpreende. Surpreenderia a fidelidade, mas a proposta não é agradar aos leitores, e sim agradar ao grande público, que é quem compra ingressos para ver o filme, e pronto. Neste sentido, se ignorarmos as HQ's, Thor é um bom filme de entretenimento juvenil. Violência, só a habitual de filmes deste gênero. Sexo, inexistente. Como entretenimento, dá pra assistir sem compromisso com qualquer um.


Ficha técnica

Elenco: Chris Hemsworth - Thor

Natalie Portman - Jane Foster
Tom Hiddleston - Loki
Anthony Hopkins - Odin
Stellan Skarsgård - Erik Selvig
Idris Elba - Heimdall
Ray Stevenson - Volstagg
Tadanobu Asano - Hogun
Joshua Dallas - Fandral
Jaimie Alexander - Sif
Rene Russo - Frigga
Clark Gregg - Agente Phil Coulson
Samuel L. Jackson - Nick Fury
Direção: Kenneth Branagh
Produção: Kevin Feige
Roteiro: J. Michael Straczynski, Mark Protosevich, Ashley Edward Miller, Zack Stentz & Don Payne
Trilha sonora: Patrick Doyle
2011 - EUA - 114 minutos - Aventura

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Too big to fail (Grande demais para quebrar)

Tem pinta de documentário pra quem vê a sinopse, ou qualquer comentário sobre o filme, mas é um filme mesmo. Claro, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Pra quem nunca ouviu falar disso, este longa retrata alguns momentos que pessoas poderosas passaram durante a grande crise financeira do segundo semestre de 2008, nos EUA, que acabou gerando ecos no resto do mundo, e ainda vem os suas consequências.


Sobre o roteiro: A história nos leva a ver como alguns personagens importantes para o panorama global do período tivesse sido como foi. Com mais enfâse no Secretário do Tesouro do governo Bush, e no CEO do Lehman Brothers, à época o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, e que veio a quebrar. O roteiro pressupõe que o expectador já está antenado e informado do que gerou a situação calamitante que o sistema financeiro enfrentava, embora faça uma rápida leitura dinâmica nos fatos e traga uma versão enxutíssima em poucos segundos para contextualizar o público. Uma vez feito isso, a trama se debruça nos pontos que levaram o Lehman Brothers à bancarrota, apesar dos esforços para que isso não acontecesse. Porém, quando se acreditava que isso era inevitável, o governo simplesmente o deixou afundar de vez, para tentar, assim, salvar outros bancos que corriam o mesmo risco. O que os espertões não pararam para pensar, porém, é que, quebrando um dos maiores bancos do mundo, fatores secundários passam a ter uma relevância MUITO maior. A confiança dos investidores é severamente abalada, ao ver que o governo não garante que os bancos são investimentos seguros, e estes param de investir. O cidadão comum começa a sacar dinheiro. As empresas não tem com o que pagar seus funcionários. A bola de neve vai crescendo de uma vez, os problemas vão causando um efeito dominó de proporções galáticas, e todo o sistema financeiro fica por um fio, pronto para ruir comoum castelo de cartas ao vento.

Mas lamentavelmente, alguém tem uma idéia para uma possível solução: Dar aos principais bancos restantes, além de uma formidável soma de dólares de dinheiro público, poderes semi-divinos sobre a economia. Retiram quase todas as regulamentações em nome de uma melhora no cenário. Há quem diga que essa solução foi apontada na falta de qualquer outra, mas... convenhamos: O sistema já está falido há muito tempo. Só estamos percebendo uma tragédia anunciada agora, que não tem mais como se sustentar. O sistema financeiro já quebrou, e os superpoderes que o tesouro americano atribuiu aos bancos servirão apenas para adiar o inevitável (e arduamente desejado) fim do sistema vigente, mas com o custo de que quanto mais tempo levar para isso acontecer, piores serão as consequências.

O que esse filme tem de especial? Primeiramente, a coragem da HBO de o fazer. O filme enfia uma adaga na ferida das falhas brutais cometidas pela economia controlada (ou cujo controle fora delegado) pelos EUA. Os grandes estúdios de Hollywood jamais passariam perto de um projeto tão audacioso e contundente. Ademais, o filme, embora com um linguajar muito técnico e despejando muita informação de uma vez, é capaz de contextualizar o público mais desinformado sobre o que levou a esta crise. Quem não sabe nada sobre isso, pode usar o filme para começar a entender um pouco de como as coisas funcionam. Claro, não poderia deixar de recomendar aqui que se assistam aos 3 documentários Zeitgeist, dos quais vivo falando por aqui, e que, embora não sejam diretamente sobre economia, envolvem muito o tema.
Do ponto de vista técnico, grandes atuações especialmente de William Hurt, Paul Giamatti e de James Woods, mas não limitadas a eles. O filme traz um grande elenco, tanto de nomes quanto de qualidade.

Quando e com quem assistir a esse filme? Não é um documentário, mas recomendo assistir como se fosse. É um filme extremamente denso, carregado de informação, e difícil de assistir, mas é praticamente obrigatório para quem acha que esse tema é importante. E acho que todos deveriam achar importante.

Ficha técnica

Elenco: William Hurt - Henry Paulson
James Woods - Richard Fuld
Paul Giamatti - Ben Bernanke
Topher Grace - Jim Wilkinson
Edward Asner - Waren Buffett
Billy Crudup - Timothy Geithner
Bill Pullman - Jamie Dimon
Matthew Modine - John Thain
Direção: Curtis Hanson
Produção: Ezra Swerdlow
Roteiro: Peter Gould (baseado no livro de Andrew Ross Sorkin)
Trilha sonora: Marcelo Zarvos
2011 - EUA - 98 minutos - Drama

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Fica comigo esta noite

Comédia romântica não é sinal de filme ruim. Tá, é quase sinônimo, mas existem exceções. Como exemplo disso, cito 50 first dates, Mutiplicity, Hitch e Fica comigo esta noite. Um filme curto, sem muita enrolação, divertido (não necessariamente hilário) que serve muito bem a sua proposta.

Sobre o roteiro: Não diria que é imprevisível depois que a idéia é apresentada, mas a premissa original do roteiro é algo criativa e original. Não vou ficar falando muito pra não gerar spoiler, mas pra quem já viu o filme, compartilho aqui minha preferência por algumas cenas, como as tentativas de atropelamento, os diálogos do casamento e do velório com o padre... aliás, os diálogos são um dos principais atrativos da trama. São inteligentes, e muito acima da qualidade média do cinema nacional. Pra quem acha que este é um elemento que pesa muito para definir se o filme merece ou não ser visto, fica minha opinião de que este traz um texto excelente mesmo. Enfim, um roteiro do qual não dá pra se falar muito para não estragar a diversão de quem ainda pretende ver, mas é muito bom.

O que este filme tem de especial? Como eu disse anteriormente, o texto é muito bom, muito bem trabalhado e costurado, para não deixar furos num tema que deixa muito a se explorar. Algumas citações são memoráveis, como "Quem sabe a vida após a morte não é exatamente como cada um pensa que ela é?", além dos já citados diálogos do casamento e do funeral, dão o que pensar, quando não se tem nada em que pensar.

Destaco também as atuações de Alinne Morais (sua linda!), em sua estréia no cinema, e principalmente do ótimo Vladimir Brichta. Gustavo Falcão também faz um personagem muito peculiar, embora pouco apareça. A trilha sonora, quase que apenas repetindo diversos arranjos da música homônima, também merece algum destaque.

Quando e com quem assistir a esse filme? É uma comédia romântica, logo, ideal para assistir a dois. Há uma ou outra cena um pouco mais picantes, mas nada que não seja recorrente em novelas globais. de modo geral é um filme bem leve, e a cena mais violenta é uma mulher jogando água gelada em seu marido. Padrão "Sessão da Tarde" de censura.

Ficha técnica

Elenco: Vladimir Brichta - Edu
Alinne Morais - Laura
Laura Cardoso - Dona Mariana
Milton Gonçalves - Padre
Clarice Falcão - Dona Mariana (jovem)
Gustavo Falcão - Fantasma do Coração de Pedra
Alessandra Maestrini - Sensitiva
Direção: João Falcão
Produção: Diler Trindade
Roteiro: João Falcão, Adriana Falcão e Tatiana Maciel
Trilha sonora: Robertinho do Recife
2006 - Brasil - 75 minutos - Comédia romântica

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Passion Play

Ser fã de Nightwish me custou caro. Tudo bem, eu já fui assistir esse filme tendo plena consciência de que não existia relação nenhuma com o disco "Dark Passion Play", mas, levado pela curiosidade do título, e do elenco, resolvi me arriscar. E assisti a esse desperdício. Não desperdício de tempo, mas de possibilidades. Sabe quando você vê um filme, mas sabe que o filme poderia ser bem melhor se tivessem feito isso e aquilo de uma forma diferente?!

Sobre o roteiro: Um decadente trompetista acaba indo parar num circo estilo "freak show" no meio do deserto do México (como ele vai parar lá? Até agora não entendi, este é só o primeiro furo de roteiro). Então, se encanta particularmente por uma mulher que tem asas. Se seguem alguns clichês, eles fogem do circo, e, de repente, eles estão fugindo do dono do circo e de um mafioso que quer matar nosso desafortunado músico. Como não poderia deixar de acontecer neste romance hollywoodiano, fatalmente a jovem alada, que cresceu a vida toda sendo isolada e protegida do "mundo fora do circo", passa a ser a mina de ouro que pode livrar seu "salvador" do seu credor. Mas, como também só num filme aconteceria, a linda Megan Fox se deixa seduzir pelo gatão do Mickey Rourke. Até aí nada demais. O problema é que mais de 20 anos se passaram desde que ele era realmente um galã ao lado de Kim Bassinger em 9 1/2 Weeks. E aí as asas deixam de ser relevantes para tirar a verossimilhança do roteiro. Notem que até aqui, embora supostamente carregado de spoiler, não falei nada que não fosse extremamente previsível. Daqui pra frente, se segue um filme água com açucar, chato, bem ao estilo de Water for elephants. Só que o roteirista criou uma personagem interessante. Não é todo dia, nem na ficção e nem na vida real, que se vê uma mulher com asas (lembra daquela história de que mulher que não dá, voa? Não se preocupem, ela tem asas, mas não consegue voar. Adivinhem por quê?!), e simplesmente usar uma personagem assim num filme com uma história que já foi rodada 500 mil vezes é dar 50 litros e chutar o balde. Ah, as várias cenas sem explicação, sem origem ou sentido, enchem também.

O que esse filme tem de especial? Primeiramente, Megan Fox (sua linda!). Não é boa atriz, continua não sendo, mas é sempre um colírio para os olhos. Bill Murray e Mickey Rourke trabalham bem, mas não o suficiente para salvar o fraco roteiro. Destaque para Bill Murray como vilão. Não que seja uma atuação destacada, mas é curioso vê-lo como um Tony Montana (Personagem de Al Pacino em Scarface), matando geral e botando banca. Fora isso, um convincente par de asas na morena, uma boa trilha sonora, e só. Nada genial, nada que mereça destaque.

Quando e com quem assistir a esse filme? É filme pra mulher. Não se deixem enganar pela Megan Fox personificando um anjo. Entendam que quando digo aqui que é um filme pra mulher, estou me referindo ao estereótipo de filme que normalmente, uma mulher dentro da média gosta, por seus elementos típicos das fantasias do universo feminino. Pra ver com a namorada é uma boa alternativa, pois não exige muito compromisso com a tela.

Ficha técnica:


Elenco: Mickey Rourke - Nate Poole

Kelly Lynch - Harriet
Bill Murray - Happy Shannon
Megan Fox - Lily
Direção: Mitch Glazer
Produção: Daniel Dubiecki e Megan Ellison
Roteiro: Mitch Glazer
Trilha sonora: Dickon Hinchliffe
2010 - EUA - 94 minutos - Romance



terça-feira, 6 de setembro de 2011

The Count of Monte Cristo (O conde de Monte Cristo) (2002)

Provavelmente esta é a melhor história de vingança já escrita pelo homem. Uma das obras literárias mais famosas do mundo, e também uma das mais adaptadas para o cinema. Porém, na minha geração, essa é a versão mais famosa. Não li o livro, nem vi os outros filmes, o que pode comprometer as minhas impressões sobre até onde eu gostei do filme ou da história mesmo.

Sobre o roteiro: Como a história já é conhecida, vou resumir sem muito spoiler: Um homem inocente é acusado de ser o autor de um assassinato que não cometeu, e é enviado a uma das piores prisões de sua época, onde vive confinado numa cela solitária, sofrendo torturas dos sádicos carcereiros. Na prisão, conhece um padre, que também é prisioneiro, que ao tentar fugir, acaba parando em sua cela. Este se torna seu mentor, lhe ensina muita coisa, inclusive lhe dizendo como se tornar muito rico e poderoso caso consiga sair da prisão. Ao conseguir fugir de lá, consegue prosperar e se tornar o poderoso Conde de Monte Cristo. E então, começa a sua vingança contra os responsáveis pelas injustiças de que fora vítima.

Não sei se dá pra realmente chamar a história de original, mas fato é que a forma como os fatos se desenrolam são surpreendentes e inteligentes. E é aí que eu realmente não sei diferenciar até onde é mérito do autor da obra, e onde começa o mérito dos roteiristas que fizeram a adaptação. A certeza que fica é que o filme traz um roteiro que cativa a atenção até o fim, e traz ótimos momentos, piadas, diálogos marcantes, e cenas épicas. Filme monstro.

O que esse filme tem de especial? Volto a dizer que na minha humilde opinião, o melhor critério para atestar a qualidade do filme é se o roteiro é o principal atrativo. Existem filmes bons com roteiro ruim, mas que funcionam bem com a idéia, e filmes ruins com boas histórias, mas mal-contadas. E por mais que este filme tenha atuações brilhantes (principalmente de Jim Caviezel como protagonista, e para o coadjuvante Luis Guzmán), tenha um figurino de época soberbo, grande fotografia, cenários incríveis, e tudo mais que se pode querer para um grande filme, o seu roteiro ainda é o prato principal. Um filme TOP em vários aspectos.

Quando e com quem assistir esse filme? Concordo que já tem um tempo considerável desde a última vez que assisti esse filme, mas não me vem a memória nenhuma cena censurável. Algumas poucas cenas podem ser consideradas violentas, principalmente os duelos de espadas, mas não tem nada que fuja do padrão do cinema americano. A história tem alguma profundidade. Não é nenhum Star Wars, mas alguma atenção se faz necessária para sacar alguns pontos.

Ficha técnica

Elenco: Jim Caviezel - Edmond Dantes
Guy Pearce - Fernand Mondego
Richard Harris - Padre Abade Farias
James Frain - J.F. Villefort
Dagmara Dominczyk - Mercedes
Henry Cavill - Albert Mondego
Luis Guzmán - Jacopo
Direção: Kevin Reynolds
Produção: Gary Barber, Roger Birnbaum & Jonathan Glickman
Roteiro: Alexandre Dumas (autor do livro), adaptado por Jay Wolpert
Trilha sonora: Edward Shearmur
2002 - EUA/Inglaterra/Irlanda - 131 minutos - Drama

domingo, 28 de agosto de 2011

Fried Green Tomatoes (Tomates Verdes Fritos)

Mais um daqueles filmes sobre o valor de uma amizade.

Sobre o roteiro: Uma mulher à beira da menopausa vai frequentemente a um hospital visitar uma tia rabugenta que nunca a deixa entrar no quarto. Enquanto espera seu marido, que realmente a visita, ela conhece uma senhora carente de atenção e que, dia após dia, vai lhe contando capítulos de uma história ocorrida há muitos anos atrás, no começo do século, numa conservadora cidade do sul dos EUA. Nesse momento, o filme se divide em duas narrativas: a história da velha, e a história da mulher, que está em plena crise da meia-idade, lamentando a estagnação do seu casamento e da sua própria vida. Mas a primeira das duas histórias é que realmente é o foco do filme.

Uma mulher, após a trágica morte do seu namorado prematuramente, acaba num casamento arranjado com um homem que se revela violento, agressivo e alcoólatra, o perfeito retrato do que as feministas costumam atribuir a todos os homens. E então, sua melhor amiga a ajuda a sair fora desse destrutivo relacionamento, fugindo deste vilão. Revelar mais que isso seria spoiler.

Enfim, um bonito filme sobre a história dessas duas amigas, que enfrentam algumas severas adversidades, e os reflexos da história na vida da mulher que ouve essa história. Muito bonito, mas feminista demais pro meu gosto.

O que esse filme tem de especial? É um filme recheado de clichês, mas que não soa repetitivo, ou chato. O roteiro foi bem escrito nesse sentido, para tornar uma história relativamente previsível em algo mais interessante. Esteticamente também é um belo filme, com bela fotografia e grande figurino de época. Não é um filme imperdível, mas é um bom filme, mais ou menos dentro da minha expectativa mesmo, um clássico pelo tempo (o filme tem 20 anos) mas que não figura nas conversas entre cinéfilos falando dos mais inesquecíveis filmes de suas vidas. Destaco apenas o ponto negativo de que os 4 principais personagems masculinos fazem papéis lamentáveis: Um é adorado por todas as mulheres, mas por ser praticamente um príncipe encantado de contos-de-fadas, por fazer tudo o que as mulheres desejam. O segundo é o oposto: o cretino beberrão já descrito anteriormente. O terceiro é um detetive que parece não ter mais uma própria vida, e vive em função de encontrar algo para incriminar as protagonistas, numa perseguição próxima da paranóia. E paralelo a isso, o marido da mulher que ouve a história, um típico Homer Simpson, que passa a vida só trabalhando, assistindo TV e tomando cerveja, reclamando e ignorando a esposa. E tudo isso é feito muito sem compromisso e superficialmente. Pra mim, não compromete o filme, mas não precisava ser tão desagradável.

Quando e com quem assistir esse filme? Definitivamente é um filme feito para mulheres. Longe de ser um Twilight, mas induscutivelmente direcionado para o público feminino, recheado de situações típicas do universo delas. Não que seja um problema. Se nós temos Machete e Star Wars, talvez seja justo que elas tenham conteúdo mais direcionado pra elas. Lamento apenas o direcionamento do filme. Enfim, filme pra ver com mulher. Não que tenha problema pra um homem ver, mas não é exatamente uma recomendação minha não. As meninas vão gostar bastante.

Ficha técnica

Elenco: Kathy Bates - Evelyn Couch
Mary Stuart Masterson - Idgie Threadgoode
Mary-Louise Parker - Ruth Jamison
Jessica Tandy - Ninny Threadgoode
Cicely Tyson - Sipsey
Chris O'Donnell - Buddy Threadgoode
Stan Shaw - George
Gailard Sartain - Ed Couch
Tim Scott - Smokey Lonesome
Gary Basaraba - Grady Kilgore
Direção: Jon Avnet
Produção: Jon Avnet & Norman Lear
Roteiro: Fannie Flagg (autora do livro)
Trilha sonora: Thomas Newman
1991 - EUA - 136 minutos - Drama

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Inglourious Basterds (Bastardos Inglórios)

Eu não queria falar de um filme tão monstro enquanto este blog não tivesse mais visibilidade, mas começo a perceber o óbvio: Preciso falar de filmes de sucesso para atrair visitantes, então, lá vai um dos meus filmes favoritos, que pra mim é o melhor filme do Tarantino.

Sobre o roteiro: Bastardos Inglórios nos conta uma estória na história da segunda guerra mundial. O filme tinha tudo pra que eu o odiasse: Russos ignorados e boicotados, alemães maus, sem-coração, frios e sanguinários sedentos por sangue judeu (sem que uma explicação para isso seja apresentada), ingleses incapazes de lidar com as proporções da guerra, e, é claro, os americanos, heróis, os salvadores da lavoura, capazes de rapidamente solucionar o problema numa frágil operação de espionagem, e estão à serviço do povo judeu. Vou evitar qualquer comentário sobre o que penso dessa coisa toda, e voltar ao roteiro.

Então, um grupo de elite do exército americano, liderados pelo tenente judeu Aldo "the Apache" Raine, é enviado numa missão para matar muitos soldados alemães e matar a alta cúpula do governo, que estará reunida na França de Vichy, para a première do filme Stolz der Nation, que conta os feitos heróicos de um soldado alemão. Paralelo a isso, Shoshanna Dreyfus, sobrevivente de um ataque de uma tropa alemã em busca de judeus fugitivos, trama uma vingança ao descobrir que o tal evento vai acontecer em seu próprio cinema, e ainda por cima, contará com a presença de Hitler e Goebbels. Com estes dois planos em andamento, o astuto Coronel Hans Landa começa a perceber que algo está acontecendo. O que se segue é uma série de dessencontros que seriam trágicos, se não fossem cômicos. Pra quem gosta do estilo desse diretor, é um prato cheio. Tiroteios, matança, sanguinolência, temperados com épicos diálogos que se tornarão tão clássicos quanto os de The Godfather, Gone with the wind e 2001: A space Odyssey. Coisa linda.

O que esse filme tem de especial? Tudo. Cada segundo desse filme é um deleite para os amantes da sétima arte. A fotografia é deslumbrante, o estilo inconfundível da direção do Tarantino é muito notório, trilha sonora em harmonia com as imagens, um roteiro muito acima de genial, textos e diálogos perfeitamente bem construídos, e atuações ainda mais perfeitas. Brad Pitt está na melhor atuação dele que já vi (o que não é pouco, o coloco na minha lista como um dos meus 5 atores favoritos), Eli Roth tem uma cara de sádico que dá muito crédito a seu personagem, Michael Fassbender protagoniza uma das melhores cenas da década (a cena do bar), e, na minha humilde opinião, Christoph Waltz faz o melhor vilão da história do cinema. Sério. Somando o texto, o personagem e a atuação dele, verão que não é exagero. Estou comparando-o aqui com verdadeiros monstros, como Heath Ledger - Coringa em Batman - The Dark Knight, com Anthony Hopkins - Hannibal Lecter na triologia Hannibal, com Hugo Weaving - Agente Smith na triologia The Matrix, entre outros vilões memoráveis. Mas pra mim, Hans Landa foi ainda mais mau. Não atoa, no Oscar de 2010 ele foi o único prêmio em que não teve absolutamente nenhum suspense em relação a quem levaria como "Melhor ator coadjuvante". Foi aí que virei fã.

Voltando ao filme, tentando não fazer spoiler, vou sugerir a quem ainda não viu uma atenção especial a primeira cena (Landa na casa dos LaPadite), na já citada cena do bar, e principalmente na cena da recepção do cinema, entre Landa e o grupo de Raine, além do surpreendente diálogo da negociação. Enfim, os diálogos são o que esse filme tem de melhor. Valeu a pena esperar mais de 10 anos pelo mais ambicioso projeto de Tarantino, e até dá pra ignorar todas as atrocidades políticas que esse roteiro cria. Bom demais!

Quando e com quem assistir a esse filme? Tirem de perto todos os frescos que não querem ver sangue na tela, porque esse filme tem mais sangue que programa do Datena. Com a devida licença poética, é um filme pra quem tem colhões, ainda que só metaforicamente falando. Dedique atenção ao filme, pois o roteiro é complexo e surpreendente. E use o cérebro: É ficção! É só cinema!

Ficha técnica

Elenco: Brad Pitt - Aldo Raine
Christoph Waltz - Hans Landa
Mélanie Laurent - Shoshanna Dreyfus
Eli Roth - Donny Donowitz
Michael Fassbender - Archie Hicox
Diane Kruger - Bridget von Hammersmark
Daniel Brühl - Fredrik Zoller
Mike Myers - General Ed Fenech
Samuel L. Jackson - Narrador
Direção: Quentin Tarantino
Produção: Lawrence Bender
Roteiro: Quentin Tarantino
Trilha sonora: Ennio Morricone (não-composta para o filme)
2009 - EUA / Alemanha - 153 minutos - Guerra

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Bedtime Stories (Um faz de conta que acontece)

Adam Sandler já é sacado. Todo mundo sabe que vai ser um filme de sucesso, que vai ser aclamado pelo público médio, mas que não vai ser um filme realmente genial. Embora eu goste um bocado dos filmes em que ele atua, os realmente acima da média são poucos. Eu citaria aqui: Click, Little Nick, 50 first dates, Billy Madison, Spanglish e Reign over me (os dois últimos na verdade são dramas). Ok, pensando melhor não são poucos. Mas enfim, dando uma olhada no currículo dele, o número de filmes que ele faz por ano é bem maior que a média de outros comediantes do seu nível, como Rob Schneider, Jim Carrey, Chris Rock e o não-tão-bom-assim Ben Stiller. De um número maior, em teoria, é mais fácil tirar mais bons filmes.

Mas enfim, este aqui é um filme que representa bem a carreira dele: ótimos momentos, mas, de um modo geral, nada extraordinário.

Sobre o roteiro: Saindo um pouquinho do que ele está acostumado a fazer, esta comédia é um pouco mais direcionado para o público infantil. E parte de uma premissa interessante também: Um funcionário de um suntuoso hotel precisa cuidar de seus dois sobrinhos para "quebrar um galho" para sua irmã. E na hora de dormir, começa a contar loucas histórias de ninar, protagonizadas por ele mesmo, bem ao estilo Homer Simpson. Como as crianças não concordam, elas fazem várias interferências nas histórias. E no dia seguinte, o que aconteceu na história acaba - de uma forma adaptada para a realidade, é claro - acontecendo na vida real. E ao perceber isso, ele começa a tentar manipular as histórias para seus próprios interesses. Aí a história se desenrola, parte para um ou outro clichê, e tudo mais. Desse jeito fica parecendo Spoiler, mas o que eu escrevi aqui, em outras palavras, é basicamente a sinopse do filme mesmo. Como são as comédias, a graça não está em saber o que vai acontecer, e sim em como vai acontecer. Nisso, Adam Sandler é muito bom.

O que este filme tem de especial? Pessoalmente, gostei da premissa, e a achei original. O filme tem bons momentos, uma história boba, mas bem tramada, traz muitos clichês, mas não chega a exagerar, e se mantêm interessante até o fim. Eu dispensaria as lições de moral que os filmes dele costumam trazer, mas também não compromete. O restante do elenco é só coadjuvante mesmo, e toda a responsabilidade do filme recai sobre o astro, para o bem ou para o mal. Não gosto muito disso, prefiro ver o céu cheio de estrelas brilhando em harmonia do que ver só um sol brilhando sozinho e em demasia, porém, Hollywood funciona assim. O filme funciona bem, mas ano que vem eu vou me esquecer dele. É muito bom, mas não tem aquele "algo mais" dos filmes dele que destaquei no início do texto. Ah, como não poderia deixar de ser, tem uma participação bem legal do Rob Schneider, que sempre atua em parceria.

Quando e com quem assistir a esse filme? Comédia do Adam Sandler, filme da Disney, é aquele padrão: Filme pra qualquer um. Pra qualquer gênero, idade, nível socio-cultural, etc. E é puro entretenimento, sem nenhuma grande pretensão (além do seu dinheiro, é claro).

Ficha técnica:

Elenco: Adam Sandler - Skeeter Bronson
Keri Russell - Jill
Guy Pearce - Kendall
Russell Brand - Mickey
Richard Griffiths - Barry Nottingham
Teresa Palmer - Violet Nottingham
Lucy Lawless - Aspen
Courteney Cox - Wendy Bronson
Direção: Adam Shankman
Produção: Adam Sandler, Andrew Gunn & Jack Giarraputo
Roteiro: Matt Lopez & Tim Herlihy
Trilha sonora: Rupert Gregson-Williams
2008 - EUA - 99 minutos - Comédia

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Catwoman (Mulher-Gato)

É raro encontrarmos um filme que seja unanimidade. Mas normalmente são unanimidades negativas. Eu nunca vi ninguém falar bem desse filme. Na verdade, todo mundo me falava era muito mal sobre ele. E então, caí na bobagem de assistir a essa porcaria. Que porcaria mais horrorosa...

Sobre o roteiro: Uma origem inventada do nada, superpoderes, uma irresistível vontade de comer ração para gatos, e deu vontade de desistir do filme. O filme exagera o tempo todo de todos os clichês possíveis, usa uma história lamentável, e faz de um filme recheado de grana, uma produção B trash. Mas não é um trash ao estilo Grindhouse, Machete, ou From Dusk Till Dawn, que são filmes trash que satirizam o gênero sem se tornar um filme de comédia. Aqui é um lixão mesmo. Insisto: Não vale a pena. Não é só que o filme ignora completamente a história e a personagem já existente. É que o filme substitui tudo o que a mulher-gato dos gibis era por uma personagem pra meninas adolescentes fãs de Twilight acharem ruim. E depois que o filme termina, fica a raiva de ter perdido 1 hora e 44 minutos da vida assistindo a isso. Fica aqui o meu relato como tentativa de poupar o tempo dos leitores deste humilde blog.

O que esse filme tem de especial? O filme consegue elencar Halle Berry, Sharon Stone e Lambert Wilson, todos bons atores, e fazer um filme que dá vergonha alheia em quem assiste. E nem os efeitos especiais decentes se fazem suficientes para sequer citar um ponto positivo no filme. É simplesmente um filme que mereceu mesmo ser execrado pela crítica.

Quando e com quem assistir a esse filme? Não assista a esse filme. Não vale a pena nem pra rir do quão ridículo ele é, porque simplesmente não tem graça nenhuma. Nem o figurino que deveria ser sexy faz o filme merecer uma espiada. Quer assistir a um filme de super-herói tosco pra rir? Assista Kick-Ass, ou The Green Hornet. Pulem esse aqui.

Ficha técnica

Elenco: Halle Berry - Patience Phillips / Mulher-Gato
Benjamin Bratt - Tom Lone
Sharon Stone - Laurel Hedare
Lambert Wilson - George Hedare
Frances Conroy - Ophelia Powers / Catlady
Direção: Pitof
Produção: Denise Di Novi & Edward McDonnell
Roteiro: Theresa Rebeck, John Brancato & Michael Ferris
Trilha sonora: Klaus Badelt
2004 - EUA - 104 minutos - Aventura

Fracture (Um crime de mestre)

Anthony Hopkens em mais um filme de baixo orçamento. Mas mantendo seu padrão, mais um filme muito bom. Já me esforcei, mas ainda não vi um filme realmente ruim com ele. Tudo bem, Bad Company tem um roteiro pavorosamente horrível, mas as atuações dele e do Chris Rock ajudam bastante para tornar o filme como "passável", no que considero como o pior filme dele. Mas aqui, temos um filme realmente interessante.


Sobre o roteiro: É o seguinte: Um velho descobre que sua jovem esposa o está traindo com um policial. Como vingança, lhe dá um tiro na cabeça, e confessa o crime. Vai a julgamento, mas dispensa um advogado, se tornando ele mesmo o responsável por sua defesa no julgamento. De olho nesse julgamento superfácil, um jovem promotor pega o caso. Porém, várias coisas acontecem durante as investigações, tornando um caso praticamente resolvido em completamente aberto, e não aparece nenhuma prova conclusiva que possa condenar aquele que todos parecem ter certeza de ser o culpado. Então, seguem-se algumas revelações sobre a história. Um roteiro interessantíssimo, mas continuar falando sobre o mesmo seria spoiler. É um filme surpreendente, e que não o faz recorrendo a clichês exaustivamente já explorados. Recomendo.

O que esse filme tem de especial? Acho que em algum lugar desse blog eu disse que Anthony Hopkins é meu ator favorito. Filmes como Hearts in Atlantis, Meet Joe Black, Legends of the Fall, Amistad e, obviamente, a triologia Hannibal só reforçam o currículo deste brilhante galês. Este não é seu melhor filme, mas ainda assim, ele está muito bem. Porém, não gostei da atuação do restante do elenco. Ryan Gosling não empolga, e os demais atores todos tem participações muito curtas para poderem ser avaliados. Claro, não chegam a comprometer o filme, mas creio que o roteiro merecia uma produção melhor, com um elenco melhor, etc. Os demais aspectos do filme também não empolgam. Então, provavelmente seria um filme apenas mediano, não fosse o ótimo roteiro, e, claro, Hopkins.

Quando e com quem ver esse filme? Pra quem curte direito, é uma ótima pedida. Mas também é um filme bem legal pra quem gosta dessa coisa de investigação, surpresas, revelações, etc. Fora um tiro na cabeça, não possui cenas de violência. Então, eu diria que não é um filme pra ser vetado para crianças, embora naturalmente a maioria delas ficaria entediada com o estilo. Mas apenas digo que não é um filme pra esperar as crianças saírem de perto pra assistir. É só começar a ver que naturalmente elas mesmo devem o fazer (pelo menos foi o que aconteceu quando eu assisti). Recomendo assistir o filme com atenção, pois o roteiro é cheio de detalhes que passam a ser relevantes no final. E vejam até o final.

Ficha técnica

Elenco: Ryan Gosling - Willy Beachum
Anthony Hopkins - Ted Crawford
Direção: Gregory Hoblit
Produção: Charles Weinstock
Roteiro: Glenn Gers & Daniel Pyne
Trilha sonora: Jeff e Mychael Danna
2007 - EUA / Alemanha - 113 minutos - Drama

sexta-feira, 29 de julho de 2011

The kids are all right (Minhas mães e meu pai)

Um filme do qual eu gostei bastante. Um monte de clichês manjados, mas dessa vez atribuidos a personagens não tão manjados assim.

Sobre o roteiro: A família americana feliz. Um casal de filhos espertos e saudáveis, e mães que se amam. Sim, mães. Devido a uma questão biológica, elas não poderiam ter filhos, e então optaram por uma inseminação artificial. Quando a filha mais velha, Joni, faz 18 anos, seu irmão mais novo, Laser, insiste que ela use seu direito legal de conhecer o pai biológico. E é justamente quando seu "pai" entra nas suas vidas que tudo começa a acontecer. Daí pra frente, realmente nada de novo em relação aos dramas de filmes sobre relacionamento familiar, tema bem recorrente no cinema. Inusitado mesmo é ver isso numa família menos convencional, o que torna tudo mais interessante para o espectador. Nada surpreendente, nada novo, mas a situação ganha uma nova roupagem, que transmite um ar novidade.

Além disso, embora eu não diria que o filme se trata de uma comédia (apesar de ser essa a categoria na qual o filme se considera enquadrado, e na qual foi categorizado em vários festivais), o filme carrega um certo ar de humor, pela normalidade que uma situação incomum se apresenta na tela. Uma piada aqui, uma cena inusitada alí, e o filme se torna mais leve.

O que esse filme tem de especial? Acredito que o trunfo do filme é mostrar como uma situação tão bizarra pode ser encarada com naturalidade, normalidade, e até mesmo flertar com a identificação do público com os temas tratados. É um filme superficial, não enfrenta preconceitos, não perde tempo tentando se justificar. Apenas se apresenta.

No aspecto técnico, as atuações dos três atores que levantam o interesse do público justificam a expectativa. Mark Rufallo no papel de um homem meio dissimulado, Julianne Moore como uma lésbica na crise da meia-idade, e Annette Bening como a lésbica-machão da relação. Todos muito convincentes. Os jovens Mia Wasikowska e Josh Hutcherson também mandam bem com seus papéis menos exigentes. Os garotos estão bem. De resto, nada a destacar, nem positivamente, nem negativamente.

Quando e com quem ver esse filme? Nem veja se não tiver uma cabeça aberta. E nem veja com quem não tem uma. Um filme sobre uma família criada por um casal de mulheres pode chocar facilmente. Veja com quem julgar adequado. Pessoalmente, não vejo problema nenhum em recomendar pra ninguém, mas sei que há quem vá me olhar torto por recomendá-lo. Bom, já está claro o que tem no filme, então...

Ficha técnica

Elenco: Julianne Moore - Jules
Annette Bening -  Nic
Mark Ruffalo - Paul
Mia Wasikowska - Joni
Josh Hutcherson - Laser
Direção: Lisa Cholodenko
Produção: Jeff Levy-Hinte, Gary Gilbert, Jordan Horowitz, Celine Rattray, Daniela Taplin Lundberg e Philippe Hellmann
Roteiro: Lisa Cholodenko & Stuart Blumberg
Trilha sonora: Carter Burwell
2010 - EUA - 107 minutos - Drama

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Yes Man (Sim Senhor)

Jim Carrey em mais um filme bonzinho. De mais ou menos para bom. Ele já teve seus melhores momentos, e embora eu ainda espere que ele volte um dia com uma comédia de rir alto, já tem um tempo que não o vejo em uma comédia do nível de seu início de estrelato. Pra mim ele é muito melhor fazendo drama do que comédia, mas enfim...

Sobre o roteiro: A premissa do filme é o suficiente para se fazer até mesmo um seriado, de tantas idéias possíveis baseada em um simples pressuposto: Dizer sim a qualquer coisa. Ou seja, um cara foi convencido a fazer a experiência de dizer sim a qualquer oportunidade que tiver na vida, e assim, poder experimentar uma mudançça, já que sua vida antes disso era monótona, principalmente devido a ele mesmo dizer não para as maiores banalidades de sua vida, e viver em funcão de seu trabalho e do ócio. O trabalho do roteirista então se resumiu a pegar algumas possibilidades engraçadas conectáveis, e então conectá-las. O principal problema é que o roteiro - embora parta de um ponto muito simples, mas muito original - resolve explorar algo que já foi explorado bilhões de vezes no cinema: Um relacionamento. E aí o filme vira quase uma comédia romântica. Não que seja ruim, mas quando se tem Jim Carrey, dá pra fazer muito, muito mais que isso. Então as características mais legais do canadense são desperdiçadas, pois qualquer ator bom, mas mais simplista, seria o suficiente para o papel. Mas beleza, foi com ele mesmo, e o filme é uma comédia leve e despretensiosa. E bom.

O que esse filme tem de especial? Talvez a proeza de colocar Jim Carrey em cena e o fazer não parecer ser ele mesmo. Mas, como já disse também, o filme parte de um tema algo original, e gera um roteiro que, embora poderia ser melhor, e seja o principal ponto negativo do filme, funciona. A atuação do elenco é boa também, nada a destacar, e... só. É uma comédia que não cansa, mas também não empolga. Não é filme pra dar gargalhada e nem pra ficar com raiva da escolha, mas pra rir com o canto da boca.

Quando e com quem ver esse filme? Filme light que daria pra ver numa boa com qualquer um, não fosse por apenas uma única cena: Quando se diz sim pra QUALQUER coisa, acho que já dá pra imaginar do que estou falando. Nada forte, apenas insinuante, mas pode ser o suficiente para constranger alguns conservadores mais moralistas chatos. Fiquem avisados.


Ficha técnica


Elenco: Jim Carrey - Carl Allen
Zooey Deschanel - Allison
Bradley Cooper - Peter
John Michael Higgins - Nick Lane
Rhys Darby - Norman
Danny Masterson - Rooney
Terence Stamp - Terrence Bundley
Direção: Peyton Reed
Produção: David Heyman & Richard D. Zanuck
Roteiro: Danny Wallace (autor do livro)
Trilha sonora: Lyle Workman, Mark Oliver Everett e They Might Be Giants
2008 - EUA - 104 minutos - Comédia

Winter's Bone (Inverno da Alma)

Sabe aquela história de que pobreza é coisa da América Latina, do Leste Europeu, da África, Oriente Médio, sul da Ásia e norte da Oceania? Surpresa! Existe pobreza e miséria nos EUA também! Isso mesmo! Aquele país superpotente imperialista podre de rico e de soberba, que gasta meio PIB com guerras completamente inúteis e dispensáveis, também tem problemas, meus caros. E é essa realidade que serve como cenário para este excelente e forte filme.

Sobre o roteiro: Ree é uma jovem de 17 anos, responsável pela mãe inválida mentalmente, e por seus dois irmãos consideravelmente mais novos. Ninguém sabe onde está seu pai, mas a polícia quer saber, afinal, se ele não aparecer em uma audiência daí a uma semana, o Estado vai lhes tomar a casa, bem oferecido como garantia da fiança de seu pai, um conhecido fabricante de speed (anfetaminas, droga lícita no Brasil, mas ilegal nos EUA e em grande parte do globo). Começa então uma epopéia da garota em busca de informações que a levem a seu pai. Vale lembrar que ela e sua família vivem numa das partes mais miseráveis dos EUA, onde existe escacez de comida, de conforto, de quase tudo, onde as pessoas vivem do que conseguem para viver, como caça, hortas, pesca, etc. Nesse ambiente, ainda mais no meio (literalmente) do país que supostamente é o melhor do mundo, cria nessas pessoas que vivem nessas condições um comportamento muito peculiar, e o mais pacato vizinho pode não ser flor que se cheire. E quando se está procurando por um traficante, os lugares e as pessoas que devem ser pesquisados não são necessariamente os mais agradáveis para uma garota que, embora seja muito fria e esperta, ainda é uma garota. A saga de Ree em busca de seu pai torna-se um retrato da parte dos EUA da qual eles não devem se orgulhar muito. E não é uma parte pequena. Então, pensem bem antes de sair nadando por Tijuana e se sujeitar a algumas das piores humilhações possíveis para entrar neste território, que pode se revelar ainda pior do que o lugar onde se encontram hoje.

Mas enfim, não é um roteiro anti-EUA (só eu que sou anti-EUA, e gosto de ver coisas assim e realçá-las - foi mal...), é um roteiraço, que é a principal atração do filme. E que leva a um fim surpreendente. Ou algo surpreendente, pelo menos.

O que esse filme tem de especial? Primeiramente, o filme joga na cara dos próprios norte-americanos algo que eles preferem ignorar: Seu próprio país vai mal. E a realidade aqui apresentada nada mais é do que o subproduto do que eles fazem para manter o "modo de vida americano". Achavam que era só fora dos EUA que os impactos seriam sentidos, mas dói na própria carne também. Não que se importem, mas pelo menos agora viram.

Tecnicamente, o filme também tem muitos méritos. Como disse anteriormente, um ótimo roteiro, que foge um pouquinho do drama-padrão de Hollywood, um grande elenco de desconhecidos, onde não tem um elo fraco - todos se saem muito bem, mesmo os de mais reduzida participação ou importância - principalmente a protagonista Jennifer Lawrence (que viria a se destacar como Mystique em X-Men: First Class). Fotografia digna de destaque, edição com uma cara de seriado caseiro (não no sentido pejorativo, uma coisa de estilo mesmo), e um cenário bucólico e deslumbrante. Um filme que transpira e transmite muito realismo.

Quando e com quem ver esse filme? Apesar do tema pesado, o filme não tem nenhuma cena de violência muito pesada não, fora uma ou outra insinuação de coisas mais pesadas. Não tem nenhuma cena de sexo ou nudez que eu me lembre, não tem um vocabulário pesado, enfim, politicamente correto, mas tematicamente agressivo. Muito, muito recomendado. Assista prestando atenção, pois é uma história que merece ser vista, e com companhia igualmente interessada. Não é o filme pra ver namorando.


Ficha técnica

Elenco: Jennifer Lawrence - Ree Dolly
John Hawkes - Teardrop
Lauren Sweetser - Gail
Garret Dillahunt - xerife Baskin
Dale Dickey - Merab
Direção: Debra Granik
Produção: Anne Rosellini & Alix Madigan
Roteiro: Debra Granik & Anne Rosellini (baseado no livro de Daniel Woodrell)
Trilha sonora: Dickon Hinchliffe
2010 - EUA - 100 minutos - Drama

terça-feira, 19 de julho de 2011

GoodFellas (Os bons companheiros)

Filmes sobre máfias. O tema já foi fartamente abordado, mas são poucos os que atingem o status de "clássico". Temos The Godfather, Scarface, The Untouchables e temos GoodFellas. Pode até terem outros, mas os que lembrei na hora são esses.

Sobre o roteiro: Já de cara dou moral pro diretor por fazer um filme com Robert DeNiro, Joe Pesci, e deixar o papel central para Ray Liotta. Como disse, um filme sobre máfia. Na verdade, um caso acontecido em uma máfia. A históra (baseada em fatos reais) de um cara que sempre quis entrar na máfia e no crime, e uma vez parte da organização, começa a crescer em status, respeito e ousadia. E o filme retrata os altos e baixos da sua carreira. Embora seja um roteiro muito interessante, este não é um filme a ser assistido para ver o desfecho da história, apesar de ser muito interessante e algo surpreendente. Mas é um filme que marca pelo caminho traçado para se chegar ao fim.

O que esse filme tem de especial? Tem um grande e complexo roteiro, mas que não é o principal ponto positivo. O texto é muito marcante também, com grandes diálogos que se tornaram clássicos, muitas sequências e cenas épicas, mas ainda fico com a sensação de que o destaque do filme é o elenco. As atuações de Robert DeNiro, Ray Liotta e Paul Sorvino são muito convincentes, mas Joe Pesci rouba a cena. O baixinho faz um dos mais cruéis, psicóticos e mal-humorados mafiosos da história da sétima arte. Um merecidíssimo Oscar de melhor ator coadjuvante.

Claro, um filme não pode ser dirigido pelo Scorcese e deixar os elementos técnicos em segundo plano. Vemos aqui muitas características que marcaram a obra do diretor, como os ácidos diálogos, a violência solta, e tudo mais. Um dos melhores trabalhos de Martin. Ah, e também vai um destaque para os extravagantes colarinhos ingleses que todo mundo parece usar no filme.

Quando e com quem assistir a esse filme? Com quem aprecia filmes do gênero: Mafiosos vistos como os protagonistas, cativando a simpatia do espectador, violência, crime organizado, e essas coisas muito legais de serem vistas apenas nos filmes. E dá pra dizer que é um filme relevante demais pra ser assistido como puro entretenimento, embora não seja um filme difícil.


Ficha técnica


Elenco: Ray Liotta - Henry Hill
Robert DeNiro - Jimmy Conway
Joe Pesci - Tommy DeVito
Paul Sorvino - Paul Cicero
Frank Sivero - Frankie Carbone
Direção: Martin Scorcese
Produção: Irwin Winkler
Roteiro: Nicholas Pileggi (autor do livro)
Trilha sonora: Christopher Brooks (músicas selecionadas para o filme, não compostas para o mesmo)
1990 - EUA - 146 minutos - Drama / Ação / Policial

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Water for Elephants (Água para Elefantes)

O que você tem ao colocar no mesmo filme o melhor ator surgido na última década em Hollywood, e o pior ator dos últimos 50 milênios da humanidade? Um filme mais ou menos. E para melhor ilustrar isso, temos também uma atriz mais ou menos para protagonizar o filme.

Sobre o roteiro: Baseado no livro homônimo, o contexto é a crise de 29, EUA quebrado, todo mundo desempregado, e tudo mais. Um estudante de veterinária vê sua vida ir pelo ralo durante sua prova final, e termina inexoravelmente num circo. Lá, convive com diferentes pessoas de diferentes comportamentos. Então vem o clichê do dono do circo ganancioso e inescrupuloso, e sua linda mulher, por quem obviamente o tal veterinário se apaixona. Daí pra frente se desenrola o triângulo amoroso já previsto na sinopse, de forma bem lugar-comum.

Enfim, o roteiro não traz absolutamente nenhuma surpresa, e se torna mais um romance água com açucar. Não que seja ruim, apenas não é nada novo. Só não acho que caiba dizer que filmes do gênero não precisam de novidades para serem bons. Para citar alguns poucos exemplos, Meet Joe Black, Legends of the fall, Somewhere in Time, If Only e Cold Mountain são filmes que fogem do clichê, tem um roteiro muito bem elaborado, criativo, surpreendente, e que ainda assim é capaz de emocionar o público. E aqui, temos um filme que é só "mais um na multidão". Claro que 95% das pessoas que assistiram/assistirão o filme são fãs da ridícula série Twilight, mas fora isso, o filme não teria nenhum outro motivo de destaque para o grande público. Exceto por...

O que esse filme tem de especial? Hans Landa, digo, Christoph Waltz. Já deixei bem claro que ele é pra mim a maior revelação dos últimos tempos do cinema, embora já esteja velhinho. E a cada atuação dele, ele merece um Oscar. Claro, sempre como vilão (o que até acredito que vá acontecer de novo no próximo filme sobre Os Três Mosqueteiros, que já o tem confirmado no elenco), mas me custa vir a memória alguém que tenha interpretado tão bem um vilão nas telonas. E mesmo nesse filme sem sal ele consegue um destaque óbvio. E, naturalmente, foi o único motivo pelo qual eu quis ver o filme. Reese Witherspoon continua como uma atriz que serve. Não é maravilhosamente linda, e nem talentosa, mas não é má atriz e embora não esteja enter as mais lindas de Hollywood, é um belo pedaço de mau caminho. E Pattinson continua muito, mas muito canastrão. Bem melhor do que em Twilight, é claro, mas saindo de "pior da história da humanidade" para apenas "péssimo", o que já é uma grande evolução. Nesse filme, ele até tem expressões faciais!

Além disso, o próprio roteiro vem recheado de mancadas, com mais uma paixão instantânea e injustificada, cenas sem conexão, e demais falhas que fazem o roteiro parecer ter sido feito as pressas. Fora isso, tecnicamente é um filme bem feito, mas também sem nada digno de destaque. Boa fotografia, cenário, figurino, etc, mas nada atípico.

Quando e com quem ver esse filme? Com fãs de Twilight, é claro. É filme pra assistir com a namorada (o com quem possa querer que venha a ser namorada, ou algo do gênero), mas é só mais um filme, que embora não seja ruim, definitivamente não vai para a lista de filmes imperdíveis, ou de filmes para ver de novo. E só tem uma elefanta no filme todo.

Ficha técnica:


Elenco: Reese Witherspoon - Marlena Rosenbluth
Robert Pattinson - Jacob Jankowski
Christoph Waltz - August Rosenbluth
Direção: Francis Lawrence
Produção: Kevin Halloran, Gil Netter, Erwin Stoff e Andrew R. Tennenbaum
Roteiro: Sara Gruen (autora do livro)
Trilha sonora: James Newton Howard
2011 - EUA - 120 minutos - Romance